Fórum discute mudanças climáticas e ambientais comparando Brasil e China

Edição de imagem
Mesa de abertura do Fórum Mudanças Ambientais Globais e as Mudanças Climáticas
Mesa de abertura do Fórum Mudanças Ambientais Globais e as Mudanças Climáticas

O Brasil e a China ocupam posições centrais nos debates sobre os impactos das ações humanas sobre o clima e a natureza, sendo essenciais mais estudos que permitam um diálogo entre essas duas nações emergentes na busca de soluções. Com o objetivo de disseminar pesquisas nessa área, foi realizado segunda-feira (13) o Fórum Mudanças Ambientais Globais e as Mudanças Climáticas, reunindo especialistas no auditório do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Unicamp.

Na abertura do evento, o físico Carlos Henrique de Brito Cruz, coordenador científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), fez um histórico a respeito das descobertas da ciência sobre as mudanças climáticas desde o século XIX e as contribuições brasileiras para esse debate. Brito, que também é professor da Unicamp, apontou o trabalho do francês Jean-Baptiste Fourier (1768-1830) como o primeiro a mostrar o papel dos gases da atmosfera para o aumento da temperatura da Terra.

Com base em estudos realizados ao longo dos séculos XIX e XX por cientistas como o irlandês John Tyndall (1820-1893), o sueco Svante Arrhenius (1859-1927) e o norte-americano Charles Keeling (1928-2005), a humanidade pôde compreender as consequências das ações humanas para a elevação da temperatura global nas últimas décadas, destacou Brito. Segundo ele, a maior dificuldade da comunidade internacional atualmente é definir como distribuir a responsabilidade sobre esses impactos entre os países e setores produtivos.

Durante o Fórum foram apresentados os resultados de uma pesquisa coordenada pela professora Leila da Costa Ferreira, do Nepam, que resultou na publicação do livro "O Desafio das Mudanças Climáticas: Os casos Brasil e China". Segundo a docente, organizadora do evento, a problemática ambiental é ampla, perpassa diversos campos do conhecimento e transcende a perspectiva nacional.

Ferreira alerta que o Brasil, desde 2012, está passando por "um grande retrocesso em relação às forças descarbonizantes", motivado pelas crises econômicas, social e ética do país. Em contrapartida, a China, "emissor terrível" de gases de efeito estufa, é um dos países que mais investe cientificamente em pesquisas e ações para reduzir as emissões, possuindo os maiores parques solar e eólico do mundo. De acordo com ela, o campo energético é fundamental para entender as mudanças e há muito interesse sobre esses países.

A China tem adotado distintas políticas climáticas nos âmbitos externo e interno. Dentro de casa implanta estratégias cada vez mais inovadoras, mas, em relação às ações internacionais, se coloca como um país em desenvolvimento, observou a pesquisadora Helena Margarido Moreira, docente da Universidade Anhembi Morumbi. Segundo ela, contudo, nos anos recentes o país vem se tornando um ator global. Com o novo governo norte-americano, que dentre outras coisas nega o aquecimento global, os chineses podem assumir uma posição cada vez maior de protagonista, defende Moreira.

Para a cientista social Fabiana Barbi, pós-doutoranda pelo Nepam, o perfil das emissões brasileiras de gases de efeito estufa se transformou nos últimos 25 anos. Apesar de haver uma participação mais intensa dos setores de agropecuária e energia, as mudanças de uso da terra, principalmente o desmatamento, continuam tendo um peso mais significativo. Já a China mantém o setor energético como maior emissor, mas tem conseguido diminuir o nível de crescimento dessas emissões. A pesquisadora ressalta que uma diferença entre os dois países é o envolvimento da população nessas questões, que é menor no Brasil.

As megacidades São Paulo e Pequim são focos de estudo para o pesquisador Alberto Urbinatti, doutorando em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP). "O problema é mais complicado do que imaginamos, e por isso há a urgência das políticas públicas.". Para ele, muita ciência e acordos feitos no cotidiano das cidades podem ser levados para outras esferas. Urbinatti destacou que São Paulo criou mais parques municipais como forma de redução de enchentes, foi pioneira e influenciou as mesas de negociação governamentais e internacionais.

Contando com apoio estatal por meio de financiamentos de bancos públicos, a China é o maior investidor de energia renovável, setor de alto valor agregável, fomentando a indústria e usando o mercado interno como alavanca para ficar competitivo no mercado internacional. O cientista social Luiz Enrique de Souza explica que, antes do governo de Michel Temer, as estratégias de mercado para o desenvolvimento das energias renováveis do Brasil e da China eram parecidas, mas que a exploração do pré-sal vai impactar a emissão de gases de efeito estufa.

O professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Marcelo Fetz trouxe para o debate os distintos pontos de vista sobre o clima dos povos brasileiro e chinês. Segundo ele, o estoque de conhecimento climático chinês é muito maior e mais variado, construído não só pela bagagem científica, mas também cultural. Já o brasileiro é voltado para o futuro, mais "tecnológico" e mais "catastrófico". Fetz, que é doutor em Sociologia pela Unicamp, defende que o objetivo é criar um consenso entre essas visões diferentes. "O diálogo é extremamente necessário. A dimensão política é tão importante quanto a científica para lidar com o clima".

O Fórum Mudanças Ambientais Globais e as Mudanças Climáticas foi realizado pelo Fórum Pensamento Estratégico (Penses), com o apoio do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp. O Penses é um espaço acadêmico, vinculado ao Gabinete do Reitor, responsável por promover discussões que contribuam para a formulação de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento da sociedade em todos seus aspectos.
 

 

Adriana Ferreira, coordenadora do Penses
Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp
Leila Ferreira, organizadora do Fórum Mudanças Ambientais Globais
Celia Futemma, professora do Nepam
Aline de Carvalho, coordenadora do Nepam
Imagem de capa
O físico Carlos Henrique de Brito Cruz, coordenador científico da Fapesp

twitter_icofacebook_ico

Atualidades

A honraria foi aprovada por unanimidade pelo plenário da Câmara Municipal de Campinas 

As instituições são avaliadas a partir de cinco critérios: qualidade do ensino, pesquisa científica, mercado de trabalho, inovação e internacionalização

O professor de Direito Internacional  da Unicamp Luís Renato Vedovato foi o convidado do videocast Analisa, uma produção da Secretaria Executiva de Comunicação

Cultura & Sociedade

O coral leva um repertório de música popular brasileira, com as canções da parceria Toquinho e Vinícius, e o samba paulista de Adoniran Barbosa

Para o pró-reitor, Fernando Coelho, a extensão deve ser entendida como “o braço político do ensino e da pesquisa”