Planejando um Futuro Sustentável

As duas graves crises que a gestão 2017-2021 teve de enfrentar – a das finanças internas, originada no quadriênio anterior, e a causada, em 2020, pela pandemia de covid-19 – não a impediram de manter um olhar atento para o futuro da Unicamp. Por meio de ações ousadas e pioneiras, a gestão projetou as bases para que os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) norteiem a expansão física, o funcionamento administrativo e as atividades acadêmicas da Universidade nas próximas décadas.

Neste contexto, cabe destacar as seguintes iniciativas, que serão detalhadas neste capítulo: a elaboração de um plano diretor para a ocupação e crescimento dos campi da Unicamp – o primeiro desde a fundação da Universidade, em 1966; a adoção de um novo modelo de gerenciamento energético que também beneficia o ensino e a pesquisa; e a estruturação, em Campinas, de um polo internacional de desenvolvimento sustentável por meio de parcerias firmadas com múltiplos atores.

Estas e outras iniciativas, somadas ao trabalho que já vinha sendo feito por órgãos como o Grupo Gestor Universidade Sustentável (GGUS) – incorporado à nova Diretoria Executiva de Planejamento Estratégico (DEPI) no início da quadriênio – contribuíram para o exitoso ingresso da Unicamp, em 2019, no UI GreenMetric World University Ranking, lista que aponta as universidades líderes em sustentabilidade no mundo com base em 69 indicadores, divididos em seis categorias: paisagem e infraestrutura, energia e mudança climática, resíduos, água, transporte, e ensino e pesquisa. A Unicamp ficou em 4º lugar entre 28 representantes brasileiras e em 80º na classificação geral, composta por 780 instituições. No ano seguinte, a Universidade conquistou a 3ª posição no Brasil, entre 38 participantes, e a 100ª no mundo, em um universo de 912 instituições.

Para além de realizar o levantamento inédito dos dados necessários para a entrada da Unicamp no Green Metric, a gestão incluiu a Universidade, em 2020, entre as signatárias da Global Climate Letter (Carta de Emergência Climática), documento por meio do qual instituições e redes de ensino superior de todo o mundo declararam reconhecer a necessidade de mudanças drásticas na sociedade para combater a emergência climática e ambiental provocada pela ação humana.

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Plano Diretor

O plano diretor da Unicamp foi concebido para balizar a ocupação e eventual expansão dos campi, estabelecendo princípios, diretrizes e normas de desenvolvimento territorial voltados à sustentabilidade. Seu objetivo é ordenar o crescimento da Universidade de modo que os novos projetos arquitetônicos e urbanísticos sejam planejados previamente e executados em conformidade com os padrões vigentes de acessibilidade, eficiência energética, ventilação e iluminação natural.

Chamado de Plano Diretor Integrado (PD-Integrado), o instrumento abrange seis áreas de planejamento relacionadas aos ODS: uso urbano e patrimônio; meio ambiente; infraestrutura; mobilidade e acessibilidade; integração social; e universidade e sociedade. Seus princípios seguem o preconizado pela International Sustainable Campus Network (ISCN) – rede internacional de universidades sustentáveis à qual a Unicamp renovou sua adesão em 2019, quatro anos depois de aderir à iniciativa.

A Coordenadoria de Georreferenciamento da DEPI contribuiu para a elaboração do plano diretor, assim como para outras numerosas ações de planejamento implementadas pela gestão, fornecendo informações e análises geográficas sobre as características ambientais e estruturais da Unicamp. O plano será acompanhado por meio de indicadores de sustentabilidade para instituições de ensino superior e atualizado periodicamente.

Mapa ambiental de vegetações

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Neste contexto, e prezando a responsabilidade no uso dos recursos que a Universidade recebe da sociedade, a gestão priorizou a conclusão de obras que haviam sido paralisadas por diferentes motivos, o que as tornava objeto de questionamentos por parte do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Até o fechamento deste relatório, dez obras remanescentes já haviam sido concluídas, cinco estavam em andamento e três, em processo de licitação. O cumprimento de normas de acessibilidade também foi priorizado, com a conclusão de cinco obras e o início de mais cinco. Além destas, outras 80 obras foram executadas integralmente no quadriênio. No total, foram investidos mais de R$ 27 milhões nas obras concluídas.

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Campus Sustentável

A gestão deu início em agosto de 2017 ao Projeto Campus Sustentável, financiado pela CPFL Energia com recursos provenientes dos Programas de Pesquisa e Desenvolvimento e de Eficiência Energética da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). A empresa direcionou R$ 9,5 milhões à iniciativa, voltada para a redução do consumo de energia no principal campus da Universidade, em Campinas, por meio de sua transformação em um “laboratório vivo” para o estudo e desenvolvimento de novas tecnologias.

O projeto compreendeu ações em diferentes frentes, tais como, entre outros exemplos, a contratação de energia no mercado livre; a substituição de lâmpadas e aparelhos antigos de ar-condicionado por modelos modernos e mais eficientes; e a instalação de um sistema de monitoramento do consumo energético dos prédios do campus de forma individualizada e em tempo real. As ações de maior repercussão foram a instalação de seis usinas para geração de energia solar fotovoltaica e a introdução de um ônibus elétrico no serviço de transporte circular da Universidade.

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Juntas, as seis usinas têm capacidade para gerar 530 kWp quilowatts-pico (kWp) de energia, o que correspondia, à época de sua instalação, a 1,1% do total consumido no campus. Para além da economia energética e financeira, o funcionamento destas unidades tornou possível a realização de numerosas pesquisas sobre geração de energia fotovoltaica, bem como o treinamento e formação de técnicos e especialistas na área. Parte dos painéis solares que as compõem– 15% do total – foi doada pela empresa BYD.

Também fornecido pela BYD, o ônibus elétrico proporcionou à Universidade a mesma possibilidade de combinar o uso de energia limpa à realização de pesquisas fora do ambiente controlado dos laboratórios, com consequentes ganhos para a formação de alunos de graduação e de pós-graduação. Introduzido na frota de circulares internos em setembro de 2020, o veículo é equipado com sistema completo de acessibilidade e um amplo conjunto de sensores capazes de registrar, durante a rodagem, dados relativos a consumo de energia, fluxo de passageiros, velocidade e temperatura ambiente, entre outros exemplos, cuja aplicação se estende a estudos sobre aspectos diretos e indiretos da mobilidade urbana.

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Outras iniciativas

Afora o Campus Sustentável, cabe destacar dois projetos estratégicos da gestão para reduzir o consumo de água na Universidade. Um deles consistiu no acréscimo de 134 hidrômetros aos 165 já existentes no campus de Campinas, seguido da informatização dos dados gerados pelo conjunto de equipamentos, tornando possível o acompanhamento do consumo nos diferentes órgãos e unidades da Unicamp tanto pela Administração Central, como por seus respectivos dirigentes.

O segundo projeto visando à diminuição do uso de água abrangeu a substituição de 1.238 bacias sanitárias por modelos mais eficientes, o que resultou em uma economia de quase R$ 2 milhões (valor nominal) para a Unicamp nos 12 meses entre setembro de 2018, quando as trocas começaram a ser feitas, e agosto de 2019 – 25% a mais do que o previsto inicialmente. Em razão da pandemia de covid-19, a medição foi interrompida em fevereiro de 2020. Até esta data, a economia total foi de R$ 2,5 milhão.

Outro resultado importante obtido no quadriênio foi o recebimento, em 2019, da licença de operação para a área da saúde, abrangendo também o Instituto de Biologia (IB). O documento, concedido pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), atesta que a Universidade cumpre integralmente as normas ambientais vigentes. A este respeito, cabe destacar que a Unicamp se encarrega de dar o devido destino, sempre segundo a legislação em vigor, a todos os resíduos perigosos produzidos em seus campi.

Com relação aos resíduos comuns, vale mencionar o lançamento, em 2018, do programa Unicamp Lixo Zero, inspirado no movimento internacional que prega a redução do desperdício e do descarte de materiais recicláveis. Sob a coordenação do já mencionado GGUS, o programa promove campanhas e ações de conscientização com o objetivo de diminuir a quantidade de lixo gerada pela comunidade acadêmica.

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Polo de desenvolvimento sustentável

A ideia de estruturar um polo de desenvolvimento sustentável em Campinas surgiu da necessidade de ocupar a área de 1,4 milhão de metros quadrados da antiga Fazenda Argentina, adquirida pela Universidade em 2014. De início, o polo se restringiria a este terreno, contíguo ao principal campus da Universidade. Contudo, a gestão logo enxergou a possibilidade de ampliar a abrangência do projeto, promovendo, por meio dele, a integração da Unicamp com as instituições localizadas no seu entorno e com o próprio município.

A ampliação do projeto demandou um intenso trabalho de articulação externa por parte da gestão. Os esforços fizeram com que 11 instituições aderissem à iniciativa, além da prefeitura de Campinas e do governo de São Paulo. Como consequência, a área do futuro Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS) passou a compreender também o campus da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) e o Ciatec II – polo de alta tecnologia que abrange a antiga Fazenda Argentina e o Parque Tecnológico da Unicamp –, totalizando 11,3 milhões de metros quadrados.

Dois passos importantes para a concretização do projeto foram dados em março de 2020: a instituição do Conselho Consultivo Fundador do HIDS, composto por representantes dos 14 atores envolvidos na iniciativa, e a destinação, pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), de US$ 1 milhão para financiar, a fundo perdido, a elaboração do plano diretor do empreendimento. O planejamento foi dividido em sete componentes de trabalho interdependentes: projeto físico-espacial, modelo jurídico, modelo de negócios, patrimônio, avaliação de sustentabilidade, comunicação e governança.

A criação do HIDS foi oficializada em julho de 2020 por meio da assinatura de um convênio “guarda-chuva” que permite o estabelecimento de acordos bilaterais, trilaterais ou multilaterais 14 membros fundadores. Duas cerimônias foram realizadas posteriormente, em dezembro de 2020 e fevereiro de 2021, para formalizar, respectivamente, as participações da prefeitura de Campinas e do governo do Estado no projeto. A última cerimônia também marcou a inauguração da nova sede da Agência de Inovação da Unicamp (Inova), transferida do campus da Universidade para a área da antiga Fazenda Argentina (leia mais).

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Assim como o Campus Sustentável, o projeto do HIDS prevê a transformação de sua área de abrangência em um laboratório vivo para o estudo e testagem de novos conceitos e tecnologias que favoreçam o desenvolvimento sustentável em todas as suas dimensões, abrangendo, entre outros exemplos, o consumo racional e eficiente de água e energia limpa; a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa; e o reaproveitamento cíclico de resíduos e produtos. Neste sentido, espera-se que o HIDS seja visto no futuro como um modelo internacional de distrito inteligente e sustentável.

O projeto já inspirou a abertura, na Unicamp, de um programa de pós-graduação lato sensu (especialização) em arquitetura, urbanismo e engenharia civil que combina atividades teóricas e estágio supervisionado. Em seu primeiro oferecimento, a partir de setembro de 2020, foi proposto que os alunos desenvolvessem o projeto urbano do HIDS, levando em consideração a geologia, topografia e paisagem do local; suas futuras infraestruturas energética e hidrossanitária; e conceitos avançados sobre uso misto do solo, mobilidade e gerenciamento de resíduos, entre outros aspectos relevantes. Prevê-se que o estágio seja direcionado, nos próximos oferecimentos do curso, ao atendimento de outras demandas da Universidade, como a adequação de edifícios antigos às normas de acessibilidade vigentes.

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