Prof. Luiz Carlos Dias | Foto: Antonio Scarpinetti

Luiz Carlos Dias é Professor Titular do Instituto de Química da Unicamp, membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico e membro da Força-Tarefa da UNICAMP no combate à Covid-19.

Vacinas aplicadas fora do prazo de validade?

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Segundo matéria publicada no jornal "Folha de São Paulo" no dia 02/07/2021, 25.935 mil doses da vacina Oxford/AstraZeneca teriam sido aplicadas fora do prazo de validade em 1.532 cidades brasileiras. Aparentemente, oito lotes (4120Z001, 4120Z004, 4120Z005, 4120Z025, CTMAV501, CTMAV505, CTMAV506 e CTMAV520) indicavam data de vencimento entre 29/03/2021 e 4/06/2021. O levantamento publicado na Folha cita cruzamento de dados dos sistemas DataSUS (do Ministério da Saúde) e Sage (Sala de Apoio à Gestão Estratégica), que armazena os dados dos imunizantes entregues para os estados com número de lote e data de validade. O montante de 25.935 mil doses supostamente vencidas corresponde a 0.025% do total de 103.454,255 milhões de doses aplicadas.

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As secretarias de saúde da grande maioria dos municípios citados na matéria negam que aplicaram doses fora do prazo de validade. Muitas prefeituras informam que se trata de um problema de notificação, sendo que as vacinas foram aplicadas na data correta, dentro do prazo de validade, mas os dados foram inseridos, alimentados no aplicativo do programa DataSus após a data de aplicação. As prefeituras estão se explicando, isto será esclarecido provavelmente em breve. As prefeituras não possuem a mesma infraestrutura e modo de operação para lançar os dados nos aplicativos e nem todas lançam os dados em tempo real.

Seria um erro vacinal?

Em termos de protocolo de saúde pública, se de fato as vacinas foram aplicadas fora do prazo de validade, caracteriza erro vacinal. Não é comum acontecer isso, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) é confiável e uma das coisas que temos de melhor no País. Vacinação é algo que o Brasil sabe fazer muito bem.

Vamos ter calma e equilíbrio e aguardar os desdobramentos e esclarecimentos, pois as vacinas podem ter sido aplicadas no tempo certo e lançadas no sistema posteriormente. Se for assim, elas não perdem a integridade vacinal e vida que segue. 

O que se pode fazer?

Segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações/SBIm, quando uma vacina com prazo de validade vencido é aplicada, isso é considerado um tipo de erro programático e a dose deve ser repetida. O Ministério da Saúde informou que todas as doses são enviadas dentro do prazo e que, caso aplicações fora do período ocorram, essa dose não é considerada válida e as pessoas envolvidas precisam passar por uma nova aplicação no intervalo de 28 dias após a aplicação da dose com validade vencida.

Prazos de validade subestimados

No caso destas vacinas para Covid-19, que estão sendo desenvolvidas para aplicação rápida na população, por questões de segurança, como essas vacinas são novas, certamente os prazos de validade estão muito subestimados. Isto é normal acontecer para fármacos como medicamentos e vacinas. Não tem nem um ano que essas vacinas foram desenvolvidas, com o tempo, e com confirmação da estabilidade, da qualidade e da integridade vacinal, os prazos de validade serão provavelmente maiores que os atuais. Vamos lembrar que alguns lotes de outras vacinas tiveram prazo de validade estendido pela Anvisa, como a vacina Johnson & Johnson/Janssen que teve o prazo de validade ampliado de 30 para 45 dias.

Vacinas com prazo de validade vencida podem fazer mal?

Não existe qualquer estudo de eficácia e segurança conhecido com vacinas com validade vencida, só se estudam vacinas cuja integridade é confirmada por testes de qualidade. A data de validade indica a data em que o fabricante da vacina atesta a qualidade do IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo). As vacinas com prazo de validade vencido não têm garantia de eficácia e segurança por parte do fabricante, que não pode ser responsabilizado por eventual falta de eficácia e nem por eventuais efeitos adversos, caso seja confirmado que as doses aplicadas estavam com prazo de validade vencido. 

Nós precisaríamos ter uma análise de estabilidade e qualidade das vacinas com data de validade vencidas, feita pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade da Fiocruz/INCQS para confirmar a esterilidade, se essas vacinas mantêm ou não o mesmo padrão de qualidade de quando foram produzidas e poder prever eventuais danos.

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Mas essas vacinas com data de validade supostamente vencida podem fazer mal? As pessoas que tomaram essas doses supostamente vencidas devem ser monitoradas, mas a vacina com prazo de validade vencido não é vacina estragada, deteriorada, que perdeu sua integridade, principalmente se o prazo de validade for próximo da data de aplicação. Os prazos de validade para vacinas costumam considerar um período de segurança maior e a vacina continua com sua integridade e qualidade por mais tempo. Não foi o caso de passar alguns meses, segundo a matéria, foram alguns dias. Nós sabemos que o prazo de validade não quer dizer que a partir da meia-noite do dia de vencimento a vacina estragou! De jeito nenhum!

Muito provavelmente, as pessoas que tomaram essas vacinas não correm riscos de desenvolver problemas de saúde, mas nós não temos certeza se essas vacinas vão gerar resposta imunológica esperada. No entanto, é possível sim que as pessoas podem até adquirir algum nível de proteção mesmo com a validade vencida, porque as vacinas podem ter uma quantidade suficiente do IFA, do adenovírus viável em número suficiente para despertar a resposta de proteção do sistema imunológico.

Momento pede equilíbrio e informação confiável

Essa matéria na Folha, sendo confirmada ou não a veracidade do levantamento, causou pânico na população. Não precisava ser assim. Eu não teria divulgado sem confirmar antes, com as secretarias estaduais e municipais de saúde, se de fato, essas doses foram aplicadas com prazo de validade vencido. Eu respeito o trabalho jornalístico, mas espero que os autores da matéria tenham feito contato com as secretarias municipais, pois o momento pede equilíbrio e já há muita desinformação. Tomara que esta questão seja esclarecida o mais rapidamente possível e não cause mais prejuízos. Fato é que esta matéria não trouxe nenhum tipo de benefícios, não ajudou em nada na adesão da população à campanha de vacinação em massa.

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 Manifestações da Anvisa, Fiocruz e Conass

Veja aqui manifestações a respeito desta questão, por parte da Anvisa, da Fiocruz e do Conass. A Fiocruz informou que os lotes supostamente com validade vencida não foram produzidos pela instituição, mas foram doses importadas prontas do Instituto Serum, da Índia, a vacina Covishield, além de lotes fornecidos pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/OMS).

Segundo o mapa da vacinação no Brasil, organizado pelo consórcio de veículos de imprensa (G1, 'O Globo', 'Extra', 'Estadão', 'Folha' e UOL), o Brasil aplicou, em período de 5,5 meses desde o início da vacinação, um total de 103.454,255 milhões de doses até o dia 4/7/2021, o que corresponde a vacinar 36,07% da população (76.377,088 milhões de pessoas) com a primeira dose e 12,79% da população com a segunda dose (27.077,167 milhões de pessoas).

A população brasileira precisa acreditar nas vacinas e ter consciência de que todas e todos devem tomar as vacinas logo. Vamos vacinar, vacinar é um pacto coletivo, um exercício coletivo de cidadania.

Sobre os efeitos colaterais das vacinas? Eles são bem-vindos

Um artigo muito legal, publicado na revista Science Immunology no dia 22/6/2021 mostra que os efeitos colaterais das vacinas de RNA mensageiro da Pfizer e da Moderna, em uso contra o vírus SARS-CoV-2, refletem a produção transitória de interferons do tipo I, uma resposta fisiológica normal do organismo quando tem contato com microorganismos invasores. Os efeitos colaterais mais comuns são um pouco de febre, dor de cabeça, fadiga muscular, mialgia e mal-estar geral, que normalmente afetam cerca de 60% das pessoas vacinadas após a segunda dose. A maioria dos sintomas é atribuído à produção de uma citocina que desempenha papel vital na potencialização dos estágios iniciais da resposta imune, ou seja, o interferon tipo I (IFN-I). Os efeitos colaterais da vacinação quase sempre serão leves e transitórios e indicam apenas que a vacina está fazendo seu trabalho de estimular a produção de interferon, um imunoestimulador.

Eu já tinha comentado sobre os efeitos adversos com a vacina de Oxford/AstrazEneca. Em suma, sentir os efeitos colaterais até as primeiras 48h pós-vacinação, é normal e até desejável para uma resposta imunológica eficaz. O medo desses efeitos colaterais não pode ser maior que o medo da infecção pelo SARS-CoV-2. O vírus SARS-CoV-2, mata. Isso é Ciência e Ciência salva vidas.

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Uma ou duas doses de vacina!

É um tema polêmico, eu sei, mas vamos lá. Antes de prosseguir na discussão, precisamos lembrar que a Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras agências de saúde pública recomendam que todas as pessoas que já foram infectadas pelo vírus Sars-CoV-2 sejam vacinadas com as duas doses das vacinas contra a Covid-19 (ou com uma dose no caso da vacina da Johnson & Johnson, a única testada em fase 3 em apenas uma dose). Não há nenhuma outra recomendação em contrário.

No entanto, um trabalho publicado no dia 14/06/2021 na revista científica Nature, sugere que algumas pessoas que foram infectadas com o vírus Sars-CoV-2 e tomaram uma primeira dose das vacinas da Pfizer ou da Moderna, poderiam abrir mão de tomar a segunda dose das vacinas. Nesse cenário de poucas doses e vacinação lenta, isto poderia ajudar a aumentar o percentual de pessoas não previamente infectadas com a Covid-19, que poderiam ser vacinadas com duas doses das vacinas, usando o excedente.

A dúvida que permanece é para que grupos essa possibilidade seria segura e para quais as outras vacinas, pois esse estudo envolveu apenas as vacinas de RNA mensageiro (mRNA) da Pfizer e da Moderna. Esse estudo e outros divulgados previamente sugerem que algumas pessoas recuperadas de Covid-19 tem uma tendência a desenvolver resposta imunológica forte com a primeira dose das vacinas, mas que uma segunda dose das vacinas não altera de forma significativa a resposta de proteção. Aparentemente, as pessoas recuperadas de Covid-19, após receberem uma única dose das vacinas, adquirem níveis de anticorpos neutralizantes semelhantes aos encontrados em pessoas que não foram infectadas e receberam duas doses dessas vacinas.

É preciso confirmar se os níveis de anticorpos neutralizantes realmente servem como parâmetro de proteção imunológica. Os autores do estudo também avaliaram os níveis de células B de memória dos voluntários e perceberam um aumento considerável de 10 vezes em média, em voluntários previamente infectados, após receberem uma dose das vacinas da Pfizer e da Moderna. Não houve variação significativa neste parâmetro com a segunda dose dessas vacinas em pessoas previamente infectadas. Seria possível colocar essa estratégia em prática na população real? Eu penso ser muito complicado. Fato é que não se pode deixar ninguém com o nível de proteção reduzido.

Eu penso ser melhor aplicar a segunda dose em todas e todos, mas esses resultados são interessantes podem servir para eventualmente apoiar estratégias de vacinação em apenas uma dose para pessoas que se recuperaram de Covid-19, o que seria útil para aumentar a cobertura vacinal e diminuir o espalhamento de variantes de atenção. Para mais referências a respeito deste assunto, com outros estudos mostrando que uma dose dessas vacinas em pessoas recuperadas de Covid-19 pode estimular o crescimento de anticorpos e células T de memória.  

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Comprovado: as máscaras salvam vidas!

Um artigo publicado no dia 25/6/2021 na prestigiosa revista Science, por cientistas da Alemanha, China e Estados Unidos, traz ainda mais evidências de que o uso de máscaras salva vidas, reduzindo muito o espalhamento e a disseminação do vírus Sars-CoV-2, causador da Covid-19. Os autores desenvolveram um modelo matemático de propagação do vírus, considerando tanto quem emite como quem recebe as partículas que contém o vírus, estando com e sem máscaras. Os resultados mostram de forma inequívoca que tanto máscaras cirúrgicas, como a N95, ou PFF2 ou as máscaras de pano, são muito eficazes em reduzir a transmissão do vírus Sars-CoV-2, especialmente em locais com boa ventilação e distanciamento físico. Nos locais com baixa concentração de vírus, as máscaras cirúrgicas são eficazes em prevenir o espalhamento do vírus, enquanto nos locais fechados, principalmente centros médicos e hospitais, onde a concentração de vírus tende a ser maior, máscaras como N95 e PFF2, consideradas mais filtrantes, são necessárias. Nos locais com maior concentração de vírus, distanciamento social e ventilação eficiente também são fundamentais. As máscaras protegem tanto quem está usando como quem está nas proximidades.

O estudo mostrou que o maior nível de proteção é obtido quando todas as pessoas, infectadas ou não, usam máscaras. Um nível um pouco mais baixo de proteção foi obtido quando apenas as pessoas infectadas usam máscaras, que assim transmitem menos e o um nível de proteção um pouco inferior foi obtido quando apenas as pessoas não infectadas usam máscaras, o que mostra que mesmo com pessoas infectadas no ambiente sem usar máscaras, os não infectados usando máscara ficam protegidos. As máscaras N95 e PFF2 conseguem bloquear muito bem tanto as partículas grandes que são eliminadas por nariz e boca, que possuem maior carga de vírus, como os aerossóis, partículas que ficam mais tempo suspensas no ar. As máscaras cirúrgicas filtram bem as partículas maiores que saem de nariz e boca, mas são menos eficientes para bloquear as partículas derivadas dos aerossóis. Para diminuir os riscos de contaminação, o uso de máscaras deve ser incentivado sempre com muita ênfase. Isso é Ciência e Ciência salva vidas.

Mesmo vacinado você pode ser infectado e transmitir o vírus

Não acreditem na ideia ridícula de quem quer que seja, de liberar o uso de máscaras para pessoas vacinadas ou que já contraíram a Covid-19. Se essas pessoas ficarem expostas ao vírus, tendo contato com alguém com Covid-19, podem ser infectadas pelas novas variantes, a Gamma, (a nossa P.1) e a Delta, a variante indiana. Não há vacina 100% eficaz e as vacinas atualmente disponíveis protegem principalmente contra o desenvolvimento de formas graves da Covid-19. Então, mesmo após 2 ou 3 semanas da aplicação da segunda dose, quando se completa o ciclo de imunização, ainda é possível contrair o vírus se você relaxar na manutenção das medidas não farmacológicas, como o uso de máscaras, o distanciamento físico e os hábitos de higiene das mãos. E sendo infectado, mesmo vacinado você pode transmitir o vírus. Então se você não quer correr risco de ser infectado e perder alguém próximo, alguém da sua família, mantenha as medidas não farmacológicas.

Todos devem usar máscaras, tanto os não vacinados, os vacinados e quem nunca pegou Covid-19 e quem já foi infectado pelo Sars-CoV-2. As variantes Gamma (P.1) e a Delta indiana são mais transmissíveis e infectam mais rapidamente. E temos que lembrar que as vacinas sendo usadas hoje foram testadas contra outras variantes, não contra essas variantes de atenção circulando hoje, embora todas sejam eficazes contra estas novas variantes.  O vírus está sofrendo mutações para se adaptar ao hospedeiro, nós seres humanos, então precisamos vacinar rapidamente, pelo menos cerca de 75% da população. Neste processo de evolução natural, o vírus está sofrendo mutações tentando escapar das respostas de proteção dos anticorpos produzidos pelo nosso sistema imunológico e temos que usar máscaras, mesmo tendo sido vacinados, para o vírus não fugir da resposta de proteção conferida pelas vacinas.

Nós só poderemos começar a flexibilizar o uso de máscaras quando nós tivermos um impacto da vacinação sobre a circulação do vírus, com uma queda sustentada no número de casos e de óbitos por algumas semanas. Se a população brasileira acreditar nestas ideias negacionistas e pararmos de usar máscaras depois de vacinados, o vírus pode sofrer mutações para fugir da resposta de proteção das vacinas e poderemos criar cepas ou variantes ainda mais perigosas nesse país e a pandemia vai ficar longe de acabar.

Não é assim que nós vamos ter nossas vidas de volta, não será assim que a economia será reativada. Milhares de pessoas podem morrer e poderá ser alguém da sua família. Então, nós não podemos dar chance ao vírus. Vamos todos e todas aderir às campanhas de vacinação em massa e continuar usando máscaras, mantendo o distanciamento físico e os hábitos de higiene das mãos.

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ATENÇÃO PARA AS VARIANTES

GAMMA E DELTA

Acesse um levantamento sobre o aumento da transmissibilidade e disseminação global de variantes de atenção (Variants of Concern, VOCs) do vírus Sars-CoV-2 até o mês de junho de 2021.  As principais variantes de atenção são: Alpha (B.1.1.7), Beta (B.1.351), Gamma (P.1) e Delta (B.1.617.2), mas existem múltiplas variantes de interesse (VOI). Até o dia 3/6/2021, a variante Alpha havia sido relatada em pelo menos 160 países, a Beta em 113 países, a Gamma em 64 países e a Delta em 92 países.

Gamma: a P.1 brasileira

Um artigo publicado na revista Nature Medicine no dia 25/05/2021, mostra que a variante Gamma (P.1) é dominante no Brasil, é muito contagiosa e está vencendo a corrida contra outras variantes. Essa variante é responsável por 9 entre cada 10 casos de Covid-19 no Brasil. A variante Gamma possui maior poder de infecção e possui uma proteína que garante maior capacidade de fazer cópias do vírus nas células humanas, o que lhe permite até reinfectar pessoas recuperadas de Covid-19. Existe o risco de a Gamma eventualmente escapar da resposta de proteção gerada pelos anticorpos e neste processo de evolução natural, precisamos vacinar rapidamente para que esta variante não gere outras variantes de atenção ainda mais perigosas que possam escapar da resposta de proteção induzida pelas vacinas em uso contra a Covid-19. Felizmente, até o presente momento, estudos indicam que as vacinas Covishield (Oxford/AstraZeneca/Fiocruz), Pfizer e  CoronaVac (Sinovac/Butantan) são eficazes contra as variantes de atenção circulando por aqui, incluindo a famigerada Gamma.

Delta: a Indiana

O Brasil precisa se preparar para o impacto da variante Delta. A OMS recomenda que as pessoas continuem a usar máscaras, pois  a variante Delta se espalha inclusive em populações já vacinadas contra a Covid-19.

À medida que a variante Delta (B.1.617.2) se torna dominante em todo o mundo, existem 2 padrões emergentes:

Países com baixas taxas de vacinação estão vendo aumento nas taxas de casos e fatalidade.

Países com alta taxa de vacinação: algum aumento de casos e mínimo ou nenhum aumento de letalidade.

O Brasil e o mundo precisam acelerar a vacinação em massa, para evitar o surgimento de super variantes, que neste processo de evolução natural do vírus, podem levar à escape vacinal, além de aumentar a carga viral sendo expelida pelas pessoas infectadas.

O vírus está tentando se adaptar aos seres humanos, seus hospedeiros naturais, o vírus não pretende eliminar a raça humana, ele não tem esse entendimento, mas quer ficar mais infeccioso e se reproduzir em nosso organismo, gerando milhares ou milhões de cópias de si mesmo. O RNA do vírus é uma molécula química gigantesca, com cerca de 33 mil bases nitrogenadas (nucleotídeos de 4 bases nitrogenadas: adenina, citosina, guanina e uracila). O RNA é uma molécula lábil, no sentido que as cópias de RNA sintetizadas em nosso organismo, contém inúmeras falhas na replicação, mas como são milhares de cópias, algumas delas podem ser benéficas para o vírus, ter impacto epidemiológico e se tornarem dominantes. Com mais transmissão do vírus, mais variantes vão surgir. É aí que surgem as VOCs (variants of concern) ou variantes de atenção. 

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Delta: Maior transmissão, eficácia das vacinas e mudança nos sintomas da Covid-19

O aumento no número de casos de Covid-19 no Brasil está relacionado à maior transmissibilidade das variantes de atenção, particularmente a Delta (Indiana) e a Gamma (a P.1 brasileira). Segundo estudo da OMS, a variante Delta é cerca de 97% mais transmissível e a variante Gamma é 38% mais transmissível do que o vírus Sars-CoV-2 original. Um estudo do King's College London aponta que a variante Delta aparentemente causa sintomas mais parecidos com os de uma gripe forte, como dor de cabeça, nariz entupido, nariz escorrendo e dor de garganta. São sintomas diferentes e menos específicos quando comparados aos observados em pacientes infectados com o novo coronavírus original, que incluem tosse, perda de olfato e de paladar, dores no corpo etc. Isto preocupa, pois pode mascarar infecções entre a população mais jovem, pois as pessoas podem achar que é uma simples gripe ou resfriado ou coriza, principalmente com o inverno chegando, mas podem transmitir o vírus para outras pessoas. No caso de sentir esses sintomas, você deve procurar atendimento médico para ser testado e acompanhado.

Com relação à eficácia das vacinas em uso contra a Covid-19, até o momento, o pior resultado foi obtido com a vacina de Oxford/AstraZeneca, que teve eficácia reduzida contra a variante Beta, da África do Sul. No Brasil, todos os estudos disponíveis até o momento indicam que as vacinas em uso aqui não perdem efetividade em relação às variantes de atenção circulando no Brasil, particularmente as variantes Gamma e Delta.

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