Edição nº 627

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 08 de junho de 2015 a 14 de junho de 2015 – ANO 2015 – Nº 627

Uma ginástica para todos

Livro resgata 25 anos de história do Grupo Ginástico da Unicamp

Ainda estava para ser contada a rica história do Grupo Ginástico Unicamp (GGU), que se tornou referência nacional e internacional com a sua proposta pedagógica de ginástica geral (GG), desenvolvida na Faculdade de Educação Física (FEF) e replicada em outras universidades, escolas, clubes e associações. Agora essa trajetória está documentada no livro “Grupo Ginástico Unicamp: 25 Anos”, publicado pela Editora da Unicamp e, segundo seus autores, “escrito a dez mãos, cinco corações e incontáveis colaboradores”. A obra, viabilizada com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac) em parceria com o Gabinete do Reitor, é assinada por Elizabeth Paoliello, Eliana de Toledo, Eliana Ayoub, Marco Antonio Coelho Bortoleto e Larissa Graner.Apresentação do Grupo Ginástico da Unicamp, em Campinas: privilegiando a inclusão

A professora Elizabeth Paoliello, fundadora do GGU juntamente com Vilma Nista-Piccollo, afirma que o livro é resultado de um trabalho nascido no âmbito de um projeto de extensão comunitária iniciado em 1989, quando ambas eram docentes da FEF. “Formamos um grupo com 17 ex-ginastas (algumas alunas da própria FEF e outras do Clube Campineiro de Regatas e Natação) para se apresentar em um festival em Buenos Aires. Depois do sucesso na Argentina, nos sentimos muito motivadas a continuar com o projeto, por onde já passaram mais de 200 alunos da Unicamp e de outras instituições.”

A ginástica geral, atualmente denominada ginástica para todos (GPT), não tem a competição como meta, como outras manifestações tão veiculadas pela mídia. Foi nesse contexto que o GGU desenvolveu sua proposta, consolidada com significativa contribuição do professor Jorge Sérgio Perez-Gallardo e debatida por Elizabeth Paoliello em sua tese de doutorado (1997), desta prática entendida como: “uma manifestação da cultura corporal que reúne diferentes interpretações da ginástica (natural, construída, artística, rítmica desportiva, aeróbica, etc.), integrando-as com outras formas de expressão corporal (dança, folclore, jogos, teatro, mímica, etc.), de forma livre e criativa, de acordo com as características do grupo social e contribuindo para o aumento da interação social entre os participantes”.

Atualmente na coordenação do GGU, Marco Antonio Bortoleto, docente da FEF, observa que a ginástica geral, devido à sua natureza não competitiva, ganha especial importância numa sociedade que tende à competição. “Valorizamos o trabalho de cada um e sua integração, sem a expectativa de ganhar nada. Se vamos ao exterior, voltamos sem medalhas, mas trazemos amizades, contatos e experiências. É uma prática inclusiva na qual pessoas de qualquer faixa etária, com diferentes históricos esportivos, ou mesmo sem qualquer experiência prévia com a ginástica, podem participar. O GGU é um exemplo disso: muitos dos seus quase 60 integrantes nunca haviam praticado ginástica e entre eles há estudantes e profissionais da matemática, estatística, artes, educação, engenharia, com trajetórias bem distintas.”

Larissa Graner, também da coordenação atual, explica que a proposta do GGU norteia-se na formação humana e na capacitação profissional: “Materializamos essa proposta potencializando a interação entre as pessoas. A criação da coreografia – coração do nosso trabalho – é coletiva. Não temos um coreógrafo responsável por tudo e a quem todos devem obedecer. Isso acontece na escolha dos movimentos, do figurino, da música, na organização das viagens. E a capacitação decorre deste processo, em que se é aluno num dia e professor no outro.”

O Grupo Ginástico Unicamp tem sido o veículo de difusão das reflexões e produções do Grupo de Pesquisa em Ginástica (GPG) da FEF, cujos estudos buscam novas possibilidades de compreensão e prática da ginástica para as aulas de educação física, bem como para programas de universidades, clubes e associações. “Ao longo do tempo, conseguimos conectar muito bem o tripé pesquisa-ensino-extensão. Tanto que em julho próximo nos apresentaremos na Finlândia, na World Gymnaestrada, maior festival realizado pela Federação Internacional de Ginástica FIG), fazendo em seguida um intercâmbio técnico-científico com a Universidade de Tallin na Estônia”, complementa Bortoleto.

Eliana Ayoub, uma das autoras do livro, considera que a proposta pedagógica do GGU, por estar ancorada em uma formação humana mais ampla, extrapola em muito a área da educação física. “Sou formada em educação física e docente da Faculdade de Educação, onde temos difundido essa proposta em cursos de formação de professores, especialmente na pedagogia. Esta proposta inovadora foi sendo ampliada e seu significado transformado pelos coordenadores que passaram pelo grupo, ganhando uma dimensão que não é pequena. Daí a força desse projeto, que perdura por tantos anos.”


Marco Bortoleto lamenta que este longo e denso trabalho do grupo seja ainda pouco difundido e reconhecido dentro da própria Unicamp, quando a proposta curricular de educação física do Governo do Estado de São Paulo para o ensino de ginástica, publicada em 2008 e ainda vigente, está nele fundamentada.  “Temos certeza, portanto, que a maioria das escolas estaduais paulistas têm a proposta pedagógica do GGU como referência, o que é um impacto considerável. Há referências ao nosso trabalho também em propostas do Ministério dos Esportes e diversos municípios, e muitos pesquisadores e grupos de estudantes universitários nos visitam a cada ano. Nas três universidades públicas paulistas [Unesp, USP e Unicamp] todos os professores de ginástica são ex-membros do GGU. Poucas áreas do conhecimento conseguem esta penetração.”

Eliana de Toledo, ex-coordenadora do grupo e docente da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, acrescenta que a importância do GGU pode ser mensurada pelo alto índice de citações em trabalhos acadêmicos, bem como pela dimensão mundial alcançada pelo Fórum Internacional de Ginástica Geral, evento organizado pelo GGU e GPG, com apoio do Sesc e da Isca (International Sport and Culture Association). “É um evento bianual, o maior evento da área na América Latina e um dos maiores do mundo, que já tem sete edições de 2001 a 2014. Pela comissão científica, da qual já fui parecerista e há três edições atuo como coordenadora, passam os trabalhos enviados de quase todos os estados brasileiros e de outros países, o que nos oferece um olhar claro sobre a influência da proposta do GGU.”

 

INSERÇÃO INTERNACIONAL

O Grupo Ginástico Unicamp vem exercendo importante papel também em relação à internacionalização da Universidade, processo que vive intensamente desde o início dos 1990, bem antes de se tornar uma política institucional. O livro registra as 14 turnês realizadas até o momento, cada uma percorrendo três ou quatro países, em diferentes continentes. Esta inserção no cenário mundial levou a fundadora Elizabeth Paoliello a fazer parte de um organismo com o peso da Isca, e o professor Marco Bortoleto a se tornar o primeiro representante das Américas no Comitê de GPT da Federação Internacional de Ginástica.

A professora Elizabeth Paoliello permaneceu na Isca durante 15 anos, como integrante do comitê executivo, coordenadora da América Latina e vice-presidente mundial. “A filiação da Unicamp à Isca, desde 1995, foi fundamental para que o GGU recebesse convites para festivais, palestras e cursos em diversas partes do mundo. E para um importante intercâmbio com a Associação Dinamarquesa de Esporte e Ginástica, assinado em 1997, pelo qual já enviamos 55 alunos da FEF, quase 70 da Unicamp como um todo e mais de 150 da América Latina para participar de um programa junto a escolas de esportes daquele país.”

Marco Bortoleto destaca ainda um termo de cooperação com a Nippon Sport Science University (Japão), renomada instituição do Japão que o GGU visitou em 2013, trazendo no ano passado mais de 50 alunos para a Unicamp. “Outro aspecto é que todo o esforço dos coordenadores e membros do GGU, com o apoio institucional da FEF e da Unicamp, permitiu o acesso a organismos nacionais e internacionais, o que ainda representa um desafio no terreno da ginástica. Temos representação tanto na Federação Paulista como na Confederação Brasileira de Ginástica, e a partir de 2012 na FIG, primeira federação esportiva criada no mundo. O acesso à FIG nos trouxe informações privilegiadas e o convite para este evento de gala do organismo, na Finlândia, que consiste em três apresentações, cada uma com 5 mil pessoas e ingressos já esgotados – é o nome da Unicamp divulgado para um mínimo de 15 mil pessoas.”

 

LIVRO DE ALTA DENSIDADE

Como coautora de “Grupo Ginástico Unicamp: 25 Anos”, a professora Eliana de Toledo vê no livro uma pesquisa histórica de alta densidade, com base em mais de 5 mil documentos (fotos, vídeos, músicas, matérias de jornais, folders, cadernos de registros e de planejamento), além de depoimentos dos “GGÚnicos e GGÚnicas”, assim denominados porque ainda se sentem parte do grupo. “Não se trata de um livro memorialístico qualquer, saudosista. Como docentes e pesquisadores, seguimos o rigor acadêmico em relação às fontes e ao seu tratamento. Trata-se de pesquisa histórica sobre a trajetória de um grupo universitário que praticamente consolidou as produções acadêmicas e as práticas da ginástica geral brasileira. Muitos estavam esperando pelo livro, que agora está sendo traduzido para o inglês.”

A versão em inglês será em formato digital (e-book) e será disponibilizada gratuitamente no site do GGU (www.ggu.com.br), possivelmente até meados de 2016. Além da história do GGU, o livro traz todas as composições coreográficas; uma nova versão de sua proposta pedagógica; imagens dos mais de 200 integrantes e depoimentos sobre a influência do grupo na vida pessoal e profissional; detalhes das turnês e participações em eventos no Brasil e no exterior; curiosidades sobre o Fórum Internacional de Ginástica Geral; uma reflexão sobre a ampla rede de contatos construída ao longo desta trajetória; a apresentação da extensa produção científica (livros, teses de doutorado, dissertações de mestrado e trabalhos de iniciação científica); e notas sobre grupos ginásticos nascidos a partir do GGU.

SERVIÇO

Título: Grupo Ginástico Unicamp: 25 Anos

Autores: Elizabeth Paoliello, Eliana de Toledo, Eliana Ayoub, Marco Antonio Coelho Bortoleto e Larissa Graner

Páginas: 288

Editora da Unicamp

Preço: R$ 60,00