Edição nº 624

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 11 de maio de 2015 a 17 de maio de 2015 – ANO 2015 – Nº 624

Entre Jundiaí e Campinas

Moradores de Itatiba se dividem entre as duas cidades
em busca de lazer, consumo, saúde e cursos superiores

vista da regiao central de atibaia, cidade da regiao metropolitana da campinas, minicipio tem 110 mil abitantesOs moradores do município de Itatiba, interior de São Paulo, se distribuem quase uniformemente entre Campinas (a 34 km) e Jundiaí (distante 24 km) na busca por serviços que representam os seus hábitos de consumo fora da cidade. Apenas no setor de saúde percebeu-se um maior fluxo de itatibenses que seguem rumo a Jundiaí. Mas, quando os quesitos foram lazer e universidades, a distribuição da população mostrou-se maior em direção a Campinas. Foi o que apontou estudo de mestrado do Instituto de Geociências (IG). Vídeo

O autor do trabalho, Márcio Adriano Bredariol, percebeu que nem sempre numa região metropolitana, como é o caso da Região Metropolitana de Campinas (RMC), todas as cidades que a constituem manterão uma relação única com a metrópole. Pode existir uma outra cidade-pólo do entorno que não a integra e que no entanto mantém contatos e relações com ela, como é o caso de Jundiaí.

Como Itatiba está dentro da RMC, observou o mestrando, teoricamente deveria manter mais relações com Campinas. Ocorre que o seu estudo apurou que isso não é bem o que tem acontecido.

A pesquisa do geógrafo, orientada pela docente do IG Regina Célia Bega dos Santos, abordou a rede urbana paulista e o processo de metropolização de São Paulo a partir da Região Metropolitana de Campinas, tomando como “case” Itatiba, em suas relações com Campinas e Jundiaí. Isso porque Itatiba é uma das cidades que se localiza ao mesmo tempo na região de governo de Jundiaí e na RMC, ficando dividida entre duas cidades-pólos dentro da sua jurisdição.

A rede urbana paulista, explicou, envolve todas as cidades que se interligam e que mantêm relações entre si, formando um sistema complexo. “Em tempos de globalização, o mundo todo está articulado via rede urbana, a partir das cidades com maior poder de centralidade, como é o caso das metrópoles, como Campinas, e das cidades de porte médio, como Jundiaí. Só no Estado de São Paulo são 645 cidades”, revelou.

O pesquisador avaliou essa rede por ser a mais complexa do país e pela relevância das cidades que formam o Estado. “As cidades da região onde se insere Itatiba constituem a macrometrópole paulista que se estende desde a região metropolitana de São Paulo, incluindo a Região Metropolitana de Campinas, as Aglomerações Urbanas de Jundiaí e de Piracicaba, a Microrregião Bragantina e as Regiões Metropolitanas de Sorocaba, Baixada Santista, Vale do Paraíba e litoral norte”, sitou.

Segundo o especialista, dentro dessa grande região, que demonstra um forte dinamismo, ele se dedicou a entender a situação específica de Itatiba, local onde nasceu. Procurou descortinar com qual cidade ela mantinha mais relações – Campinas ou Jundiaí – e as metodologias que definem o que é uma região metropolitana.

 

PROGRESSO 

Márcio fez um apanhado histórico para chegar à Itatiba atual. Descobriu que a cidade começou a ser ocupada em meados de 1700 (foi instituída em 1876) e que, nessa época, era um povoado ainda muito distante do centro da vila de Jundiaí, apesar de integrá-la.

Logo, ‘o caminho do ouro’ passava distante de Itatiba. O seu desenvolvimento somente chegou com a inserção do café naquela região – na metade do século XIX. Mas, mesmo diante de seu progresso a olhos vistos, havia uma certa dependência de Jundiaí.

Em 1857, alcançou status de vila e, em 1876, independência política e reconhecimento como cidade, por causa do café, já que essa cultura gerou riqueza local. Até meados de 1929, ele teve grande importância. Depois, outros produtos começaram a ser plantados ali, e o café já não era mais a sua principal cultura.

Com a crise, a estrutura econômica da cidade passou a ser industrial, primeiramente com indústrias mais tradicionais – tecido, madeira, alimento, bebida – e, após, na década de 1960, com as indústrias de móveis, principalmente móvel colonial de madeira maciça.

Esse ciclo prevaleceu até os anos de 1990, quando houve nova crise, inclusive desencadeada pela dependência do móvel colonial. Mais uma vez mudou o perfil econômico da cidade. Hoje, quando observados os setores mais relevantes de Itatiba, o setor de móveis nem figura entre os mais destacados. Estão em alta os setores de metal mecânico, peças, indústria química e têxtil.

 

METROPOLIZAÇÃO

Márcio pretendia saber se haveria critérios no Brasil para definir o que é uma região metropolitana pois, para ele, isso soava vago. “Qualquer região pode ser considerada metropolitana. Quem define são os governos estaduais, com base em interesses próprios. Em São Paulo, há essa rede urbana mais complexa, com cidades importantes, o que justifica a existência das regiões metropolitanas”, pontuou.

Contudo, ao olhar para a RMC, que abarca 20 municípios, Itatiba permanece isolada. Não parece ter uma relação, como era de se esperar em se tratando de Campinas. Por que a relação parece mais forte com Jundiaí?

“Fomos atrás de respostas. Aplicamos um questionário para entender os hábitos de consumo da população fora de Itatiba. Perguntamos em qual shopping center eles costumavam ir às compras, a que cidade eles recorriam quando não havia uma especialidade médica em Itatiba, qual universidade eles procuravam quando não havia determinado curso em Itatiba e em qual cidade buscavam lazer”, elencou o pesquisador.

A entrevista foi feita com 400 moradores de Itatiba, para chegar a uma margem de erro de 5%, visto que a sua população atual ultrapassa os 110 mil habitantes.

O geografo marcio adriano bredariol, apanhado historico fundamentou a pesquisaMárcio verificou então uma grande divisão nos hábitos dos avaliados. Quando perguntado se eles costumavam fazer compras em outra cidade, a maioria respondia que sim (37% com frequência e 48% às vezes). Sobre cidades nas quais mais faziam compras, o resultado praticamente empatou: Campinas 42% e Jundiaí 41%.

Os shopping centers mais frequentados pelos itatibenses em Campinas foram o Dom Pedro Shopping (22%), o Iguatemi Campinas (21%) e o Shopping Galleria (1%) e, em Jundiaí, o Maxi Shopping (37%) e o Jundiaí Shopping (7%). Comparativamente, apareceu o mesmo índice para Campinas e Jundiaí – 44% para cada lado.

Em termos de lazer, Campinas saiu na frente, com 43% da preferência contra 27% de Jundiaí. Foram as opções mais procuradas barzinhos, cinemas e teatros. São Paulo também foi citada por 16% dos entrevistados.

Outra questão foi para onde eles se locomoviam para estudar. Trinta e sete por cento disseram que vinham para Campinas e 26% para Jundiaí. São Paulo foi destacada por 13% dos entrevistados. Os estudantes que vinham para Campinas se dirigiam em sua maioria para a Unicamp (22,1%) e PUC-Campinas (5,8%). Já no caso de Jundiaí, se dirigiam ao Centro Universitário Pe. Anchieta (9,3%) e Unip Jundiaí (9,3%).

Quando indagados sobre busca por atendimento médico especializado fora de Itatiba, o gráfico do estudo resultou bem concentrado entre Campinas e Jundiaí. Mas, a despeito disso, o maior número de pessoas preferia se locomover até Jundiaí (49,3%); Campinas (36,3%) vinha em seguida. 

Quando questionados sobre quais hospitais ou clínicas médicas procuravam utilizar nestas cidades, o gráfico apareceu bem fatiado. Em Jundiaí, os hospitais mais frequentados foram o Hospital Paulo Sacramento (13%), o Hospital São Vicente de Paulo (6%) e o Hospital Santa Elisa (3%), além de inúmeras clínicas particulares. Em Campinas, os hospitais mais frequentados foram o Hospital Vera Cruz (6%), o Hospital de Clínicas da Unicamp (3%) e inúmeras clínicas particulares.

O geógrafo procurou a Prefeitura de Itatiba para saber o motivo. De acordo com ele, na regionalização do Sistema Único de Saúde (SUS), Itatiba não fazia parte da região de Campinas, mas de Jundiaí. Nesse processo, quando há um tratamento de maior complexidade que não é atendido por Itatiba, primeiramente e obrigatoriamente o caminho é Jundiaí, depois Campinas.

Esse é um aspecto. Outro é que a maioria das empresas de Itatiba mantêm convênios com hospitais de Jundiaí. Logo, nota-se uma clara divisão entre os que vão para Jundiaí e os que vão para Campinas.

Entretanto, quem vai para Jundiaí ainda vai em maior número por questões históricas ou em razão de Itatiba ter feito parte de seu território. Essa relação é mais intensa, isso até pelo pedágio, que é mais barato a caminho de Jundiaí.

A pesquisa de Márcio procurou sondar também a população adulta que realizava movimento pendular para fins de trabalho, de acordo com o Censo do IBGE (2010). Em Itatiba, foi pouco expressivo o número de pessoas que trabalhava fora da cidade: somente 8%.

Normalmente, descreveu ele, os trabalhadores eram absorvidos na própria cidade. Dentro da RMC, o índice de movimentação pendular para fins de trabalho foi menor do que o de Campinas. Só não foi menor do que o índice de movimentação pendular de Pedreira – 7,6% –, que é muito baixo, diferente de Hortolândia, que é 49%, e de Sumaré, que é 40,5%.

Na dissertação, foram apontados a origem e o destino dos trabalhadores que saíam de Itatiba, segundo dados da Secretaria de Transportes Metropolitano (2012). A maioria ficava no município (90%). Não chegava a 1% os trabalhadores que se deslocavam para Campinas, Jaguariúna, Sumaré, Valinhos e Vinhedo.

 

Publicação

Dissertação: “Itatiba: entre a região metropolitana de Campinas e o aglomerado urbano de Jundiaí – contribuições ao estudo do processo de macrometropolização de São Paulo”

Autor: Márcio Adriano Bredariol

Orientadora: Regina Célia Bega dos Santos

Unidade: Instituto de Geociências (IG)