Edição nº 578

Nesta Edição

1
2
3
4
5
6
8
9
10
11
12

Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 07 de outubro de 2013 a 13 de outubro de 2013 – ANO 2013 – Nº 578

Um modelo para empreendedores

Pesquisador adapta dois métodos com diferentes funções para a gestão de empresas

Conforme pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), publicada recentemente no Brasil pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a taxa de empreendedorismo da população adulta brasileira atualmente é de 40%, contra 20% há uma década, o que mostra uma mudança da cultura de busca por emprego para busca de negócio próprio. Atualmente, 70% dos empreendimentos no Brasil são criados por oportunidade, não mais por necessidade.  

Logo, o empreendedorismo brasileiro vive uma fase aquecida, com jovens que surgem com ideias inovadoras e que almejam ter seu próprio negócio. Ao mesmo tempo apenas ideias inovadoras e vontade não são o suficiente. As estatísticas são desalentadoras para quem planeja o ingresso no mercado competitivo. Segundo o Sebrae, mais de 50% das empresas de pequeno porte fracassam no primeiro ano, 73% fecham em menos de três anos e 95% não superam os cinco anos.  

Projetar o modelo de negócio da empresa pode ser uma saída, pois ajuda a compreender o business que se deseja iniciar, especialmente quando se tratam de negócios inovadores. Ocorre que ele ainda está muito sujeito a abstrações. Faltam ferramentas que permitam verificar se o modelo projetado tem um desempenho válido na prática. 

Pensando nisso, o pesquisador Vinicius Minatogawa criou um modelo híbrido, adaptando dois métodos com diferentes funções para a gestão de empresas. Esse modelo é mostrado em sua dissertação de mestrado. O estudo foi apresentado à Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) e orientado pelo docente Antonio Batocchio. 

Com o Modelo de Negócios Canvas (em inglês Business Model Canvas), ele produziu uma representação do modelo de negócios e com o Balanced Scorecard (BSC) mediu o desempenho de uma empresa que gerencia vídeos on-line no Rio de Janeiro. O resultado foi positivo: a empresa deve incorporar esse modelo de negócios ao seu modus operandi. “Este será um modo de validar o método e difundi-lo”, conta Vinicius, que está disposto a repassar essa ferramenta às empresas de base tecnológica (startups) e às pequenas e médias empresas.

O Modelo Canvas é um instrumento de gerenciamento que se materializa por meio de um mapa visual, no qual se esboçam, em blocos, os pontos-chaves de um modelo de negócio, que delineia o caminhar de uma empresa. 

O autor da dissertação acrescenta que é possível usar o modelo de maneira complementar ao tradicional plano de negócios (composto por quatro tipos de planos: operacional, marketing, financeiro e estratégico), pelo fato deles terem funções diferentes.

Na opinião de Vinicius, toda empresa possui um modelo de negócios, mesmo que não saiba representá-lo e que o seu modelo seja até intuitivo. Isso porque toda empresa precisa criar valor para alguém, saber quem é o segmento de cliente para quem se está atribuindo valor e achar uma maneira de capturar valor, gerando capital.

Ele comenta que todos os aspectos posicionados nesse modelo vão para uma única tela ou folha de papel no método Business Model Canvas. São nove os blocos do “esquema”: atividades principais, recursos principais, parcerias principais, estrutura de custos, segmento de clientes, relacionamento com clientes, canais, fluxo de receitas e proposição de valor. Esse modelo foi criado pelos estudiosos Alexander Osterwalder e Yves Pigneur na Universidade de Lausanne, Suíça. 

No Canvas, a parte esquerda é mais ligada à operação do negócio e a direita ao cliente  – o valor que está sendo criado pela empresa, como será entregue, para quem está sendo entregue e, depois, qual o ganho e os custos que acarretarão.

 

Junção

Vinicius se debruçou sobre o assunto ao notar que o Modelo Canvas também poderia ser muito abstrato para o empreendedor se não tivesse a devida mensuração do desempenho do modelo de negócio. Visualizar não bastava.

Então ele partiu para o método Balanced Scorecard, desenvolvido pelo professor Robert Kaplan, da Harvard Business School. A opção pela metodologia baseou-se na propriedade do BSC, que faz tanto a medição como gerencia a performance da empresa. “Casamos o método Business Model Canvas com o Balanced Scorecard”, informa.

O BSC contempla os objetivos do negócio, os indicadores de desempenho e as iniciativas para alcançar as metas propostas. No Canvas, para cada um dos blocos na representação, há escolhas a fazer. “Com a junção dos métodos, se a empresa atingir as metas de sua escolha, valida-se o modelo de negócios. Caso contrário, o modelo é revisto, por não ter alcançado as metas esperadas. Mudam as iniciativas para atingir as metas, ou muda-se a escolha e altera-se o modelo de negócios”, frisa o mestrando.

O modelo de negócios de uma empresa é aprimorado durante o gerenciamento de desempenho. Se esse desempenho não está sendo favorável, precisa de intervenção. “É como dirigir um avião sem ter indicadores que mostrem que o combustível está acabando. As informações são fundamentais para conduzir o avião. Nosso modelo pode ter relevância, já que também permite explorar a inovação de modelos de negócios”, pontua ele. 

Para o professor Batocchio, o trabalho de seu aluno é relevante e inovador. O tema tem aplicabilidade crescente e poderá ajudar muitas empresas nascentes. No doutorado, Vinicius pretende testar esse modelo em pelo menos cinco pequenas empresas.

 

Publicação

Dissertação: “Estudo e adaptação de um método de gestão de desempenho de modelos de negócios em uma empresa nascente de base tecnológica (startup)”
Autor: Vinicius Luiz Ferraz Minatogawa
Orientador: Antonio Batocchio
Unidade: Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM)
Financiamento: Capes