Edição nº 555

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 25 de março de 2013 a 25 de março de 2013 – ANO 2013 – Nº 555

Bióloga traça perfil clínico de
portador de Doença de Chagas

Pesquisa demonstra que maioria dos pacientes é hipertensa
e usa vários medicamentos


Pesquisa de mestrado apresentada na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) revelou que os pacientes idosos atendidos pelo Grupo de Estudos em Doença de Chagas do Hospital de Clínicas da Unicamp estão, em sua maioria, na faixa etária entre 60 e 69 anos, são hipertensos e fazem uso de vários medicamentos para tratamentos de outras doenças. O estudo mostrou ainda que a forma cardíaca da doença é a mais prevalente entre os pacientes. “O perfil dos pacientes precisa ser conhecido para melhor entender como se desenvolve a doença e suas comorbidades e, assim, oferecer um serviço de qualidade para o doente. É o tipo de pesquisa que deve ser feito com frequência”, justifica a bióloga Mariane Barroso Pereira, cujo estudo foi orientado pelo professor Eros Antonio de Almeida.

Ademais, continua Mariane, idosos portadores de doenças crônicas necessitam de um maior cuidado, pois existe a possibilidade de ocorrência de outros problemas advindos com o avançar da idade. A bióloga lembra que a enfermidade, descoberta em 1909, já teve a via vetorial como sua principal forma de transmissão. Com o controle por parte das autoridades, a incidência de novos casos diminuiu, propiciando uma mudança nas características da população infectada. Atualmente, a população chagásica no Brasil é constituída, sobretudo, por portadores da forma crônica da doença. “Estes indivíduos estão envelhecendo e necessitam de acompanhamento clínico adequado, ou seja, trata-se de mais um motivo para se conhecer o perfil”, esclarece.

Para saber o histórico dos frequentadores do Grupo, a bióloga fez entrevistas com 85 pacientes e colheu depoimentos durante as consultas. Grande parte não se recordava de quando ou como teria sido picado pelo barbeiro ou triatomíneo, inseto transmissor do parasita, mas muitos possuíam antecedentes na família. Em geral, um parente de primeiro grau também tinha a doença, sendo que os entrevistados eram migrantes das regiões endêmicas do inseto. A prevalência da polifarmácia, segundo Mariane, foi alta. Em 34% dos idosos foi observado o uso de vários medicamentos. Em muitos casos, o paciente tomava cinco ou mais remédios para tratamento de outras doenças.

Uma segunda etapa da pesquisa consistiu em exames moleculares realizados no Laboratório de Diagnóstico de Doenças Infecciosas por Técnicas de Biologia Molecular, sob a responsabilidade da professora Sandra Costa. O teste conseguiu detectar a existência do parasita em apenas 36% dos pacientes. A baixa positividade no teste pode revelar que há uma pequena quantidade de parasitas da doença na maioria dos voluntários. “Trata-se de um bom resultado, porém necessita de um aprofundamento”, explica a autora do estudo. Este resultado só foi possível graças ao uso da biologia molecular para identificar a presença do DNA do Trypanossoma cruzi.

Os portadores há muito tempo se encontravam na fase crônica da doença e conviviam com o mal há, pelo menos, cinquenta anos. Para os testes, foram colhidas amostras de sangue e, segundo Mariane, realizar o exame molecular nas amostras foi o grande diferencial da sua pesquisa. A técnica aplicada nesse perfil de portadores da Doença de Chagas é inédita. “A amostra de sangue foi submetida a uma extração de DNA e amplificação gênica da região nuclear do parasita. É um exame demorado e as técnicas são muito sensíveis.”, define. Ela esclarece ainda, que este tipo de exame pode ser utilizado em conjunto com outros testes para auxiliar na detecção da doença.

Publicações
Dissertação: “Perfil clínico, laboratorial e epidemiológico de pacientes chagásicos idosos seguidos em um serviço de referência”
Autora: Mariane Barroso Pereira
Orientador: Eros Antonio de Almeida
Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)
Financiamento: Faepex