Edição nº 546

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 12 de novembro de 2012 a 25 de novembro de 2012 – ANO 2012 – Nº 546

Clóvis Tristão,
o funcionário-atleta

Técnico da área de informática da Feagri muda hábitos depois de cirurgia

 

Faz ao menos sete anos que Clóvis Tristão não perde o fôlego ao encarar os dois lances de escada que o levam à área de informática da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri), seu local de trabalho desde seu ingresso na Unicamp, em 1986. Depois de uma cirurgia do refluxo gastroesofágico, em 2006, ele subtraiu para sempre 30 dos 90 quilos que chegou a pesar na época. Também deixou para trás o quadro de hipertensão, a probabilidade de desenvolver diabetes e de ter uma vida curta como a da mãe, vítima fatal de infarto aos 60 anos. Apesar de os 30 quilos terem sido eliminados por causa de um acidente cirúrgico que causou o estreitamento do canal que conduz alimento para o aparelho digestivo, Clóvis decidiu se manter sempre próximo dos atuais 62 quilos para sempre, se possível. “Diante de tudo o que me aconteceu, quando me vi magro, decidi manter o peso e me garantir uma vida mais saudável.”

Clóvis aproveitou a nova forma física para se tornar um atleta amador e, nessa empreitada, foram muitas voltas caminhando pela Lagoa do Taquaral, em Campinas. Ao ver tanta gente passar por ele numa velocidade muito maior, pensou: “Por que eu também não posso correr?” E, sob cuidados médicos, se aventurou a correr. Correu tanto na pista de lazer que acabou em circuitos de provas. Numa dessas voltas, conheceu um atleta do Laboratório de Fisiologia do Exercício (Labex), que o estimulou a procurar a coordenadora Denise Vaz de Macedo.

Com essa história cheia de vontade e superação, Clóvis foi aceito e tornou-se mais um funcionário-atleta da Unicamp. Apesar de não apresentar o mesmo tempo de todos eles, recebeu com alegria e dedicação as orientações do treinador Lucas Tessutti, doutor pela Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp. Hoje, é treinado por Carlos Eduardo da Silva. Diz o atleta que, com orientações, o tempo melhorou de 2007 até agora. 

Ao ser aceito no Labex, que tem parceria com o Grupo Gestor de Benefícios (GGBS) da Unicamp, Clóvis ampliou seu time de “cuidadores”, acrescentando às orientações de seu cardiologista um treinador, um fisiologista, uma nutricionista, que lhe dão toda a estrutura necessária para aprimorar seu rendimento. São esses especialistas que provêm a todos os funcionários-atletas orientações sobre alimentação, tipo de tênis ideal, postura correta, exame de sangue, planilha de treino, entre outros cuidados.

Disposição

Essa oportunidade foi observada somente depois dos infortúnios. Não que lhe faltassem convites, mas o sedentarismo o impedia. Praticar atividade física e abrir mão da dieta costumeira não lhe passava pela cabeça. Hoje, ao dialogar com outro Clóvis, o que substituiu as medicações pela prática de esporte, ele não passa um dia sem treinar. A rotina mudou sua vida e ele espera que mude também a vida de muitas pessoas que tiverem contato com sua história. Um dia de trabalho é bem menos árduo que antes, pois as atividades mudam o humor e dão disposição para encarar a jornada. A qual, aliás, inicia na Unicamp às 8h30 e termina quase no dia seguinte, em outra faculdade, na qual é professor universitário.

Nada de dieta rígida, o atleta sabe que precisa de todos os nutrientes para uma boa performance. Em 2011, foi submetido a uma segunda cirurgia para corrigir o estreitamento e passou a comer de tudo, mas sem exagero e com orientação. “Nada que seja severo. Nada que fuja do dia a dia de uma alimentação normal. Muitas vezes as pessoas gastam fortunas, por conta, em dietas que não sabem se vão dar certo. Ou podem até emagrecer, mas causam efeito sanfona. Volta tudo”, argumenta. A vida moderna, em sua opinião, faz com que as pessoas não percam tempo preparando o próprio alimento e muito menos arranjem tempo para cuidar da saúde.

O gosto pelo esporte não eliminou apenas alguns quilos da vida de Tristão, mas baniu de seu cérebro uma fobia da infância: a natação. “Tinha pavor de pensar em nadar”. Hoje, por incentivo da filha, já pode se render ao convite do mar. Antes, na praia, a imensidão azul seria somente para contemplação. A professora Maria Lúcia (Marilu), de 62 anos, também tem seu mérito a ser citado. “Eu não chegava ao centro da piscina, mas ela me acompanhava com muita paciência e dedicação. Hoje não fico sem praticar natação”. Apesar de Marilu ter dado “alta” do medo pelo fato de o aluno ter apreendido tudo o quanto precisava, Clóvis faz questão de continuar sendo aluno para aprimorar os estilos.

Mais que prazer, a natação é importante aliada nas corridas, pois aprimora o aparelho respiratório, a resistência, além de relaxar a musculatura, segundo o atleta. Uma mostra de que para ser um corredor não basta calçar tênis e sair acelerado pela pista. Precisa de disciplina, dedicação, condicionamento, além daquele oferecido pelo laboratório.

Na pista, mesmo em busca de uma medalha e de melhorar seu tempo em dez quilômetros de circuito, Clóvis sabe que sua condecoração é a vida saudável, que lhe dá a possibilidade de desfrutar por muito mais anos do amor da filha, Rebeca Zavan Tristão, e da mulher, Deise Zavan Tristão, que conheceu na Unicamp.

Informática

Em seus quase 30 anos na Unicamp, Clóvis aprendeu a aprender. Na adolescência, mesmo não sabendo ao certo de que serviriam os estudos, ouviu atentamente os conselhos do professor Paulo Martins Leal, até hoje seu incentivador nas atividades administrativas, acadêmicas e na docência. Com ele, Clóvis assina alguns projetos e já tem outros em vista. “Não sei onde estaria hoje, se não estivesse na Unicamp. Minha ambição era concluir o colégio e conseguir um emprego apenas, mas a Unicamp aponta não para um leque de oportunidades, mas para o horizonte. Fui incentivado por funcionários mais experientes e professores a estudar. Um deles foi o professor Leal”, declara Clóvis, que veio parar na Universidade por acaso. Em 1986, ao acompanhar um amigo na fila de inscrições para vagas de mensageiro, foi estimulado pela atendente a se inscrever também. Mesmo com resistência da mãe, que acreditava ser cedo para trabalhar, ele fez a inscrição, depois de convencê-la.

Clóvis trabalha na área de administração de redes e, ao perceber o interesse do funcionário por informática, Leal fez questão de lhe mostrar que tinha potencial para realizar muito mais atribuições além das suas. Diante disso, quando Clóvis concluiu o ensino médio, Leal pagou a primeira mensalidade do funcionário num curso pré-vestibular.  “Ele foi comigo até a porta, pois eu dizia que não iria fazer faculdade”, brinca Clóvis.
Com o apoio do professor, Clóvis ingressou no curso de matemática da PUC-Campinas, mas interrompeu para esperar o crescimento de Rebeca. Depois de um tempo, retomou os estudos na área de ciência da computação na Unisal, em Campinas. Mais tarde, teve a oportunidade de frequentar um curso de especialização em redes na Unicamp. “A área de administração de redes abriu portas para eu realizar projetos de informática aplicada à agricultura”, relata.

A insistência e a curiosidade de menino fizeram de Clóvis um professor de informática. Ao chegar para trabalhar como patrulheiro mirim na Feagri, em 1987, ficava menos em seu departamento por ter sido atraído pelo Laboratório de Informática (Labin). “Eu vivia importunando o analista de sistemas Rogério Psciotto, com perguntas e dúvidas. Por indicação dele, pegava livros na biblioteca e estudava em casa”, recorda. A sequência de fugas desagradou às secretárias da faculdade, que precisavam do funcionário para outras atividades.

A vontade era aprender cada vez mais, e Leal, na época um dos chefes do departamento, ofereceu-lhe cursos de informática. Com os cursos, mostrou às secretárias o quanto tinha condições de ajudá-las ainda mais no dia a dia. Em pouco tempo, tornou-se responsável pela manutenção e, em seguida, foi convidado pela direção da Feagri para atuar ao lado dos técnicos do Labin. “Aprendi muito nessa época. Além disso, a carreira de informática era diferenciada da administrativa e o salário era de 30% a 40% mais valorizado que o do mercado. Dentro do laboratório, tive contato com diversas tecnologias e literalmente vi a Internet nascer dentro da Unicamp”, disse.

Hoje, orgulha-se de ser profissional de uma área tão promissora como a de tecnologia e poder transmitir isso a seus alunos, mas, apesar da fascinante “facilidade” promovida pelo avanço tecnológico, ele pondera: “A base de tudo está nos livros. Não abro mão da leitura de publicações impressas”, declara.

Comentários

Comentário: 

PARABÉÉÉÉNNNSSS, Clóvis, você é um verdadeiro exemplo de garra, coragem e determinação.
Que Deus te dê muitas, e muitas corridas pela frente com muita Saúde e disposição.
Abraço.
Nadir.

camacho@unicamp.br

Comentário: 

eu to iniciando atividade fisica agora, e você, nesta matéria me motivou muito! que determinação!

pcsouza@unicamp.br

Comentário: 

Parabébs, Clovinho! Você merece essa trajetória! Garra, determinação e humildade são para poucos, você é um desses! Muito mais sucesso na sua caminhada.

silviapg@unicamp.br

Comentário: 

Grande Clovis, um bom exemplo a ser seguido. Que nao seja uma cirurgia, como no seu caso, ou algum acontecimento grave de saude o motivo para mudar seus habitos alimentares ou sair do sedentarismo. A UNICAMP, como disse Clovis é um local de muitas e diversas oportunidades para toda a sua comunidade, porem é preciso ter vontade e responsabildade para aproveita-las.

castrojr@ifi.unicamp.br

Comentário: 

Clóvis,
Tenho muito orgulho de compartilhar a vida com você !
Você é um exemplo de pessoa determinada, e merece essa trajetória de sucesso.
Te amo!
Deise

deise@nipeunicamp.org.br

Comentário: 

Nem me Lembrava Clovis mas me sinto muito feliz por ter contribuido na sua vida...
um grande abraço,,,,
Roger

rogepisc@hotmail.com

Comentário: 

Parabéns Clovis, grande exemplo para os demais Funcionários. Atividade física sempre.

Comentário: 

Parabéns Grande Clóvis!

Faltou você dizer que orienta e incentiva muito os que estão começando na corrida.

Parabéns e obrigado, que o Senhor Jesus abençoe você e sua família.

Luiz Cláudio

lclaudio@fcm.unicamp.br

Comentário: 

Clóvis. Desde mensageiro, um cara sério, compromissado. Era um daqueles que eu, ainda menininho, notava que teria um futuro interessante dentro da própria UNICAMP.
Agora, vejo esta homenagem da instituição a você.
Parabéns. Você merece!