Observatório Institucional da Unicamp: conceitos, propostas e plano de ação Covid-19 e os desafios futuros

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Em 2016, quando da revisão do planejamento estratégico da Unicamp para o período 2016-2020[I], postulou-se que uma universidade mais digital deveria se tornar realidade ao final de 2020. Pensava-se, naquela ocasião, apenas nos processos administrativos e gerenciais e não nos processos acadêmicos, pois não se considerava viável e/ou desejável ambicionar estratégias relacionadas ao e-learning, nem sequer como complemento das atividades didáticas presenciais. Não se ignorava, entretanto, que o e-learning já estava entre as estratégias das melhores universidades mundiais e, mesmo sem substituir as atividades puramente presenciais, já poderia agregar valor ao processo formativo do estudante. Atrelado a isso, o processo ativo de aprendizagem já se colocava como um elemento de extrema importância e o e-learning como um possível facilitador de qualidades formativas como autonomia e atitudes mais pró-ativas ao processo de ensino-aprendizagem. Esperava-se que as atividades remotas poderiam complementar as atividades presenciais.

Com o diagnóstico de que o mundo digital se tornava uma realidade cada vez mais presente, a PRDU buscou enfaticamente ajudar a Unicamp na necessária transformação de processos administrativos, com relativo sucesso em alguns casos, mas ainda com muitas lacunas ainda presentes. Podem ser destacados exemplos de sucesso da implantação daquela estratégia, tais como a tramitação digital dos processos de teses e dissertações, e que, posteriormente, avançou na direção de possibilitar as defesas em sessões remotas. Diplomas e certificados de conclusão de cursos são hoje assinados digitalmente, eliminando as assinaturas físicas e a circulação dos processos por múltiplos órgãos da administração. Convênios e contratos acadêmicos podem tramitar e serem assinados digitalmente. Se a Unicamp conseguiu se tornar mais digital, ainda não o fez de modo suficiente. A ampliação dessa estratégia não foi mais ampla devido a existência de nichos de resistência às mudanças em alguns setores da administração universitária e às múltiplas dificuldades tecnológicas que os sistemas transacionais da Unicamp apresentam.

A pandemia do COVID-19 veio de forma disruptiva, trouxe o mundo digital para dentro da Unicamp, o que era impensável nos idos de 2016 aconteceu em 2020. Inseriu no nosso contexto, de forma implacável, o mundo digital, sem pedir licença, sem negociar consentimentos. Se do ponto de vista administrativo o impacto foi heterogêneo e muitas das atividades puderam se adequar rapidamente, outros órgãos da administração, que no passado resistiram às mudanças, hoje enfrentam mais dificuldades. Se teses e dissertações hoje são defendidas na forma remota com relativa facilidade, foi porque a universidade conseguiu adequar seus processos ao mundo digital, permitindo que a vida acadêmica continuasse sem grandes intercorrências. Se a sessão de defesa pode ocorrer de modo remoto, é porque há plataformas implantadas e disponíveis e porque há um certo nível de conhecimento institucional para esse processo. O mundo digital foi entrando na Unicamp, viabilizando, em parte, o trabalho acadêmico, mas há imensos desafios.

A COVID-19 está causando um impacto imenso na sociedade do mundo, tanto na vida pessoal quanto na vida profissional, interferindo na saúde física e mental das pessoas. Esses impactos ocorrem na saúde, mas são também de natureza social e econômica, e no caso do Brasil contém componentes políticos e éticos. Atingem de modo desigual populações, sempre de modo mais impiedoso nos grupos sociais mais vulneráveis. Aprofunda o gap social e dificulta a pactuação de uma forma organizada e socialmente justa para a saída da crise.

Mundo afora[II], os impactos são sentidos de forma contundente, e cada universidade está adaptando-se, reorganizando-se em tempo real para enfrentar a nova realidade, de modo subordinado à evolução da pandemia. No caso da Unicamp, não foi diferente. Implantou-se de modo abrupto o ensino remoto, o fechamento dos laboratórios de ensino e de pesquisa, a virtualização das atividades acadêmicas, a completa reorganização dos serviços administrativos e a reestruturação dos serviços da área da saúde, etc. Além disso, a enorme queda de arrecadação obrigou a Unicamp a contingenciar recursos, cancelar investimentos, contratações e promoções, buscar recursos suplementares com a sociedade civil, entre outras ações, além de colocar um nível de incerteza sobre o futuro nunca antes experimentado. E, para compor o quadro crítico, o isolamento social reduz e dificulta a convivência fraterna entre familiares e amigos e o contato interpessoal entre alunos, docentes e funcionários. Há, portanto, instalado um stress institucional e pessoal que a instituição precisa compreender e dimensionar, e a partir desse conhecimento, precisa estabelecer ações de múltiplas naturezas para mitigação das tensões.

Nesse cenário, é importante acompanhar as experiências de outras universidades para capturamos as ações bem sucedidas e, em conjunto com as nossas, compor o mosaico de experiências incorporando-se como parte ativa desse processo de superação. Esta é uma das atitudes que devem ser realizadas diuturnamente. Uma dessas experiências relatadas na literatura[III],[IV] visa apreender a percepção da comunidade sobre a situação vivenciada.

Em 2019, a CGU criou um órgão equivalente a um Institutional Research[V] seguindo modelos das melhores universidades do mundo, e que na Unicamp denominou-se Escritório de Dados. Esse órgão, ainda em implantação, tem como funções principais, prover e analisar dados para que decisões administrativas e acadêmicas possam ser tomadas com mais segurança. Também entre suas funções estão as de elaborar relatórios institucionais e realizar análises qualitativas sobre os mais variados assuntos de interesse institucional. Alinhada às funções desse órgão, o projeto estratégico Observatório Institucional Unicamp se coloca na perspectiva de produzir análises à administração e às comunidades interna e externa acerca das percepções da comunidade relacionadas aos mais variados tipos de assuntos, mapeando a evolução e as transformações concernentes à relação Universidade-Sociedade, bem como orientando a administração nas decisões a serem tomadas ou nas ações a serem implantadas. Em alguns casos as análises se baseiam em pesquisas de opinião.

A Unicamp possui um Centro de Pesquisa Interdisciplinar especializado em Pesquisa de Opinião, o Centro de Estudos em Opinião Pública, CESOP. Naturalmente a sinergia entre as atividades do CESOP e a necessidade da universidade em realizar pesquisas de opinião levou a criação de um projeto conjunto, o Observatório Unicamp. Este Observatório, sediado no CESOP, atuará na captura das percepções das pessoas por meio de pesquisas de opinião com metodologias próprias, o que qualificará os resultados suprindo a administração com informações detalhadas, bem fundamentadas e analisadas de acordo com as melhores práticas científicas. A administração não terá nenhuma influência sobre a metodologia, sobre a coleta e análise dos dados, conferindo à pesquisa a legitimidade que deve ser inerente à prática. O Observatório será dinâmico, atuando em pesquisas sob demanda da administração nesse primeiro momento, mas poderá ele próprio, com base em sua própria experiência, propor à administração assuntos relevantes que poderão ser prospectados.

Seguindo essa dialética, e estando ciente das inúmeras dificuldades que a pandemia COVID-19 está impondo a todos os segmentos da Unicamp e à sociedade como um todo, a administração propôs ao Observatório Unicamp, como primeiro projeto da parceria com o CESOP, a captura da percepção da comunidade acadêmica a respeito do desenvolvimento das atividades em tempos de pandemia. A análise destas informações dará à administração a oportunidade de propor ações que auxiliem nas dificuldades deste momento. Sabe-se que os impactos da pandemia são percebidos de modo diferente em cada um dos três segmentos da comunidade universitária (alunos, funcionários e docentes/pesquisadores), e por isto o Observatório, com a colaboração da CGU e da PRG, desenvolveu três instrumentos um pouco diferentes, a serem aplicados a cada segmento.

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Além de captar a percepção neste momento, tem-se como objetivo: criar um processo de acompanhamento com enquetes subsequentes após a implantação dos planos de ação decorrentes do diagnóstico oriundo da pesquisa. Além disso, o Observatório se constituirá em um repositório de dados e de informações sobre a Unicamp, permitindo que se acompanhe o desenvolvimento institucional da Universidade.

Esse primeiro projeto, por razões óbvias, está dirigido ao assunto da pandemia, porém o Observatório não limita sua atuação apenas a este tema. Fará parte das suas ações o desenvolvimento de pesquisas em outros temas relevantes que requeiram conhecimento mais aprofundado e organizado sobre temáticas de interesse institucional. Essa experiência comporá o conjunto das boas práticas da gestão universitária, em uma instituição pública que busca permanentemente a excelência, em coerência com o que preconiza a Rede Federal de Inovação no Setor Público, rede essa que a Unicamp passou a integrar recentemente. O desafio de Inovar no Setor Público deixou de ser uma opção, passou a ser uma necessidade, e a Unicamp tem bons exemplos para dar.

Finalmente, destaca-se que este Observatório pode ser um locus para identificar e, se possível, prevenir problemas, para realizar estudos e para propor soluções e planos de ação, bem como para acompanhar e avaliar os resultados alcançados, dando publicidade e transparência por meio dos resultados das pesquisas com construção de séries históricas. Importante enfatizar que uma proposta dessa natureza tem alguns requisitos essenciais para o sucesso: identificação do problema a ser prospectado; criação de um bom instrumento para capturar as percepções; boas metodologias de coleta e análise dos dados; mas acima de tudo, exige participação e compromisso com a busca de soluções.

A pandemia está aí, é um fato. Uma das muitas contribuições da Unicamp no processo de mitigar os efeitos sobre a comunidade é simples: investir alguns poucos minutos respondendo às perguntas da pesquisa, com a compreensão da sua importância. A contribuição da administração é a de implantar ações para mitigar os efeitos da pandemia na vida profissional de cada um, com planos de ação objetivos e que tenham efetividade. A Unicamp está se dedicando a mitigar os efeitos. Iniciativas múltiplas foram tomadas no âmbito do ensino, com as tentativas bem sucedidas de suporte aos alunos, de reorganizar os grupos de pesquisa, com muitos tendo se voltado ao assunto da pandemia, de se colocar a serviço da sociedade na realização dos testes com a competência que já se demonstrou, de mobilizar um enorme conjunto de profissionais da área da saúde na linha de frente do atendimento, ações diversas de solidariedade, etc. Mas a magnitude do problema exige mais. Esse Observatório é mais uma das múltiplas ações qualificadas que a Unicamp pode realizar.

Agradecimentos: a todos os que tornaram essa ideia possível, inclusive aqueles que estão dando suporte tecnológico para que a pesquisa se concretize. E a todos que dela estão participando. Agradecimento especial ao Prof. Oswaldo do Amaral (Diretor do CESOP) e equipe do CESOP por aceitar esse desafio.

 

Milena Pavan Serafim é professora doutora de Administração Pública na Faculdade de Ciências Aplicadas (Unicamp). Uma das coordenadoras do Observatório Institucional da Unicamp. Assessora da Coordenadoria Geral da Unicamp (CGU). http://orcid.org/0000-0002-7541-4182.

Teresa Dib Zambon Atvars é professora titular do Instituto de Química onde atua como docente desde 1978 na área de Físico-Química, foi Pró-reitora de Pós-graduação 2005-2009, Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário 2013-2016. Atualmente é Coordenadora Geral da Universidade desde 2017. Foi a primeira mulher a ocupar os cargos de Pró-reitora e de Coordenadora Geral na Unicamp. http://orcid.org/0000-0001-7471-3730.

 

 

 

 

 

 


[I] Planes 2016-2020. https://www.geplanes.cgu.unicamp.br/geplanes/static/planes/Planes_2016_2020.pdf

[II] COVID-19 and Higher Education: Today and tomorrow. Impact analysis, policy responses and recommendations. Abril 2020. Thechnical team of the Unesco International Institute for Higher Education (IESALC). http://www.iesalc.unesco.org/en/wp-content/uploads/2020/04/COVID-19-EN-090420-2.pdf.

[III] Adunicamp – Boletim Especial. Relatório sobre Condições de Trabalho Remoto Docente na Unicamp no Contexto da Pandemia de Covid-19. Julho 2020.

[IV] E. M. Aucejo, J. F. French, M. P. U. Araya, B. Zafar, NBER Working Paper 27392, junho 2020, JEL 12, 123, 124. 

[V] M. M. Beppu, T. D. Z. Atvars, M. P. Serafim. Indicadores de Desempenho Acadêmico: Unicamp no Horizonte 2022, Cap. 3, p.61-83. Repensar a Universidade II. Impactos para a Sociedade, J. Marcovitch (organizador) ComArte 2019.

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Observatório Unicamp, em parceria com o CESOP, pesquisará a percepção da comunidade acadêmica a respeito do desenvolvimento das atividades em tempos de pandemia

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