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Salto em 3D
Tecnologia tridimensional é usada na FEF
em avaliação de atletas de alto nível

 

MARIA ALICE DA CRUZ

A tecnologia 3D (tridimensional) serve não apenas para tornar a exibição de um filme mais emocionante. Ela também tem tornado mais fidedignos os resultados de avaliação de desempenho de muitos atletas brasileiros, acompanhados por pesquisadores da área de biomecânica. Os campeões olímpicos de salto em distância Maurren Maggi e Irving Saladino, treinados pelo brasileiro Nélio Moura, mestre pela Unicamp, estão entre os atletas de alto nível que tiveram seus movimentos detalhadamente capturados e analisados por meio de variáveis cinemáticas pela pesquisadora da Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp Jerusa Petrovna Resende Lara e pelo grupo do Laboratório de Instrumentação para Biomecânica (LIB).

A dissertação de Jerusa, desenvolvida no LIB, teve como objetivo analisar tridimensionalmente as variáveis cinemáticas do salto em distância de atletas de alto nível em ambiente competitivo. Dentre as análises, foi testada a variabilidade em variáveis cinemáticas tridimensionais nos saltos em distância destes atletas. A pesquisadora analisou cinco saltos de cada atleta durante cinco edições do Grande Prêmio de Atletismo, realizadas no Brasil no ano de 2008.

Os resultados obtidos por meio do software DVideo, desenvolvido em 2003 no Laboratório de Biomecânica da FEF para análise cinemática de diferentes modalidades esportivas, mostram que, de fato, os atletas devem buscar controlar as variáveis de saída da tábua, buscando reduzir sua variabilidade e atingir seus valores ótimos, indicados em tabelas apresentadas ao técnico e na dissertação pela pesquisadora. Ela explica que na velocidade vertical de saída da tábua, para ambos os atletas, a variabilidade foi sendo até dez vezes maior que a variabilidade da distância saltada. O ângulo de saída e a velocidade horizontal de saída da tábua, segundo a pesquisadora, também apresentaram valores superiores à variabilidade da distância saltada. Os resultados puderam ser apresentados ao técnico – pois muitas vezes era inviável a reunião com todos – a partir do cálculo do Coeficiente de Variação.

Além da variável de distância oficial do salto, foram consideradas as variáveis de velocidade horizontal do centro de massa no instante de entrada na tábua, ângulo entre o vetor velocidade do centro de massa e a horizontal, altura do centro de massa no instante de saída na tábua, velocidade horizontal do centro de massa no instante de saída da tábua e velocidade vertical do centro de massa no instante de saída da tábua. A trajetória do centro de massa do atleta foi calculada usando o modelo antropométrico proposto por Vladimir Zatsiorsky e Alexander Seluyanov (em publicação de 1990), segundo a autora.

Jerusa explica que um dos diferenciais da pesquisa é a possibilidade de saber por meio da análise tridimensional o quanto o atleta corre horizontalmente, o quanto se desloca lateralmente e verticalmente, já que a maioria dos estudos encontrados na literatura oferece somente análises bidimensionais. O software desenvolvido na FEF permitiu estimar, quadro a quadro, cada centro articular do atleta, como centro articular do ombro, cotovelo, punho, quadril, joelho, tornozelo, entre outros. Segundo Jerusa, 18 pontos foram manualmente digitalizados em cada uma das imagens dos vídeos gerados por seis câmeras rigorosamente instaladas no corredor de saltos, na tábua de salto e na caixa de areia. “Com ele, consigo dimensionar, posicionar e orientar o segmento do atleta durante todas as fases do salto. Ele me fornece a proporção de uma movimentação tridimensional”, explica Jerusa. Ela esclarece que o rigor na instalação das câmeras, em treinos e competições, foi essencial para a obtenção de resultados eficientes para o técnico dos atletas, pois permitiu capturar as variáveis de maior importância para o desempenho do salto em distância, nas fases de aproximação, de decolagem dos saltos (takeoff) e de aterrissagem. Embora muitas vezes o ponto exato das câmeras para a análise fosse disputado pelas câmeras da emissora de TV que liderava a transmissão dos campeonatos.

O fato de ter uma ferramenta desenvolvida no próprio laboratório também coloca os pesquisadores da Unicamp em situação privilegiada, já que em outros lugares os estudos são feitos com pacotes prontos, oferecidos a R$ 400 mil. O DVideo permite que o programa seja adequado às necessidades de cada grupo de pesquisa. Outra vantagem é que no sistema da Unicamp é possível desenvolver os protocolos de acordo com a necessidade do pesquisador, enquanto os pacotes fechados não permitem modificações e adequações. “A performance real do atleta ocorre em um ambiente complexo de competição, no qual muitas das condições não são controláveis e alguns protocolos-padrão para análise biomecânica não podem ser usados”, explica Jerusa.

Ela enfatiza que seria inviável o uso de marcadores sobre o corpo do sujeito, controle da luminosidade do local, uso de luz infravermelha e posicionamento das câmeras de vídeo para aquisição das imagens em qualquer local da pista de salto. De acordo com a pesquisadora, a possibilidade de se avaliar um atleta em condições laboratoriais controladas, mesmo aqueles especificamente desenhados para este fim, é limitada, uma vez que o desempenho do atleta é afetado por condições ambientais específicas do local de competição, como piso, vento, temperatura, umidade e outros fatores que interferem psicologicamente no atleta, entre eles o nível de estresse, o tipo de competição, o desempenho dos outros atletas, a sequência de ocorrência dos resultados, entre outros. “Para que se obtenha uma análise biomecânica com alto grau de validade, é desejável que as variáveis biomecânicas sejam obtidas em ambiente real de competição”, esclarece.

O retorno do técnico também foi importante no desenvolvimento do trabalho, segundo Jerusa, “Muitas vezes, ele nos consultava sobre o que poderia fazer para melhorar o movimento rotacional de um atleta ou uma velocidade específica”, acrescenta a autora. A margem de risco de erro descrita no trabalho também foi apresentada ao técnico. Por exemplo, no caso de Saladino, a velocidade horizontal ideal de saída da tábua quando obteve o campeonato seria de 8,53, mais ou menos 0,3 metro por segundo. “Calculei e apresentei na dissertação um estudo sobre reprodutibilidade e replicabilidade das variáveis cinemáticas, podendo assim estimar todas as fontes de erro sistemático e aleatório, explica Jerusa.

Cumprimentos

Jerusa não teve muito contato com os atletas durante o trabalho, mas em uma das competições em que compareceu como torcedora foi cumprimentada e agradecida pelos atletas, que a observavam ao longe, salto a salto, com seu aparato profissional. Formada em física pela Unicamp, sempre sonhou em trabalhar com esporte, cuja concretização se deu com participação da FEF na Rede Cenesp da Secretaria Nacional do Esporte (parceria entre universidades e governo federal), da qual o Laboratório de Biomecânica faz parte.

No mesmo projeto, além de Maurren e Saladino, Jerusa também analisou a relação das variáveis cinemáticas de 17 saltos de nove atletas masculinos de alto nível em competição no Grande Prêmio Rio Caixa de Atletismo no ano de 2007. A ideia era realizar uma análise de regressão linear múltipla nas fases de aproximação, impulsão e voo. Para entender a relação entre as variáveis cinemáticas estudadas e a distância saltada, a física recorreu a três análises diferentes: uma destinada à descrição dos saltos por meio das variáveis; outra sobre a correlação linear simples entre as variáveis cinemáticas e a distância saltada; e uma terceira envolvendo a regressão linear múltipla por meio do método stepwise.

Como resultado, Jerusa concluiu que a velocidade escalar do centro de massa no touchdown (quando o atleta toca a tábua de salto) foi responsável por 40% da variabilidade da distância predita. Enquanto isso, a altura máxima do centro de massa na fase de voo foi responsável por 16%, e a distância do pé de apoio do atleta na tábua de impulsão teve 12% de contribuição na variabilidade da predição da distância saltada para um modelo com dez variáveis candidatas ao modelo de predição inicialmente.

Um segundo modelo, em que as velocidades escalares foram substituídas pelas componentes das velocidades do centro de massa e 14 variáveis formaram o conjunto de variáveis candidatas à predição da distância saltada, a velocidade horizontal do centro de massa no touchdown contribuiu com 44% da variabilidade da distância saltada, enquanto a velocidade vertical do centro de massa no touchdown contribuiu 30% e o ângulo de ataque 14%.

De acordo com Jerusa, uma parte da pesquisa mostra que as variáveis de velocidade podem ser reproduzidas e reaplicadas para valores superiores 0,09 metro por segundo enquanto variáveis angulares, acima de 0,67 grau.

Ela esclarece que para esta parte dos estudos contou com dez observadores de ambos os sexos. Coube a eles fazerem cinco medições cada um de um mesmo salto em distância sob as condições que definem reprodutibilidade e replicabilidade. As medições permitiram calcular as variáveis cinemáticas do salto em distância na fase de impulsão. Também foram realizadas análises de valores de variância intra e inter observador e cálculos de valores de erro padrão, considerados como os valores abaixo do qual as variáveis cinemáticas são reprodutíveis e replicáveis.

Jerusa esclarece que a contribuição do trabalho para obtenção dos títulos conquistados por Maurren e Saladino tenha sido pequena, por ter iniciado o trabalho apenas seis meses antes da Olimpíada de Pequim. Mas sabe, pelo retorno do técnico e pelo agradecimento de Maurren, que em algum momento a biomecânica ofereceu aparato 3D para a emoção vivida no pódio.

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■ Publicações

Dissertação: “Análise cinemática tridimensional do salto em distância de atletas de alto nível em competição”
Autora: Jerusa Petrovna Resende Lara
Orientador: Ricardo Machado Leite de Barros
Unidade: Faculdade de Educação Física (FEF)

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