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A outra vida de artista

ator Caio Blat e a cantora lírica Ana Ariel formam um casal de jovens artistas engajados em campanhas comunitárias. Mas consolidar o objetivo de promover ações em favor dos pobres, como se fez por meio da Associação Amigos das Crianças (Amic), não é tarefa fácil. “Trabalhávamos em Barão Geraldo (distrito de Campinas) e decidimos estender a atividade para outros locais. Quando mudamos para o Vida Nova, uma das pessoas que nos receberam foi assassinada e, depois de dois, três anos tivemos de sair também. Fomos para o Campo Belo, perto do Aeroporto, onde alertaram que era muito perigoso para a gente se instalar lá, inclusive politicamente. Fomos então para o Monte Cristo, onde conseguimos autorização para instalar o programa”, conta Ana Ariel, sofregamente, como se o tempo fosse reduzido para relatar tanta experiência nos seus apenas 19 anos de idade.

Quando cantou pela primeira vez no Vida Nova, Ana tinha treze anos e reuniu um público de trinta mil pessoas. Como forma de aproximação com essa população, o repertório continha músicas de cunho religioso. “Nós fizemos um voto de consciência, de que neste momento existem milhares de pessoas morrendo de fome e não adianta ficar parado. Usamos o universalismo das religiões para chegar até o povo. Tem espíritas, católicos e protestantes. Quando chega o Natal, um pastor fala aos evangélicos, o padre Mariacchi aos católicos e minha mãe (Eliana Luís dos Santos, presidente da Amic) que é espírita, também faz uso da palavra. É um ato ecumêmico”, resume a cantora. “De princípios cristãos básicos”, acrescenta Caio Blat, de 21 anos, marido de Ana Ariel.

Caio Blat informa que, apenas com perfumes, os norte-americanos gastam US$ 12 bilhões por ano, o suficiente para erradicar a fome no continente, e os europeus, o suficiente para saciar os famintos do planeta. “Se cada um fizer um gesto cristão básico, mínimo, de dar o que sobra, o que lhe é supérfluo, pode combater a fome. O Betinho dizia que isso não é um sonho impossível e que não basta indignação, é preciso ação”, prega o protagonista da novela “Um anjo caiu do céu”.

Boca-a-boca – Para Ana, o que funciona para a arrecadação de recursos é o “boca-a-boca”, pedindo a adesão das pessoas individualmente, até que se forme uma pirâmide de solidariedade. “Eu não tenho dinheiro, mas tenho boca. Então peço a cinco pessoas que arrumem cinco reais, essas cinco vão pedir para outras cinco e assim multiplicamos as doações”, simplifica. O grupo vende cestas de verduras, rifas, pizzas, a fim de adquirir as cestas básicas que são distribuídas à população carente. “Fizemos broches e brincos com as nossas alianças e rifamos. Uma aliança se transforma em quinze mil reais em arroz”, detalha.

O fato de serem figuras públicas ajuda no trabalho de conscientização junto a empresas e artistas. “Conseguimos fechar uma campanha com a Texaco para doação de um centavo por litro de gasolina vendido, que será destinado a quatro entidades, entre elas a Amic”, informa Caio. Em uma reunião recente no Ministério Público do Estado perguntaram ao casal se nos shows eles liam os direitos democráticos dos favelados. “Respondi que não consigo ler sequer os direitos nutricionais e alimentícios deles. Como eles vão saber o que é direito democrático se não sabem nem o que é comer?”, questiona Ana, indignada.

Caio Blat atua em campanhas sociais desde os 9 anos de idade. Ana começou a ensinar música para crianças do Educandário do Village aos 13 anos. Também têm uma ONG contra o aborto e ainda promovem outras campanhas, contra as drogas, a violência e pelos direitos de presidiários.


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O que é a Amic

A Associação Amigos das Crianças (Amic) distribui alimentos para aproximadamente 9.000 famílias carentes cadastradas de 123 bairros de Campinas. No último domingo de todo mês, quatro ônibus cedidos por empresários saem do Mercado Municipal, às 6 horas da manhã, transportando pessoas informadas sobre a distribuição de alimentos. Passam por outros bairros recolhendo famílias para levar ao Monte Cristo, onde à meia-noite do sábado a fila já dá volta no quarteirão em que se localiza a entidade. Muitos vão a pé. A distribuição de cestas básicas é seguida de show com artistas e crianças.

A demanda cresceu tanto que a Amic criou uma “cesta-socorro” para seis mil famílias: é uma versão reduzida da cesta básica, capaz de abastecer os necessitados por apenas alguns dias, para amenizar o excesso de demanda.

Caminhões transportam 15 toneladas de arroz por mês, 4,5 toneladas de feijão, além de macarrão, fubá e outros itens. Na “Casa da Sopa”, uma cozinha industrial instalada provisoriamente no Parque Oziel, há distribuição de sopa e alimentos prontos toda quinta e domingo. No Village, bairro de área rural próximo a Barão Geraldo, onde funciona o Educandário Francisco Cândido Xavier, além da sopa, 160 crianças da região recebem atendimento integral, com alimentação e atividades como música, dança e teatro. A idéia é instalar uma unidade no Monte Cristo, mas ainda falta verba.

Existe um projeto de ampliação da cozinha do Oziel, prevendo também a instalação de padaria e restaurante, mas que dependia de recursos que não foram arrecadados. A possibilidade atualmente oferecida é de construir ali uma escola municipal, onde a cozinha faria parte da unidade de ensino. “A cozinha deve produzir alimentos para a merenda e também o sopão para a população. Poderemos, ainda, treinar os próprios alunos da escola para processar alimentos e difundir noções de higiene com material didático”, explica Hilary Menezes, diretora associada da FEA. O pessoal da Engenharia Civil da Unicamp também está engajado no projeto, visando a adequação física do local para as novas atividades.

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Novo pensamento empresarial

Na parábola, o passarinho tenta apagar um incêndio de grandes proporções na floresta jogando pingos de água. Questionado se seu esforço vale a pena, retruca que está fazendo a sua parte. A maioria das entidades assistenciais sente-se assim, como uma gota no oceano, além do mais contra a corrente, para viabilizar boas intenções.

Mudar a essência do pensamento empresarial é o principal objetivo de um movimento denominado EDC (Economia de Comunhão), que já agrega 80 empresas no Brasil e 800 no mundo. A idéia é promover a participação integral dos funcionários na empresa – sistemas de produção, atividades, objetivos e lucros – e também em iniciativas sociais. “As empresas promovem ações sociais para fora, não para dentro. A administração deve ser vista como algo vivo e não como uma máquina. A soma das partes de uma máquina é um todo, mas a soma das partes de um ser vivo é mais que isso”, filosofa o engenheiro Rodolfo Leiboltz, diretor da Femaq, uma metalúrgica de Piracicaba.

Desde o início das mudanças na empresa, a produtividade pulou de 30 toneladas/homem ao ano para 90 toneladas, enquanto a média brasileira é de 25 a 35 e a mundial alcança 70 toneladas. O faturamento passou de US$ 35 mil para US$ 100 mil por mês. “Todos diziam que íamos quebrar a cara, mas os números estão aí para provar que a administração participativa é possível”, comemora.

Segundo Leiboltz, a iniciativa privada investe em ações sociais quando vislumbra um retorno de marketing ou outras vantagens financeiras e não há um compromisso com resultados. Grandes empresas são mais resistentes a mudanças que as pequenas, pela própria estrutura de organização e hierarquia. Diante dessa realidade, ele resolveu criar uma sociedade anônima denominada Espri, que reuniu 3.600 sócios e investimentos iniciais modestos que somaram um capital de R$ 2 milhões. A Espri construiu um pólo industrial em Perus que hoje possui seis pequenas empresas, com aproximadamente 100 empregados cada, todas com fórmulas genuínas de administração. Esta sociedade anônima presta ajuda atualmente a 10 mil necessitados.

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Para tocar corações

 


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