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Especialistas explicam por que a saúde bucal
é parte indissociável das condições gerais do indivíduo


Livro demonstra a importância da Odontologia para a saúde sistêmica

RAQUEL DO CARMO SANTOS

A cirurgiã-dentista Juliana Pasti Villaba, organizadora do livro Odontologia e Saúde Geral: visão ampliada do conceito de saúde bucal  (Foto: Antoninho Perri)A Odontologia foi vista, durante muitos anos, como uma área isolada no âmbito da saúde. As afecções da boca raramente eram relacionadas ao sistema orgânico do indivíduo. O profissional atendia em seu consultório, mas sem integrar-se a outras áreas da saúde. Nesse contexto, a I Conferência Nacional de Saúde Bucal, realizada em Brasília em 1986, foi um divisor de águas. A partir do evento ficou estabelecido que a saúde bucal era parte integrante e inseparável da saúde geral do indivíduo. “Cada vez mais estudos apontam que muitas condições sistêmicas podem ser causadas ou ter seu quadro clínico agravado em decorrência de doenças bucais”, destaca a cirurgiã-dentista do Centro de Saúde da Comunidade (Cecom) da Unicamp Juliana Pasti Villaba, organizadora do livro Odontologia e Saúde Geral (Editora Santos), a ser lançado no próximo dia 8 de maio, às 19h30, na Associação dos Cirurgiões-Dentistas de Campinas.

Obra reúne artigos de 29 profissionais de várias áreas

Juliana e outros 28 colaboradores assinam artigos científicos que demonstram, em linhas gerais, uma visão ampliada do conceito de saúde bucal. Teses defendidas na Unicamp estão em boa parte da publicação, além de relatos de experiências profissionais que envolvem ações interdisciplinares e multiprofissionais. Direcionada a estudantes, dentistas, enfermeiros, médicos e outros profissionais da área da saúde, a obra preenche uma lacuna no que diz respeito à literatura específica para esta abordagem.

A cirurgiã-dentista conta que, em sua experiência como professora universitária em uma instituição privada, sentia falta de uma bibliografia que concentrasse trabalhos que apontassem como e por que a Odontologia poderia ser útil para uma equipe multidisciplinar. “Os estudos estavam publicados de forma isolada e, por isso, havia certa dificuldade em demonstrar a importância do profissional com a visão ampliada de saúde bucal. Ao perceber que existiam vários trabalhos sobre o tema, decidi reuni-los numa única publicação”, explica.

A necessidade de formação de um novo perfil profissional na área de Odontologia foi compreendida por Juliana há alguns anos ao longo de sua trajetória no departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, onde concluiu sua formação de mestre e doutora em Saúde Coletiva. A especialista defende a tese de que o dentista não apenas trata os dentes para evitar a perda ou para que o indivíduo não sofra com dores. “Muitos acreditam nisso ou até mesmo evocam questões éticas. Não é só isso. Envolve muitas outras coisas”, esclarece.

Segundo Juliana, para uma perfeita harmonia, não basta estar em ordem com a mastigação, fonação ou deglutição – a saúde geral é importante nesse contexto. Um caso que ilustra esta questão é um dos artigos do livro, no qual é ressaltada a importância de um paciente que será transplantado passar por tratamento odontológico e eliminar todo tipo de foco de infecção na boca. O cirurgião-dentista Manoel Loyola Agustinho, também do Cecom, apresenta o trabalho realizado há 18 anos com pacientes que se submeteram a transplante de fígado.

Neste sentido, Juliana destaca a importância de alertar os profissionais da saúde para as evidências que os estudos oferecem. É importante, segundo a especialista, a aplicação dos resultados na clínica, pois a prática poderá evitar seqüelas de perigosas afecções de ordem geral decorrentes de problemas na boca. Outro exemplo são as complicações do câncer da boca, doença cada vez mais presente entre a população brasileira. Em termos mundiais, estimativas divulgadas em 2005 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que este tipo de tumor é o décimo primeiro mais comum, apresentando alto grau de morbidade e mortalidade.

Em 2001, o atendimento odontológico foi inserido no Programa de Saúde da Família – implantado em 1994 –, como uma necessidade de melhorar as condições de saúde bucal da população. Por outro lado, o Sistema Único de Saúde (SUS), ao estender os espaços para o profissional de Odontologia, também possibilitou discussões para a reorganização e ampliação das ações de atendimento básico. Este aspecto é tratado em um dos capítulos dedicado especialmente à abordagem da formação do cirurgião-dentista, tema apresentado na tese de doutorado de Juliana.

Respiração – O fato de uma criança ou mesmo um adulto respirar pela boca, e não pelo nariz, pode acarretar conseqüências físicas. Juliana – que assina um capítulo com o fisioterapeuta Wander de Oliveira Villalba e a fonoaudióloga Roseane Ribeiro S. Meira – explica que, neste caso, o atendimento deve ser multiprofissional por envolver vários fatores. A procura por um ortodontista poderia ser uma opção. O paciente recebe o aparelho ortodôntico mas, se o atendimento não for ampliado, pode ter outras conseqüências. “O paciente precisa aprender a deglutir, respirar pelo nariz e, muitas vezes, necessitará do acompanhamento de um fisioterapeuta ou de um médico, se for diagnosticado adenóide, por exemplo. Caso não tenha este atendimento, mesmo quando retirar o aparelho corre-se o risco de o mesmo problema voltar. Por isso, não maioria das vezes, não adianta apenas o dentista cuidar do caso”, afirma Juliana.

Intervenção odontológica em transplantados é abordada

Em 18 anos de serviços prestados no Centro de Saúde da Comunidade (Cecom) da Unicamp, o cirurgião-dentista Manoel Loyola Augustinho já atendeu mais de mil casos de pacientes que precisaram de intervenção odontológica no pré e pós-transplante hepático ou outros órgãos.

“Nosso papel é garantir que o doente entre em cirurgia sem nenhum tipo de afecção bucal que possa comprometer o órgão transplantado”, explica Augustinho, que assina, com a médica Ilka de Fátima Santana Ferreira Boin, um dos capítulos do livro.

Na espera pela cirurgia, enquanto outros profissionais da saúde realizam os procedimentos pré-cirúrgicos, o dentista integra a equipe multidisciplinar, visando um atendimento global à saúde do doente, mesmo no pós-transplante. O maior objetivo no tratamento bucal é a prevenção de bactérias provenientes da boca que poderiam levar a uma infecção sistêmica.

“O tratamento dental no pós-transplante deve se preocupar principalmente com o risco de infecções. Dentes cariados e doença periodontal ativa são considerados como fontes de infecções. Por isso o cirurgião-dentista tem um papel fundamental na equipe”, ressalta.

As experiências de Manoel Augustinho vivenciadas ao longo dos anos foram relatadas em sua dissertação de mestrado, apresentada na Faculdade de Ciências Médicas. Na pesquisa, o cirurgião-dentista focou 364 casos, cujos resultados comprovam a importância do tratamento dentário no pré e pós-transplante. “Os dados podem ser estendidos para os casos de transplantes em outros órgãos como coração, medula, rim ou pâncreas”, esclarece.

Quimioterapia – Já no capítulo desenvolvido pela cirurgiã-dentista Fernanda Raquel Vieira Tojal, pelo oncologista Luiz Carlos Teixeira e pela bióloga Fátima Böttcher-Luiz, é defendida a necessidade do tratamento odontológico como forma de prevenir complicações locais em pacientes que serão submetidos à quimioterapia.

A idéia, segundo Fernanda, é que os pacientes sejam atendidos antes das sessões de quimioterapia para uma adequação bucal. “Além de prevenir o aparecimento de febre e infecções, a prática poderia contribuir para otimizar o procedimento”, explica a cirurgiã-dentista.

Fernanda apurou em dissertação de mestrado, na qual baseou-se em atendimento a pacientes em tratamento oncológico, que a falta de prevenção acarreta dor, morbidade e, com isso, o aumento dos custos do procedimento devido a hospitalizações mais prolongadas e cuidados intensivos de suporte de vida.

Outra questão abordada é com relação aos adiamentos ou diminuições dos ciclos quimioterápicos. “Em alguns casos, a mucosite bucal, a complicação mais reconhecida da quimioterapia antineoplásica, é tão grave que o paciente não consegue se alimentar e, conseqüentemente, enfrenta problemas na ingestão dos medicamentos”, explica.

Para Fernanda, o tratamento do câncer é complexo e envolve, geralmente, o trabalho de diversos especialistas. Neste sentido, o cirurgião-dentista pode e deve contribuir com as atividades desenvolvidas pela equipe multiprofissional direcionadas à prevenção, tratamento e reabilitação dos pacientes.

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