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Dermatologista investiga casos brasileiros de uma doença rara

RAQUEL DO CARMO SANTOS

A dermatologista Mariam Patrícia Aueda Souto: doença deve ter vindo com europeus no século 16 (Foto: Antonio Scarpinetti)As mutações do gene causador da síndrome de Sjögren-Larsson – dermatose genética com alterações neurológicas – mereceram atenção especial da dermatologista Mariam Patrícia Auada Souto em seu trabalho de doutorado realizado na Faculdade de Ciências Médicas (FCM). A enfermidade, embora rara, apareceu no Brasil há 40 anos e sua maior prevalência pode ser observada na Suécia, onde foram registradas as primeiras ocorrências. Ao longo dos anos, os casos se espalharam para os países da Europa e alcançaram o Oriente Médio. Por isso, a pesquisa conduzida por Mariam Souto procurou conhecer a procedência da doença no Brasil, uma vez que o país não constitui o universo provável para o recebimento dos casos raros. Uma indicação, a partir dos resultados do estudo da dermatologista, é que a doença possa ter entrado no país com a imigração européia ocorrida no século 16. Isso porque a mutação específica nos casos brasileiros se assemelha geneticamente com os registros de pacientes espanhóis.

Dermatose evolui para problemas neurológicos e paralisia

A síndrome de Sjögren-Larsson é uma enfermidade decorrente de deficiência enzimática e evolui para retardo mental e paralisia dos membros. Os principais sintomas aparecem nos primeiros dias de vida, quando a pele do bebê nasce ressecada e semelhante a escamas de peixe, um tipo de ictiose que perdura para sempre, causando desconforto e coceira no paciente. “A expectativa de vida é variável, mas com baixa qualidade”, informa a dermatologista. O diagnóstico não é simples e depende de um conjunto de avaliações de profissionais geneticistas, neurologistas e dermatologistas. Trata-se de uma doença denominada autossômica recessiva – os pais do paciente não têm a enfermidade, mas são portadores do gene que a causa. “Na maioria dos casos, os pais são parentes próximos, fator que aumenta o risco de adquirir a síndrome”, explica a pesquisadora.

O interesse de Mariam Souto por esta doença rara surgiu há cerca de quatro anos, quando realizava residência médica em dermatologia no Hospital das Clínicas (HC) da Unicamp. Em contato com dois irmãos portadores da doença e acompanhando a mãe gestante de um terceiro filho sob risco de também contrair a síndrome, a dermatologista intuiu que poderia atenuar a evolução do quadro da doença no bebê que nasceria. Para isso, incluiu no tratamento da criança, nos primeiros meses de vida, uma dieta sem gorduras, uma vez que o problema decorre do metabolismo de lipídeos no organismo. A proposta deu certo, com a ajuda do gastropediatra Edgar Collares. “A criança possui alterações neurológicas leves e seu estado geral é melhor que de seus irmãos também doentes e não tratados”, afirma. A experiência, porém, não pode ser vista como uma uma comprovação científica, pois foi realizada apenas em um caso.

Grupo maior – Num segundo momento, Mariam Souto se propôs a estudar os aspectos clínicos, histológicos, estruturais e moleculares de dez pacientes acompanhados no HC. Entre crianças e adultos, a pesquisa foi constituída de várias etapas para caracterizar os casos brasileiros da doença. A utilização de imagens digitais para análise da textura da pele possibilitou compreender as alterações que levavam até a doença. “Detectou-se alterações na arquitetura da pele, o que não era possível enxergar com microscópio”, diz. Este estudo foi realizado junto ao Departamento de Anatomia Patológica, sob orientação dos professores Konradin Metze e Maria Letícia Cintra, além do professor Neucimar Leite, do Instituto de Computação (IC) da Unicamp. Parte da pesquisa ocorreu no Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG), orientada pela professora Edi Lúcia Sartorato. Houve ainda a colaboração do pesquisador americano William Rizzo, da Universidade de Nebraska, tendo sido ele quem descobriu o defeito bioquímico da doença.

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