Leia nesta edição
Capa
Aparelhos ortodônticos
Cartas
Ortodontia voltada à saúde
Radar meteorológico
Boneco automobilístico
Instituto de Matemática
Mandarim 20 e 21
Latim nas universidades
Leveduras
Grade de horários
Eficiência na indústria
Painel da semana
Teses
Livro da semana
Unicamp na mídia
Portal da Unicamp
LiNICS
Microscópio de força atômica
Projeto Todos Nós
 


2

Artigo

Pesquisadores da FOP criam
aparelhos ortodônticos especiais

DARCY FLÁVIO NOUER
PAULO ROBERTO ARANHA NOUER
NADIA LUNARDI

Foto: Antoninho PerriO recém-nascido apresenta o crânio e a face desproporcionais, visto que na fase intra-uterina ocorre a completa formação do crânio e apenas o parcial desenvolvimento da face do ser humano. Grande parte do desenvolvimento facial ocorre no período pós-natal e está intimamente relacionada às funções vitais normais e equilibradas, como a respiração bucal, a sucção e a deglutição. A passagem de ar pelo nariz, as contrações musculares ocorridas durante a sucção e a deglutição são grandes estímulos para o desenvolvimento ósseo e dentário da face. Portanto, se estas funções estiverem normalizadas, teremos um desenvolvimento harmônico da face, mas caso forem deficientes, irão refletir no crescimento facial.

Deste modo, as funções normais da amamentação (sucção), deglutição e respiração e mímica promoverão: estímulo ao crescimento e desenvolvimento ósseo, que influencia na forma facial e harmonia da oclusão; aumento do fator imunização, redução dos riscos de processos alérgicos; posicionamento correto da língua; excelente exercício muscular, evitando super-alimentação; e fonação correta por estímulos da posição lingual adequada.

Foto: Antoninho PerriNa instalação dos hábitos de respiração e deglutição anormais pode-se observar: infecções repetidas nas vias aéreas superiores; sono agitado; halitose (mau hálito) e xerostomia (boca seca); irritabilidade e/ou agressividade sem causa aparente; distúrbios do crescimento e desenvolvimento facial; distúrbios de escolaridade (falta de atenção); tosse crônica; distúrbios posturais; posturas incorretas da mandíbula e dentes; assimetrias faciais.

O cirurgião dentista, em especial o ortodontista ou odontopediatra, defronta-se diariamente, na sua clínica, com pacientes apresentando pressionamento atípico (errado) da língua. Os principais desvios observados na deglutição atípica são respectivamente: pressionamento da língua contra os dentes durante a deglutição (quando na deglutição normal a maior parte desta pressão é exercida contra o palato), ausência da contração dos músculos da bochecha e participação dos músculos da boca durante esta função.

Um exame clínico minucioso é de grande importância para detectar a causa da deglutição atípica, pois apresenta um grande número de fatores etiológicos que, geralmente, encontram-se associados. Dentre eles destacam-se desequilíbrio do controle nervoso, amídalas inflamadas, tamanho anormal da língua, perdas dentárias precoces, espaços entre os dentes anteriores, estado de nutrição, hábitos alimentares na primeira infância.

Classificação – Os professores Darcy Flávio Nouer e Paulo Roberto Aranha Nouer preconizaram, em 1987, um sistema de classificação que organiza a deglutição atípica com interposição lingual de acordo com o posicionamento da língua durante o ato da deglutição. Diante de deformações dentárias e maxilares visualizadas clinicamente, ela é dividida em deglutição atípica com interposição lingual alta, média e baixa, sendo:

alta: apresentam perfil convexo, trespasse horizontal, diastemas (espaços entre os dentes) nos incisivos superiores, palato ogival, atresia maxilar, mordida aberta, cruzamento posterior e hipotonia do lábio superior;

média: o pressionamento lingual entre as arcadas superior e inferior determina a inclinação para frente dos incisivos superiores e inferiores, diastemas anteriores, mordida aberta, perfil convexo e recessão gengival;

baixa: geralmente apresentam perfil côncavo, devido à expansão do arco inferior nos limites transversal e horizontal, diastemas entre os incisivos inferiores, cruzamento anterior e/ou mordida de topo, língua volumosa, deficiência maxilar.

A terapêutica destas posições anormais será fundamentada nestas observações clínicas, sendo eleita a aparelhagem em função das causas e posicionamento lingual. Entretanto, deve-se ressaltar que métodos cirúrgicos e mecânicos não são suficientes se não estiverem associados a métodos reeducadores. A prática, a conscientização e o treinamento mioterápico permitirão que o redirecionamento do padrão normal de deglutição gradativamente passe do nível consciente para o subconsciente. Portanto torna-se difícil conseguirmos resultados satisfatórios, pois não se trata do abandono de um simples hábito, mas sim da transformação de um comportamento e condicionamento de outro reeducado para normalidade. Embora os fonoaudiólogos tragam grande auxílio com o emprego de métodos reeducativos, parece-nos de grande importância uma tentativa de terapêutica simultânea ao atendimento clínico pelos ortodontistas e odontopediatras.

Placa “Nouer” – Dando continuidade aos seus estudos, Darcy Flávio Nouer e Paulo Roberto Aranha Nouer desenvolveram um aparelho ortodôntico para pacientes na fase de crescimento que apresentavam posicionamento baixo da língua ou geniano. Este aparelho é confeccionado para o arco inferior, diferentemente dos demais reeducadores linguais conhecidos na literatura, e tem como objetivo: reeducar a postura viciosa da língua, desestimular o crescimento longitudinal do arco inferior; propiciar a erupção normal dos incisivos superiores e inferiores; evitar a ação modeladora da língua no sentido longitudinal; eliminar problemas de deglutição; favorecer o crescimento maxilar e promover a respiração normal.

Este novo aparelho, denominado de “Nouer 1”, associado a uma seqüência de exercícios para reeducar a língua num correto posicionamento dentro da cavidade oral, demonstraram ser eficientes na obtenção de uma deglutição normal e conseqüente estímulo ao desenvolvimento facial harmônico (Maraccini & Nouer, 1997).

Casos severos – Preocupados com casos mais severos, principalmente em relação à atresia maxilar, os professores acrescentaram uma extensão lateral à placa geniana de “Nouer 1”, com a finalidade de equilibrar o desenvolvimento transversal da maxila não somente estimulando a pressão da língua no palato, mas também evitando a pressão contrária dos músculos da bochecha afastando-os por meio desta extensão lateral – era a a placa geniana de “Nouer 2”.

Empenhados em colaborar na correção da maloclusão de Classe II (maxila posicionada à frente da mandíbula devido a hipodesenvolvimento mandibular) com pressão lingual na região baixa ou geniana, foi elaborada a placa geniana de “Nouer 3”, que diferentemente das anteriores apresenta um fio guia na região antero-superior com a finalidade de reduzir o desenvolvimento maxilar, extensão lateral e anterior em torno do arco inferior para evitar a compressão da musculatura da bochecha e do lábio na mandíbula, que aliada a uma pista acrílica entre os dentes superiores e inferiores, tem como objetivo estimular o desenvolvimento mandibular deficiente, orientando o crescimento normal e reeducando toda a musculatura peribucal.


Darcy Flávio Nouer e Paulo Roberto Aranha Nouer são professores do Departamento de Ortodontia e Nadia Lunardi é mestre em Ortodontia pela Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP)

SALA DE IMPRENSA - © 1994-2005 Universidade Estadual de Campinas / Assessoria de Imprensa
E-mail: imprensa@unicamp.br - Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP