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Dieta inibe efeitos de agentes causadores de úlceras

RAQUEL DO CARMO SANTOS


A nutricionista Luciana Di Pietro Magri: dieta ricas em fibras protege mucosa gastrointestinalDepois de quatro anos de pesquisa, a nutricionista Luciana Di Pietro Magri constatou que alimentos ricos em fibras, se consumidos uma hora antes de agentes indutores ou causadores da úlcera gástrica ou duodenal, protegem a mucosa gastrointestinal. Os estudos foram feitos no Laboratório de Produtos Naturais, do Instituto de Biologia da Unicamp. Essa dieta – que pode ser feita à base de solúveis predominantes em frutas, hortaliças e leguminosas – inibe, em média, 60% dos efeitos maléficos nas mucosas que revestem o estômago e o intestino delgado (duodeno). Por isso, a nutricionista recomenda a ingestão de, no mínimo, um prato de sobremesa de verduras, um de legumes e uma fruta em cada refeição. “Se ingerir bebidas alcoólicas, jamais o faça com o estômago vazio”, aconselha. Luciana, que focou sua pesquisa na polpa de laranja e na goma guar (utilizada na produção de sorvetes), receita também o consumo diário de feijão.

Pesquisadora usou goma e polpa de laranja

Outro fator apontado como causador da úlcera é o estresse. Neste caso, Luciana afirma que uma boa alimentação pode ser a solução para evitar a proliferação da lesão. Em seu trabalho de doutoramento “Dieta rica em fontes de fibras alimentares: efeitos sobre a mucosa gastrointestinal ulcerada de ratos”, orientada pela professora Alba Regina Monteiro Souza Brito, e co-orientada pelo professor Miguel Arcanjo Areas, ela esclarece que a incidência da úlcera péptica – tanto gástrica quanto duodenal – ocorre fundamentalmente quando há um desequilíbrio entre os fatores que agridem e os que protegem o organismo.

Segundo a nutricionista, entre os fatores agressores estão o estresse, fumo, alimentação inadequada, álcool e o uso de alguns tipos de antiinflamatórios, além da bactéria Helicobacter pylori. Na lista dos protetores estão: o bicarbonato, o fluxo sangüíneo, a prostaglandina – ação que inibe a secreção ácida e estimula a secreção de muco e bicarbonato – e a somastatina, inibidor do hormônio gastrina, estimulante da secreção ácida. “O desequilíbrio destes fatores é largamente estudado pelos especialistas, assim como a utilização de substâncias potencialmente úteis contra esta patologia”, explica. Além dos custos diretos como hospitalização, honorários médicos, medicamentos e cirurgia, também existem os indiretos como perda da capacidade produtiva e dos ganhos profissionais.

Alimentos com fibras – A nutricionista, com experiência de 17 anos em dietoterapia, realizou seus experimentos com polpa de laranja e goma guar, alimentos com altos índices de fibras. A goma guar é oriunda de uma planta indiana, cuja consistência cremosa é utilizada para a produção de sorvetes e geléias. Já a polpa da laranja é constituída pelas vesículas que armazenam o suco e a membrana que separa as vesículas em gomos. Ela explica que anteriormente já havia trabalhado com esses produtos em estudos para analisar os efeitos fisiológicos em diabéticos e, portanto, tinha familiaridade com o material.

A metodologia aplicada envolveu o tratamento agudo com as fontes de fibras previamente ao agente indutor de úlcera, nos roedores. No caso do etanol, a goma guar, promoveu inibição de 67% das lesões gástricas. Misturando a polpa de laranja à goma, a porcentagem de inibição foi de 51%. Um outro agente utilizado na experiência foi a indometacina (antiinflamatório não esteroidal) aplicada na forma subcutânea. Com a ingestão apenas da goma guar, a proteção foi da ordem de 81%. Somente com o tratamento da polpa de laranja foi 30%, sendo que na mistura entre os dois a marca de proteção subiu para 83%. Luciana também verificou que a polpa de laranja reduziu em 76% a área da lesão no duodeno e, a goma guar apresentou 29%.

Os testes dos tratamentos também foram realizados em roedores acomodados em gaiolas individuais e coletivas. Os ratos sozinhos em suas gaiolas ulceraram muito menos, com lesões próximas a 25 milímetros, sendo que os animais em gaiolas coletivas tiveram lesões de 75 milímetros. Isto indica que o fator estresse é bastante significativo para o aparecimento da doença.


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