| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 399 - 16 a 22 de junho de 2008
Leia nesta edição
Capa
Corte, costura e memória
Xenofobia pintada de amarelo
Arte oriente
Dekasseguis
Ideogramas
Parceria bem-sucedida
Haicai
Japão ilustrado
 


12


Japão
ilustrado

CLAYTON LEVY

Antes que o mangá se tornasse uma das marcas registradas da arte japonesa, um antepassado seu, o emaki, já fazia sucesso no país do sol nascente. Surgida no período Nara, cujo início remonta ao século 8 da era cristã, essa modalidade artística associava textos e imagens num rolo de papel para contar histórias da vida cotidiana. Em formato horizontal, as estampas reproduziam personagens, objetos e situações, numa espécie de narrativa visual que perdurou até a era Edo, no século 16, quando os rolos foram substituídos por livros.

A professora Maria Emiko Suzuki, tradutora da obra: "As imagens falam por si mesmas"  (Fotos: Antoninho Perri/Reprodução)Em 1974, após visitar uma exposição de emaki no Museu Nacional de Tóquio, o artista plástico Shigeo Nishimura ficou fascinado com o gênero e decidiu resgatá-lo. Passou a dedicar-se à antiga técnica de desenho japonês e, em 1985, publicou o livro História do Japão em Imagens. Acertou na mosca. Reunindo 32 ilustrações ricas em detalhes para contar a trajetória do povo japonês desde a pré-história, a publicação tornou-se um grande sucesso, cuja primeira versão em português será lançada em julho pela Editora da Unicamp em parceria com a Imprensa Oficial do Estado.

Ao longo de 87 páginas, a arte de Shigeo Nishimura leva o leitor a uma viagem de milênios, desde os primeiros colonizadores até o Japão contemporâneo, passando pela ascensão e queda de suas principais dinastias, a constante reorganização de suas forças internas, a consolidação do estado durante a Era Meiji, na segunda metade do século 19, a experiência de duas guerras mundiais no século 20 e a construção do país moderno de hoje.

Segundo o diretor da Editora, Paulo Franchetti, foram necessários dois anos de negociações com os editores japoneses, que exigiram fidelidade total na qualidade das imagens. O resultado valeu à pena. Trata-se de um livro de arte, quatro cores, papel couchê e capa dura, que se mantém fiel à edição japonesa. As ilustrações em páginas dupla (56 cm x 26 cm) praticamente reproduzem o tamanho original das estampas e dão a exata noção do patamar artístico de Nishimura.

Os textos do autor se restringem às legendas nas ilustrações e a breves comentários mais detalhados sobre os elementos que as compõem. Ainda assim, casam perfeitamente, no tom e no estilo, com o traço delicado e ao mesmo tempo expressivo de Nishimura. Cada gravura vale por uma crônica da vida cotidiana, em que o artista contextualiza as diferentes épocas que marcaram o dia-a-dia do povo japonês. “É uma forma original de homenagear os cem anos da imigração japonesa, já que não se trata de um livro técnico”, diz Franchetti.

O trabalho de tradução ficou a cargo da professora Maria Emiko Suzuki, do Centro de Ensino de Línguas (CEL) da Unicamp. Segundo ela, o maior desafio não foi propriamente traduzir o texto, mas realizar um mergulho na cultura japonesa a fim de identificar elementos que já não fazem parte dos dias atuais. Para isso, ela contou com a participação de dois alunos do curso de História da Unicamp, que estudavam o japonês básico no CEL. Gustavo H. G. de Almeida e Marcelo Y. Cunita, segundo ela, foram fundamentais para contextualizar o vocabulário e resgatar informações relacionadas a cada período histórico.

“Embora não tivessem tanto conhecimento na língua japonesa, acredito ter feito a opção correta, pois eles possuíam formação para decodificar de modo acertado cada fase histórica e, principalmente, o vocabulário relativo a objetos e hábitos que hoje se tornaram raridades”, conta a professora. “Foram muitas idas e vindas, mas tenho a satisfação de ver confirmado o importante papel dos cursos de língua estrangeira da Unicamp”, completa.

Também pesou para o sucesso do trabalho o fato de a professora ser antiga admiradora do artista japonês. Há vinte anos, numa de suas viagens ao Japão, Emiko ganhou do próprio Nishimura um exemplar autografado. “Ao deparar com a obra, senti que era amor à primeira vista”, recorda. De lá para cá, o livro passou a ser uma importante referência para o trabalho da professora.

Quando começou a trabalhar na Unicamp, em 2002, Emiko instalou na sala de aula um varal onde passou a pendurar cópias coloridas das gravuras, anexando o texto em japonês e a respectiva tradução. “Acreditava que, para os alunos entenderem o Japão de hoje, seria preciso também conhecer um pouco de sua história”, explica. A estratégia deu certo. Para a professora, a linguagem estética das gravuras, por ser lúdica, exerce um efeito positivo sobre o observador de todas as idades. “As imagens falam por si mesmas”, conclui.




















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