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Jornal da Unicamp - Junho de 2000

Página 3

EXTENSÃO
Aurélio, em busca da prata
Universidade treina paraatleta rumo à Olimpíada de Sydney

Isabel Gardenal

Duas semanas depois das Olimpíadas, que acontecem em setembro na Austrália com a participação de mais de 10.000 atletas em 28 modalidades esportivas, dão-se as Paraolimpíadas, a versão dos Jogos Olímpicos para deficientes físicos. Dela participam nada menos que 4.000 paraatletas, 75 deles do Brasil. Essa equipe deve incluir Aurélio Guedes dos Santos, deficiente visual, nas provas de fundismo (com distância superior a 5.000m). Para que isso aconteça, falta o atleta passar pela seletiva nos Jogos Paradesportivos no RJ, em junho, e ratificar as suas melhores marcas. Aurélio é hexacampeão brasileiro nos 800m, septacampeão nos 1.500m, pentacampeão nos 5.000m, bicampeão nos 10.000m, vice-campeão no Campeonato Sul-Americano de 1994 nos 800m, 1.500m e 5.000m, e campeão pan-americano de 1995 em Buenos Aires nos 800m e 1.500m.

Aurélio beneficiou-se de um trabalho interdisciplinar desenvolvido na Unicamp, colaboração entre o Laboratório de Fisiologia do Exercício do Instituto de Biologia (IB) e a Faculdade de Educação Física (FEF). Graças ao condicionamento físico, baseado em avaliação de dosagem bioquímica que alterna esforço e repouso, o atleta obteve índice olímpico na maratona dos 10.000m e, se tudo der certo, esta será a sua segunda Paraolimpíada – A primeira foi a de Atlanta.

Perfil do atleta – Aurélio, 37 anos, enfrentou em 1987 um acidente de moto e uma lesão cerebral, que lhe custou a perda de 95% da visão e de parte do olfato. Mas tal tragédia não impediu Aurélio de perseverar. "Ele passou por uma recuperação que veio mudar totalmente a sua vida, renascendo para a prática do esporte", diz o seu atual treinador, Ciro Winckler de Oliveira Filho, mestrando em Fisiologia do Exercício da FEF.

"Passei a viver melhor quando me tornei cego", testemunha Aurélio. De acordo com a classificação do Comitê Paraolímpico Internacional, Aurélio é um atleta B2. O deficiente visual classifica-se em três grupos para competir em igual nível com os demais atletas: Blind 1 (B1) – cego total, B2 – quem tem 5% da visão e enxerga somente vultos, e B3 – quem tem até 10% da visão e consegue definir pessoas.

Aurélio procurou a Unicamp em busca de um centro de tratamento médico mais avançado. De início, passou a participar de um trabalho de atividade motora na FEF, cuja ação envolve, além de exercícios motores, atividades esportivas. Aurélio começou pelo atletismo, visando à sua reintegração à sociedade, mas, aos poucos, conseguiu obter bons resultados.

Se em 1992 não alcançou a classificação na seletiva para as Paraolimpíadas de Barcelona, pelo menos foi um ano particularmente decisivo, pois ele passou a campeão brasileiro e venceu vários campeonatos nacionais. No mesmo ano, assumiu um cargo na Secretaria de Esportes e Lazer da Prefeitura de Marília, após ter sido aprovado em concurso público – até então vivia de aposentadoria.

Ainda assim continuou os treinamentos, competindo pela cidade. A princípio, o professor da FEF José Júlio Gavião de Almeida – seu primeiro incentivador na Unicamp – enviava-lhe os treinos a distância, os quais cumpria à risca. Em determinado ponto, Aurélio foi se desligando da Universidade e se integrando à equipe de atletas não-deficientes de Marília.

Uma grande virada aconteceu em 1996, com a classificação de Aurélio nas Paraolimpíadas de Atlanta. Na competição, trouxe um quarto lugar e dois quintos, respectivamente nos 800m, 1.500m e 5.000m. "Fui bem, mas não trouxe a tão sonhada medalha", lembra Aurélio. De 96 a 99 deixou de participar de eventos internacionais em virtude de problemas financeiros. Neste período, deixou de ir ao Campeonato Mundial e às maratonas.

No ano passado, Aurélio participou da Maratona de Lisboa, uma etapa do Campeonato Europeu de Atletismo. Lá conseguiu o terceiro lugar. "O resultado foi ótimo, pois a Europa é o grande núcleo esportivo de deficientes do mundo", comemora Ciro.

No ano passado, Aurélio viajava de Marília a Campinas, periodicamente, para fazer avaliações com o objetivo de obter classificação nas Paraolimpíadas. O Comitê Paraolímpico Internacional dá uma determinada cota de vagas para o Brasil nas modalidades de atletismo (deficientes físicos, visuais, mentais, cadeirantes e paralíticos cerebrais). Neste ano serão 11. "Quem tiver mais chances de conseguir medalhas é quem vai às provas. Isso aconteceu com Aurélio na maratona do ano passado", explica o treinador. Por conta disso, Aurélio foi direcionado para o treinamento nos 10.000m, apesar de continuar na maratona. Ele alcançou o índice para os 10.000m antes do tempo previsto.

Esforço à prova – Mais próximo das Paraolimpíadas, o trabalho interdisciplinar estará concentrado em melhorar o desenvolvimento de Aurélio, com especial reforço na alimentação e adoção de posturas que ampliem o seu rendimento. "Não adianta ser bom atleta só nas pistas. É preciso fora delas também", explica Ciro. Nestes momentos é que ele vai se recuperar dos treinamentos intensivos e evitar as lesões.

A equipe que dá suporte a Aurélio na Unicamp vem recomendando que ele seja auxiliado por um corredor-guia. A função do corredor é falar o tempo, por qual quilometragem estão passando, onde está o corredor da frente e se o fundista precisa acelerar ou diminuir o ritmo. As regras não mudam para o atletismo de deficientes. Apenas são feitas adaptações para que ele possa competir de acordo com as suas possibilidades. "Competir é simples", diz Ciro. "Difícil é compreender certas posturas de instituições de ensino que pedem aos deficientes para não participarem das atividades físicas programadas em suas grades curriculares. Este tipo de atitude é lamentável, ainda mais porque são eles justamente os que mais necessitam".

Aurélio faz treinamentos dez vezes por semana, como um atleta convencional. São 40 horas de exercícios, sem contar três de musculação. "É um atleta diferenciado num país onde deficientes como ele vendem balas no semáforo ou pedem dinheiro", afirma Ciro. "A intenção é trazê-lo de vez para Campinas, conseguir patrocínio e fazer avaliações em períodos mais curtos. A estimativa é buscar nesta Paraolimpíada no mínimo duas medalhas: prata na maratona (42 km) e bronze nos 10.000m".

A Unicamp hoje está avaliando o quanto a visão do atleta varia durante uma atividade física, conteúdo que vem sendo objeto de estudo da dissertação de mestrado de Ciro. Esta avaliação também conta com o apoio do Grupo de Oftalmologia do HC, supervisionado pela médica Keila Monteiro de Carvalho, que analisa a deficiência visual do atleta com exames específicos. A parte fisiológica é coordenada pelo professor Luís Eduardo Barreto Martins, a parte bioquímica pela professora Denise Vaz de Macedo e de atividade motora pelo professor José Júlio Gavião de Almeida.

Paraolimpíadas
A palavra PARA é de origem da palavra grega, que quer dizer: COM = PARALELO.

• As três cores (vermelha, azul e verde) da bandeira Páraolímpica representam a mente, o corpo e o espírito.

• Em 1988 as Paraolimpíadas foram reconhecidas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).

• Em 1976 foi a primeira vez em que os atletas portadores de deficiência visual competiram nas Paraolimpíadas de Toronto, Canadá.

• 1980 foi a primeira vez que os atletas portadores de paralisia cerebral competiram nas Paraolimpíadas de Arnhem, Holanda.


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