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Jornal da Unicamp - Junho de 2000

Página 2

EXTENSÃO

Muito além da porteira
Pesquisadores apresentam propostas para aumentar exportações
de carne bovina, via ONU

Na plataforma do supermercado, o caminhão exibe dentro do baú-frigorífico enormes traseiros de boi, todos pendurados pelo tendão de Aquiles. Antes do transporte, aquela carne poderia ter permanecido por algum tempo com os ganchos presos mais abaixo, na pélvis, para depois voltar a ser pendurada pelo tendão. Com este procedimento simples, teríamos peças de contrafilé, alcatra e até mesmo de lagarto ou coxão duro mais macias e igualmente suculentas.

A menor maciez de certos cortes da nossa carne bovina é uma das características que não agradam ao paladar do consumidor europeu, por exemplo, e de outros países que são potenciais compradores do produto brasileiro. Para saber como melhor agradá-los, pesquisas e técnicas desenvolvidas neste setor pela Unicamp estão sendo colocadas à disposição dos produtores e dos governos estadual e federal, dentro de um esforço nacional para aumentar as exportações de carne bovina. No dia 1º de junho último, a Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) apresentou suas propostas à Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes Industrializadas (Abiec), que responde por 97% da nossa carne comercializada no exterior.

Pedro Eduardo de Felício, professor do Departamento de Tecnologia de Alimentos e que executou inúmeros trabalhos voltados ao rendimento e qualidade da carne bovina, explica que a idéia é reunir um grupo de especialistas que, além de fomentar e aprimorar técnicas e pesquisas, acompanhe e conduza testes de qualidade em todos os procedimentos da cadeia produtiva, desde a origem do animal até a embalagem da carne. Esta certificação de qualidade por parte da Unicamp serviria como recomendação para que a empresa utilize a logomarca das Nações Unidas em seus produtos ou estabelecimentos.

Os padrões da ONU para a carne bovina serão discutidos durante o evento "UN/ECE – Specialized Section on Standardization of Meat", que a Unicamp estará sediando de 25 a 27 de setembro próximos. As medidas sugeridas neste encontro deverão ser aprovadas posteriormente em Genebra, em abril, e a partir daí divulgadas mundialmente. A certificação pela Universidade ainda precisa ser referendada pelas Nações Unidas.

Outra proposta, que teria a cooperação do Instituto de Economia, é a de estudar estratégias para novos mercados, avaliando demanda, tipos de produtos que interessam a cada um e, também, se a indústria está atendendo às condições impostas por países compradores. Segundo o professor Rinaldo Barcia Fonseca, o IE já tem tradição em estudar a competitividade da indústria brasileira, recebendo convites do governo federal para discutir e organizar cadeias produtivas, e somente o Núcleo de Economia Agrícola possui dez pesquisadores que poderiam assessorar as empresas exportadoras de carne.

Gado de pasto – Na reunião com a associação de produtores, o pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários, Roberto Teixeira Mendes, afirmou que a dificuldade enfrentada pelo Brasil na exportação de carne bovina é mais uma oportunidade para que a Unicamp cumpra sua proposta de inserção da universidade no setor industrial e produtivo. O diretor executivo da Abiec, Ênio Marques Pereira, admitiu que sua entidade, criada há 20 anos, sempre teve um comportamento muito voltado aos associados e agora quer juntar esforços para melhorar a política econômica do país. "Temos dois grandes mercados (Estados Unidos e Europa) que consomem apenas meia dúzia de produtos brasileiros. É hora de sair do convencional e criar novos produtos", afirmou Ênio.

A novidade que o Brasil pode oferecer no setor de carnes, na visão de Pedro de Felício, é o gado de pasto, sem anabolizantes e outras drogas, frente ao domínio do gado de ração (norte-americano). Outra vantagem são os pêlos curtos dos nossos animais: lavados com água sob pressão, eles entram muito limpos na sala de abate. Já o gado de pêlos longos, típico de climas temperados, não pode sequer ser lavado nos currais, pois acabaria por introduzir sujidades e contaminação por gotejamento, sendo que esta contaminação acaba ocorrendo com o pó que se desprende do pelame.

O professor da FEA lembra, porém, que a nossa carne precisa ser adequada às exigências para exportação, no que se refere à padronização do corte e à cor, maciez, sabor e suculência, características determinantes na decisão de compra de consumidores mais exigentes. "As pesquisas na área de carnes ainda são muito tímidas. A partir de agora, o mercado será dominado somente por países capazes de fundamentar cientificamente seus argumentos nas negociações internacionais", afirma Felício, que guarda outra preocupação em termos de marketing: "Devemos impedir o desflorestamento visando à formação de pastagens. A comunidade mundial não nos perdoará se formos acusados de derrubar árvores para fazer hambúrguer". (L.S.)

Sem a aftosa para atrapalhar
A proposta da Unicamp à Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes é feita em momento especialmente promissor. No final de maio último, a Organização Pan-Americana de Epizootias, durante encontro em Paris, aprovou as regiões Sul e partes das regiões Sudeste e Centro-Oeste como livres da febre aftosa, liberando as exportações para países não-aftósicos como Estados Unidos, China e Japão. Isto significa a incorporação de um rebanho de 76 milhões de cabeças livres de doenças, dentro do total de 160 milhões de cabeças no Brasil.

A aftosa não chega a prejudicar o ser humano, mas provoca o emagrecimento do gado e contamina todo o rebanho. Nenhum dos países desenvolvidos compra carne "in natura" de regiões que convivem com a aftosa, porque seus rebanhos já estão livres da doença. As previsões mais otimistas são de que poderemos dobrar as cifras com exportações de carne bovina em dois anos. Os pesquisadores da FEA/Unicamp, contudo, preferiram não se ater a previsões, colocando esta duplicação à Abiec como meta para 2005.

Estatísticas da associação mostram que em 1999 as exportações brasileiras de carne bovina atingiram US$ 822 milhões, um crescimento de 36% em relação aos US$ 604 milhões do ano anterior. Esse desempenho positivo deveu-se à forte desvalorização do real frente ao dólar norte-americano ocorrido em janeiro do ano passado, que devolveu aos exportadores parte da competitividade perdida para os outros produtores mundiais. Em termos de quantidade, as exportações subiram 53,5%, passando de 201,2 mil toneladas para 308,7 mil toneladas.

Ainda em 99, as aves foram o item de maior exportação no setor de carnes, arrecadando US$ 875,3 milhões com 770,5 mil toneladas embarcadas. Isto correspondeu a 48% do total exportado de carnes pelo Brasil, contra 45% dos produtos bovinos e 7% dos suínos.

Analisando a relação de países importadores, nota-se relativa concentração de clientes, já que dos 87 blocos ou países compradores de empresas brasileiras, apenas 9 foram responsáveis por 80% do total exportado (US$ 658 milhões), enquanto os demais 78 países responderam por US$ 164 milhões. Individualmente, o Reino Unido é o principal comprador (US$ 144,5 milhões), com destaque para as carnes industrializadas (US$ 107 milhões) e os cortes de carnes desossadas (US$ 36,2 milhões).


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