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Estudo revela vantagem
de garrafa de vidro sobre PET



MANUEL ALVES FILHO



A bióloga Andréa Rodrigues Fabi: distância tem participação importante no resultado da análise (Foto: Antoninho Perri)A garrafa de vidro retornável apresenta vantagem sobre a fabricada em PET [politereftalato de etileno] quando o assunto é o impacto causado ao meio ambiente. Considerando-se as etapas de fabricação, distribuição e reutilização, tendo como limite um raio de distribuição de 400 quilômetros, a primeira é preferível à segunda no que se refere à emissão de dióxido de carbono e consumo de energia. A constatação é da bióloga Andréa Rodrigues Fabi, que tratou do tema em sua dissertação de mestrado, apresentada à Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp. Segundo ela, que foi orientada pelo professor Waldir Antonio Bizzo, desde que observada a distância limite, os níveis de emissão de CO2 e de consumo de energia caem pela metade quando as embalagens são confrontadas.

Custos de produção devem ser considerados

De acordo com a pesquisadora, a escolha da embalagem deveria levar em conta os custos de produção, a preferência do consumidor e a busca por tecnologias mais limpas. A ferramenta que serve para orientar essa opção, sobretudo em relação à questão ambiental, é a Avaliação de Ciclo de Vida. Esta permite medir o uso de recursos naturais e os impactos gerados pela fabricação das garrafas, desde a extração da matéria-prima até a disposição final do produto. Ou, como dizem os especialistas, um acompanhamento do berço até o túmulo. “Essa ferramenta vem sendo utilizada há algum tempo no exterior, mas só agora está sendo aplicada no Brasil”, afirma a Andréa.

A bióloga diz que as garrafas PET têm aumentado a sua presença no mercado de embalagens. Não existem dados precisos sobre essa participação, mas é fácil para qualquer consumidor constatar que já não é mais possível encontrar nas gôndolas dos hipermercados refrigerantes acondicionados em garrafas de vidro retornável. Isso ocorre por dois motivos. Primeiro, porque as embalagens descartáveis usam menos matéria-prima do que as concorrentes. Segundo, porque são muito mais leves. Além disso, os vasilhames retornáveis precisam voltar às fábricas de bebidas para sofrer um processo de lavagem antes de serem reutilizados.

Apesar disso tudo, aponta a bióloga, as garrafas de vidro levam vantagem sobre as PET no que se refere à emissão de CO2 e ao consumo de energia, se consideradas distâncias de distribuição de até 400 quilômetros. “A redução, nesse caso, gira em torno de 50% nos dois parâmetros considerados”, afirma. Para chegar a essa conclusão, Andréa levou em conta a matéria-prima, a energia e o combustível consumidos na fabricação, transporte das embalagens e coleta para disposição final. “Como o Brasil tem dimensões continentais, a distância acaba tendo uma participação importante no resultado final da análise. Assim, quando o raio de distribuição supera mil quilômetros, as garrafas PET passam a ser preferíveis às de vidro retornável, pois consomem menos combustível para a distribuição”, explica

Na opinião da autora da dissertação, dados como os contidos no seu estudo deveriam servir para orientar a escolha das embalagens também de acordo com as características de cada região. “Nos grandes centros urbanos, onde as distâncias a serem percorridas são menores, em razão do maior número de fábricas, as garrafas de vidro retornável deveriam ter preferência sobre as descartáveis. Já em áreas mais isoladas, onde o produto tem que cumprir longos trajetos, a opção deveria recair sobre as garrafas plásticas”, defende. A volta das embalagens de vidro retornável ao mercado, em proporção maior do que a atual, não traria inconvenientes para a indústria de bebidas, conforme a bióloga.

As empresas do setor, assegura Andréa, mantêm os sistemas de lavagem das garrafas instalados em suas plantas. Bastaria, portanto, colocá-los em operação novamente. Ao ser informada dos benefícios ambientais que essas embalagens proporcionam em comparação às similares em PET, parte dos consumidores possivelmente optaria por utilizá-las, acredita a pesquisadora. “Muitas pessoas não compram hoje bebidas acondicionadas em garrafas de vidro porque simplesmente não as encontram nos supermercados”, arrisca. Outra medida bem-vinda, prossegue a bióloga, seria a definição de uma legislação que estabelecesse critérios e limites para a definição das embalagens. “Temos conhecimento de que existem dois projetos-de-lei sobre o assunto sendo discutidos no Congresso Nacional, mas nenhum deles conta com embasamento técnico”, lamenta.

Andréa aponta mais uma vantagem das garrafas de vidro sobre as de PET, nesse caso em relação à reciclagem. O vidro, esclarece, tem um ciclo fechado. As garrafas são simplesmente lavadas e reutilizadas ou os seus cacos dão origem a uma outra embalagem, para o mesmo fim. Já as garrafas plásticas são utilizadas uma única vez e o material, ao ser reciclado, existem dificuldades para ser empregado no acondicionamento de alimentos. A bióloga lembra que a embalagem que poderia ser considerada ambientalmente correta é a PET retornável, que uniria as vantagens das outras duas. “A Coca Cola chegou a usar esse tipo de produto, mas infelizmente ele foi retirado do mercado”, diz.

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