Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 263 - de 23 a 29 de agosto de 2004
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Sociólogos estudam
procura por medicina alternativa


MANUEL ALVES FILHO


Da esq. para dir.,Nelson Filice de Barros, Philip Tovey e John Adams: formação de rede de pesquisaCada vez mais, as pessoas estão recorrendo à chamada Medicina Alternativa e Complementar (MAC) em todo o mundo. O fenômeno, que é interpretado por alguns segmentos como um indício de que algo não vai bem com as práticas ortodoxas, está sendo estudado pelas ciências sociais. O objetivo é entender o contexto e o significado do uso dessas terapias por diferentes populações e a forma como são desenvolvidas por variados profissionais. No início deste mês, um workshop realizado na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp discutiu esses e outros temas ligados à MAC. “O papel das ciências sociais não é defender essa ou aquela prática, mas analisar criticamente o sistema de saúde”, afirma Nelson Filice de Barros, organizador do evento e sociólogo que atua no Departamento de Medicina Preventiva e Social da FCM.

MAC ainda enfrenta resistência

O workshop contou com a presença dos também sociólogos Philip Tovey, professor da Universidade de Leedes, na Inglaterra, e John Adams, docente da Universidade de Newcastle, na Austrália. A presença de ambos no Brasil, conforme Barros, é o primeiro passo para a formação de uma ampla rede de pesquisa na área. A cooperação entre especialistas de diversos países, nota o sociólogo, é fundamental para compreender o significado da MAC historicamente, a partir de diversas culturas. Ele lembra que as terapias alternativas e complementares são vistas de um modo no Brasil e de outro na Europa, por exemplo. “Isso tem a ver com a questão cultural. Em cada país há um tipo de regulação e valor referente à Medicina Alternativa e Complementar”, diz.

Embora a procura pela MAC venha crescendo em todo o mundo, ela ainda encontra algumas barreiras para se desenvolver mais fortemente. Nos anos 50, lembra Barros, as terapias alternativas eram relacionadas a crendices ou práticas religiosas. Cerca de 20 anos depois é que a homeopatia e a fitoterapia ganharam maior status, contando inclusive com pesquisas científicas que indicavam sua eficácia. “Até hoje a MAC encontra dificuldades para se estabelecer dentro do sistema tradicional de saúde. Isso se deve, em parte, ao preconceito e ao desconhecimento sobre essas práticas. Mas também tem relação com a questão administrativa. Num hospital terciário, altamente tecnologizado, essas terapias alternativas não encontram espaço”, analisa Barros.

Conforme Philip Tovey, a despeito de a MAC ainda sofrer resistência por parte de alguns representantes da medicina ortodoxa, que alegam principalmente que não há comprovação científica sobre a sua eficácia, o diálogo entre médicos adeptos de uma e outra prática tem amadurecido. As ciências sociais, nesse caso, têm tentado promover a aproximação entre as duas partes. “Essa interação tem sido muito produtiva, pois tem servido para criar uma agenda de pesquisa e orientar políticas na área da saúde”, relata o professor da Universidade de Leeds. De acordo com John Adams, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem preconizado a inserção da MAC nos sistemas nacionais de saúde, a partir de algumas condições. “A OMS defende a realização de pesquisas sobre a segurança e a eficácia dessas práticas, bem como o seu uso racional pelos pacientes e profissionais de saúde”, diz.

O Brasil, de acordo com Barros, está praticamente no mesmo estágio dos demais países do mundo no que toca ao desenvolvimento da Medicina Alternativa e Complementar. Recentemente, o Ministério da Saúde constituiu um grupo de trabalho com a missão de elaborar uma política que permita incorporar ao Sistema Único de Saúde (SUS), em todo o país, práticas alternativas como a fitoterapia, acupuntura e homeopatia. Na Unicamp, destaca o sociólogo, existe um Laboratório de Homeopatia que funciona junto ao Hospital das Clínicas (HC). O esforço atual, revela, é pela criação de um laboratório na Universidade que trabalhe com pesquisas qualitativas na área de saúde, similar a um coordenado por John Adams na Austrália. “A nossa expectativa é que a unidade contribua para o esforço das ciências sociais em analisar criticamente o sistema de saúde como um todo”, ressalta Barros.

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