Antonio Fonseca

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Antonio Fonseca

Quem é

Antonio Fonseca fez graduação, mestrado e doutorado na Universidade Estadual de Campinas. Foi diretor da Faculdade de Engenharia de Campinas da Unicamp (1986-1990) e diretor da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp (1998-2002), da qual é o decano. Tem experiência em Engenharia Mecânica nas áreas de biomateriais e biomecânica, orientou os trabalhos de pesquisa que resultaram no primeiro oxigenador de membrana de fibra capilar para cirurgia cardiovascular, que foi comercializado em catorze países, e no primeiro coração artificial eletromecânico brasileiro (ponte para transplante). Atualmente, concentra suas atividades de pesquisa em equipamentos de proteção para crianças. Confira o seu programa de gestão.

JU – Como preservar a qualidade do ensino, da pesquisa e dos serviços prestados pela Unicamp à comunidade, principalmente no setor de saúde, num cenário de recessão econômica e restrição orçamentária?

Antonio Fonseca O setor de saúde é o que presta serviços mais relevantes, no olhar e nas necessidades da nossa sociedade, atendendo tanto os pacientes vindos da população mais pobre, quanto aqueles que querem assistência médica melhor qualificada, tanto os que vivem nas proximidades como até mesmo muito longe da Unicamp. Os serviços na área de saúde devem ser ampliados, distinguindo os recursos que virão para a academia, via orçamento da Unicamp, para formar bons médicos e bons pesquisadores, daqueles que deverão aportar via Secretaria da Saúde, para atender a grande lacuna existente devido à falta de investimentos do governo. O Hospital de Sumaré, aparentemente, é um bom exemplo do caminho a ser seguido para, no futuro, chegarmos ao anteriormente exposto.   

JU – Com 50 anos já completados, a Unicamp vê uma proporção expressiva de seus docentes e funcionários mais experientes chegarem à aposentadoria. Se a perda da expertise desses profissionais já traria reveses em qualquer circunstância, agora essa movimentação ocorre num momento em que condições econômicas dificultam a reposição de quadros. Como minimizar os danos?

Antonio FonsecaHoje não temos mais a figura do professor convidado que havia no passado, e que atualmente poderia permanecer no quadro de docentes, sem se aposentar, e devolver para a sociedade o que de melhor ela lhe propiciou realizar durante décadas, seja no ensino, na pesquisa ou na extensão.

Deve-se lembrar que a relevância das atividades do professor convidado, o qual era convidado para trabalhar em algo mais específico, estava relacionada com o ensino, ou com a pesquisa ou ainda com a extensão e vinha do reconhecimento acadêmico evidenciado pelo pedido de seus pares.

A perda de tais docentes, pela falta de flexibilidade administrativa da Unicamp, é academicamente irreparável.  Os servidores não docentes, com tempo para aposentar, foram, na atual gestão, estimulados a receber o Fundo de Garantia, deixarem o regime CLT e se aposentarem pelo Esunicamp. Ou o próximo reitor altera este quadro, ou continuaremos a caminhar para o abismo acadêmico e administrativo.  

JU – A má conduta científica é uma preocupação crescente em todo o mundo, pondo em risco a reputação de instituições e, mesmo, países – no ano passado, divulgou-se que 80% dos dados de testes clínicos chineses são falsos, um golpe para a imagem da ciência daquele país. Como tratar essa questão?

Antonio Fonseca – Quando a alta administração da Universidade, que é composta por docentes, apresenta boa conduta ética, a tendência é que os demais os sigam.

JU – Também em escala global, a ênfase nas avaliações de qualidade de pesquisa vem se deslocando da mera atenção à produtividade para questões de impacto e relevância. Como a Unicamp deve responder a essa mudança cultural?

Antonio Fonseca A alta administração da Universidade deve acompanhar, estimular e ampliar as pesquisas que são de interesse da sociedade que a mantém, sem perder de vista o horizonte mais amplo e universal das ciências exatas, biológicas, humanas e das artes, que nem sempre são de fácil compreensão para leigos. Somente quando as boas notícias, geradas pelas atividades acadêmicas, ultrapassarem as de má gestão, é que voltaremos a ter nossa contribuição de caráter cultural reconhecida pela sociedade. 

JU – Qual deve ser o papel do reitor frente a situações de conflito na comunidade interna, como a ocupação da Reitoria e as desavenças entre docentes e estudantes que ocorreram em 2016?

Antonio FonsecaNunca estarei nesta situação, visto que não serei reitor, entretanto, pondero que nestes casos deve-se impedir, de modo pacífico, o fluxo de trânsito de entrada na unidade ocupada. Os que quiserem sair que o façam de modo civilizado, e sem punições caso não tenham danificado o patrimônio público, e com ressarcimento dos danos no caso contrário. Não se deve estimular a invasão permitindo entrar colchões e alimentos para dar suporte ao evento por tempo ilimitado, como ocorreu nesta gestão. O canal do diálogo deve sempre estar aberto e a autoridade do reitor, se legítima, deve ser respeitada.

JU – A relação recente do governo do Estado com a comunidade acadêmica tem sido tumultuada, com declarações do governador questionando pesquisas supostamente “inúteis” financiadas com dinheiro público e, já neste ano, pelo corte no orçamento da Fapesp. Como, em sua visão, a Reitoria deve se portar diante de um chefe do Executivo talvez indiferente ao ensino superior público?

Antonio Fonseca – Enquanto forem reportados gastos comprováveis de pagamentos de salários de R$ 70.000,00 para uma secretária, de duplos salários para a alta administração, de invasões não contidas e mal negociadas e de impedimento de professores ministrarem as aulas, é de se crer politicamente correto o governador condenar o desperdício de recursos públicos. Neste cenário, infelizmente, aqueles que estudam, trabalham, ministram aulas, pesquisam e orientam seus alunos com dedicação são avaliados, pela sociedade, como cúmplices daquilo que de pior ocorre na academia. O forte vínculo da Fapesp com a comunidade acadêmica universitária, aparentemente, de modo injusto também a está penalizando.  

JU – O discurso institucional tem pontuado a interação com a sociedade como uma das marcas históricas da Unicamp. Entretanto, persistem as críticas segundo as quais a Universidade mantém-se distante da comunidade e insensível à opinião pública, principalmente no que diz respeito a temas polêmicos. Como responder a estas críticas?

Antonio FonsecaAs críticas, infelizmente, são verdadeiras. Enquanto a alta administração permitir e participar de atos notadamente contrários aos interesses da sociedade, por exemplo, pagando duplos salários e permitindo salários de 70.000,00 reais para uma secretária, como foi dito, não há como responder a tais críticas.

JU – Como serão tratadas as reivindicações salariais que surgirão neste ano?

Antonio FonsecaNão serei reitor, portanto esta tarefa não será minha. A proposta de um gestor externo, acredito, compatibilizaria os interesses da sociedade com a necessidade de bons salários. Obviamente sem os abusos praticados nas três últimas gestões, de pagamento de duplos salários para alguns escolhidos pelo reitor para compor a alta administração.

JU – Em sua opinião, os programas de inclusão social existentes hoje na Universidade são adequados? O que pode ser feito para avançar nessa área?

Antonio FonsecaOs atuais programas tratam de forma emergencial, improvisada e precária as questões relativas à inclusão social. Na realidade, o funil chamado vestibular, do modo como está sendo praticado, reserva vagas nas universidades públicas para aqueles que tiveram melhores condições financeiras de se prepararem para enfrentá-lo. A forma que se evidencia como correta é dar condições para que os que disputam uma vaga nos cursos de nível superior de boa qualidade, oferecidos pela universidade pública e gratuita, o façam em igualdades de condições, independentemente dos recursos financeiros de suas famílias. Esta meta, de incluir alunos de diferentes estratos sociais, que não é de curto prazo, só será atingida quando os estudantes do ensino médio público tiverem boa formação, evidenciando que a prioridade do governo deve ser investir na educação infantil e no ensino básico.

A mensagem do candidato

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