Edição nº 668

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 09 de setembro de 2016 a 18 de setembro de 2016 – ANO 2016 – Nº 668

Telescópio


Robô encontrado
em cometa

No início de setembro, a Agência Espacial Europeia (ESA) divulgou uma imagem do robô Philae, lançado em 2014 sobre o cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko pela sonda Rosetta.  Philae teve um pouso complicado, quicando inesperadamente após fazer contato com a superfície do cometa e indo parar numa área pouco iluminada pelo Sol – ou seja, com pouca energia disponível – e numa posição inadequada para a transmissão de dados. Ainda assim, conseguiu comunicar-se brevemente com Rosetta, enviando dados científicos por um curto período em 2015.

A imagem transmitida agora pela Rosetta permite, pela primeira vez, que cientistas determinem a localização e a posição precisas do robô, o que terá impacto na interpretação dos dados coletados.  A imagem de Philae marca o estágio final da missão Rosetta: a sonda deve colidir com o cometa, destruindo-se, no fim deste mês.

Pernas
na água

A transição evolucionária dos peixes para os tetrápodes – animais dotados de quatro membros – é um dos principais eventos na evolução dos vertebrados, mas o modo de vida desses primeiros animais dotados de pernas, na passagem da água para a terra, ainda é pouco compreendido. Trabalho publicado na revista Nature aponta que um importante grupo de fósseis de tetrápodes primitivos, datado de mais de 300 milhões de anos atrás, contém animais que morreram jovens e viviam na água.

“Um prolongado estágio juvenil com membros não ossificados, durante o qual os indivíduos cresciam até quase o tamanho final, era seguido por um estágio juvenil de crescimento lento, com membros ossificados, que durava por pelo menos seis anos em alguns indivíduos”, afirma o artigo, de autoria de pesquisadores europeus. “O início tardio da ossificação dos membros sugere que os jovens eram exclusivamente aquáticos, e a predominância de jovens na amostra sugere uma distribuição segregada de filhotes e adultos, pelo menos em certos períodos”.

Cientista
no local

Um programa chinês chamado “Science and Technology Backyard” (“Quintal de Ciência e Tecnologia”), em que cientistas da área agrícola passam a morar em vilas rurais e a conviver com pequenos produtores, trocando informações e experiências, conseguiu elevar o rendimento das áreas plantadas de modo significativo, informa artigo publicado na revista Nature.

De acordo com o trabalho, assinado por pesquisadores baseados na China e nos Estados Unidos, a intervenção reduziu substancialmente a chamada “lacuna de rendimento” – diferença entre a produção teoricamente esperada e real – de plantações de milho e trigo na região chinesa de Quzhou, entre 2009 e 2014. Nas 71 propriedades mais bem-sucedidas, a proporção do rendimento esperado efetivamente obtido passou de 68% para 97%; na totalidade das mais de 90 mil áreas da região, o salto foi de 63% para 80%.

Nanopoluição
no cérebro

Minúsculas partículas esféricas de magnetita, um óxido de ferro dotado de propriedades magnéticas, foram encontradas no tecido cerebral de 37 pessoas, informa artigo publicado no periódico PNAS. Essa magnetita difere, em tamanho e forma, das partículas magnéticas produzidas por processos biológicos, mas é muito semelhante à encontrada na poluição urbana. De acordo com nota divulgada pela PNAS, as nanopartículas esféricas aparecem no cérebro acompanhadas de traços de outros metais, como cobalto, platina e níquel.

As esferas têm cerca de 150 nm de diâmetro, sendo pequenas o bastante para chegar ao cérebro a partir do nervo olfativo e devem fazer parte da poluição industrial presente no ar das cidades, informa o trabalho, de autoria de pesquisadores do Reino Unido e do México.

“Esta descoberta é importante”, escrevem os autores, “porque a magnetita de nanoescala pode responder a campos magnéticos externos, estando implicada na produção de espécies reativas de oxigênio (ROS)”. O artigo aponta que a superprodução de ROS no cérebro está ligada a doenças degenerativas como o Alzheimer.

Internet contra
a opressão?

O controle estatal sobre o acesso à internet, exercido em diversos países em desenvolvimento, impede que populações marginalizadas cheguem à rede e possam usá-la como meio de libertação, diz artigo publicado na revista Science. Quando é o governo quem escolhe onde haverá pontos de acesso, a internet torna-se mais disponível em áreas dominadas por etnias ou grupos que já dispõem de grande poder na sociedade.

O estudo, de autoria de pesquisadores baseados na Europa, descobriu que, mesmo controlando fatores como dificuldade de acesso geográfico e desigualdade econômica, a desigualdade digital revela um “viés político forte e persistente”. 

“A discriminação digital politicamente motivada, contra grupos étnicos marginalizados, que identificamos nesta análise constitui um desafio para os proponentes da libertação pela tecnologia”, diz o texto publicado na Science.

Os autores prosseguem: “Em muitos países, o acesso às modernas tecnologias (...) é determinado pelos governos nacionais. Como demonstramos, isso pode levar a um fornecimento seletivo de comunicação digital, com os governos estendendo esses serviços primariamente a grupos favorecidos politicamente”.

Namoro
online

Usuários de sites de encontros – onde pessoas vasculham perfis online em busca de um parceiro ideal – apoiam-se muito mais em critérios de exclusão do que de inclusão: a principal preocupação parece ser eliminar o maior número possível de candidatos inadequados, e não focalizar no ideal.

A conclusão vem de uma análise estatística de mais de um milhão de interações entre usuários de um site de namoros, publicada no periódico PNAS.

Os autores do trabalho, baseados na Universidade de Michigan, acreditam que o algoritmo desenvolvido para essa análise poderá ser útil no tratamento de outras grandes massas de dados – envolvendo, por exemplo, campos como a política e a economia – em busca dos padrões que as pessoas seguem na hora de tomar decisões.

“Dados de atividades online (...) possibilitam estudar o comportamento humano com uma riqueza e granularidade sem igual”, escrevem os autores. “No entanto, a pesquisa tipicamente se debruça sobre modelos estatísticos que enfatizam associações entre variáveis, em vez do comportamento dos agentes humanos”.

Vantagem da
voz grossa

Machos de espécies de mamíferos terrestres onde os animais do sexo masculino são muito maiores que as fêmeas têm uma voz ainda mais grave do que seria de se esperar a partir das dimensões reais do indivíduo. Artigo publicado no periódico Nature Communications aponta que esse fato gera uma ilusão exagerada de tamanho, o que ajuda o animal a atrair fêmeas.

A voz tende a se tornar naturalmente mais grossa à medida que o corpo cresce, por causa da expansão proporcional da laringe e de outros órgãos ligados à vocalização. Mas, em algumas espécies de mamífero, os machos contam com adaptações específicas que garantem uma voz ainda mais grave do que seria esperado com base apenas no tamanho do corpo.

Uma hipótese busca explicar isso como uma forma encontrada pela evolução para aproveitar a preferência das fêmeas por machos maiores, sem o necessário investimento de recursos e energia no tamanho real do corpo masculino. A nova pesquisa comparou as características vocais e o tamanho corporal em 72 espécies de mamíferos terrestres, incluindo leões, chimpanzés e seres humanos.

“Esta investigação confirma que a seleção sexual favorece (...) um exagerador acústico de tamanho”, escrevem os autores, de universidades da Irlanda e Inglaterra.

Pressão
virtual

Sentir-se deixado para trás pela competição – mesmo uma competição falsa, virtual – aumenta o engajamento de voluntários em projetos científicos, sugere um pequeno estudo realizado nos Estados Unidos, descrito no periódico Journal of the Association for Information Science and Technology. O trabalho, que teve como base uma iniciativa de “citizen science” da Universidade de Nova York, envolveu 120 voluntários inscritos num projeto de monitoramento ambiental, o Brooklyn Atlantis.

Nesse projeto, cidadãos são convidados a analisar fotografias tiradas por um robô que nada num rio poluído e a identificar os objetos que aparecem nas imagens – sejam pedaços de lixo, animais ou, mesmo, pessoas. Para a realização do experimento sobre o poder da competição, a interface do programa mudou para registrar a performance de um “parceiro virtual”, que supostamente também estaria envolvido na atividade de identificar as imagens. A performance era medida pelo número de imagens trabalhadas.

Esse “parceiro”, na verdade, era um algoritmo. Parte dos 120 voluntários passou a ver o desempenho de um parceiro que “trabalhava” mais do que eles no projeto (a interface revelava que o parceiro havia identificado mais imagens que o voluntário); parte, um parceiro que trabalhava menos; parte, um voluntário com desempenho igual. Outros dois grupos ganharam um parceiro com desempenho independente, e um último foi mantido sem parceiro, como controle.

No fim, o grupo que era consistentemente superado pelo parceiro foi o que trabalhou mais durante o estudo; o grupo com o parceiro ineficiente foi o mais preguiçoso. “Nossos resultados demonstram que a contribuição dos participantes pode ser ampliada pela presença de um parceiro virtual, criando um ciclo de retroalimentação onde os participantes tendem a aumentar ou reduzir suas contribuições em resposta à performance do parceiro”, diz o artigo. “Ao incluir parceiros virtuais que sistematicamente superam os participantes, demonstramos um aumento de quatro vezes na contribuição ao projeto”.