Edição nº 530

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 18 de junho de 2012 a 24 de junho de 2012 – ANO 2012 – Nº 530

A arte de (e para) incluir

Elizabeth Piva, desenhista da FEC, ministra
aulas dentro e fora da Unicamp

Tudo tem sua forma e sua cor, mas nas mãos do artista, formas e cores podem ser recriadas, ou até mesmo criadas. E quando decide compartilhar sua criatividade, o artista pode dar novas formas ou novas cores à vida de outrem. “O raciocínio muitas vezes está além e vai levando a sinapses e catarses próprias. Numa composição visual, por exemplo, podemos enxergar um tanto de coisas: um pedido de socorro, medo, insegurança ou alegria, euforia, dependendo das formas e cores que a pessoa está escolhendo usar e até mesmo os materiais que ela escolhe”, reflete a desenhista da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp Elizabeth Aparecida Piva.

Com formação em artes plásticas pela PUC-Campinas e especialização em artes aplicadas à educação, a funcionária, desde a década de 1990, ministra aulas de arte dentro e fora da Unicamp. “Eu gosto muito de olhar os desenhos e ver um pouco mais do ser. Gosto de questionar e de dialogar com a pessoa que desenhou. Muitas vezes, descobrem-se coisas que nem ela havia imaginado que estivesse vivendo”, complementa.

Abstracionista geométrica inspirada pela obra de Kandinsky, Mondrian e do brasileiro Anatol Wladislaw, Elizabeth explica sua relação com a arte com uma frase do compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (1917-1974): “Você sabe o que é ter um amor, meu senhor?”.  Para ela, arte é habilidade de se fazer algo com facilidade, gosto, prazer e emoção. “Assim como quem gosta de cozinhar, fazer esporte, computador, fazer entrevista. Se feito com amor, é uma forma de arte e dá certo. Existe o conceito formal de arte, mas eu procuro estar atenta à identidade de cada ser. Arte também é uma forma de expressão”, assume.

Este amor pelo ofício fez com que, mesmo entrando na Unicamp em 1987 para ocupar um cargo administrativo, procurasse meios de intercalar a arte em sua rotina. Atualmente, Elizabeth ministra aulas no programa Tope da Unicamp, no qual a percepção da importância da arte para o ser tem se acentuado. “Neste projeto, pude viver muitas situações em que os participantes estavam pintando e, quando eu questionava a escolha por determinada cor ou uma pincelada insegura, ouvia do aluno: ‘Olha, você tem razão, eu estou mesmo assim hoje’. Quando isso acontecia, ao invés de eu sair do curso às 19 horas, saía às 20, 21 horas”, relata. Coordenado pelo Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizagem (EA2), o Tope permite que professores, alunos e funcionários ofereçam cursos a pessoas da comunidade universitária.

Parte do sonho de Elizabeth está focada no Centro Cultural de Inclusão e Integração Social (CIS-Guanabara) da Unicamp. “É um espaço no qual eu gostaria de atuar integralmente, pois se aproxima mais de minha formação e ideologia: cultura, arte, doação, voluntariado e inclusão social”, declara a artista. Este ano, na véspera do Dia das Mães, ela ministrou uma oficina dentro de um evento que reuniu mais de 200 pessoas, entre elas muitos profissionais voluntários. “Fiquei emocionada ao ver que, mesmo com todo o frio que fazia no dia, o público compareceu. Isso me fez e faz pensar no empenho de todos que abraçaram a proposta em prol do seu próximo e como isso contagiou todos, que fizeram do evento um grande sucesso”, relata.

No momento, ela trabalha algumas ideias para, quem sabe, poder ajudar. O que mais a convence é que o público e as propostas são variados e há o acolhimento e o comprometimento com a população mais necessitada. “Uma grande expansão ocorreu em minha vida por meio desta atividade, pois eu entendi que não precisava esperar o futuro para ajudar, não precisava estar integralmente no espaço, mas da ideia que, mesmo com uma mínima ajuda, eu já estaria no processo. Foi justamente o que aconteceu”, declara.

Com crianças

Criança que é criança lambuza-se de tinta e, nessa gana em transmitir formas e cores, Elizabeth não poderia deixar de colorir pequenas mãos em sua passagem pelo Programa de Desenvolvimento e Integração da Criança e do Adolescente (Prodecad) da Unicamp. Um dos projetos teve como tema a vida e o processo de criação de Jackson Pollock (1912-1956), que pintava com liberdade, sem pincéis e sem se importar com o resultado final.

Antes de se colorirem, porém, assistiram a um DVD sobre o abstracionista não-geométrico intitulado “Arte do Acaso”. O desafio lançado para os pequenos artistas foi a restauração de dois bancos do Prodecad, apelidados, ao final, de “bancos cocô de passarinho”. 

“Foi a melhor coisa que me aconteceu. Criança e arte. Juntei tudo com muita criatividade, vontade, interação e conhecimento.” Com o apoio da direção, que entendeu seu trabalho, e da equipe de professores do Prodecad, a artista montou um ateliê totalmente sustentável, no qual as crianças aprenderam a fazer desde o material a ser utilizado até a aplicação do mesmo. O fazer artístico proporcionou às crianças noções de reuso, reciclagem e sustentabilidade. Envolvidos pela empolgação da mestra, os alunos montaram uma Galeria de Arte, que, na opinião de Elizabeth, deveria ser visitada por outras pessoas.

A Unicamp, porém, não é o único espaço em que pôde compartilhar seu dom. Elizabeth também foi monitora na Fundação Educar, da Prefeitura Municipal de Campinas, onde o trabalho era voltado para um público carente e sem recursos. Durante 15 anos, dedicou-se à alfabetização de jovens e adultos. “Neste período, o meu amor às pessoas mais necessitadas e à arte já era muito grande, pois além de alfabetizar e me tornar amiga dos alunos, realizávamos muitos trabalhos artísticos, íamos a eventos, realizávamos oficinas. Eu aproveitava esta área para deixá-los mais inteirados com a arte. Fomos a vernissages, oportunidade que creio ser difícil acontecer num ciclo de aula tradicional.”

No pequeno ateliê, montado em sua casa, a música acalma a alma para que novas formas e cores ganhem espaço em alguma tela. É neste cenário que as reflexões podem virar arte, e o fazer artístico leva à reflexão.  Nesses momentos, a vontade de ajudar as pessoas é intensificada e surgem projetos como o Tope, considerado um dos desafios principais em sua carreira. “O Tope surgiu em minha vida num momento muito especial, em que me considerei pronta para aceitar o desafio da vida de assumir de vez o ‘dar sem receber nada em troca’, como um caminho sem volta, esperado e consumado”, volta a mencionar.

Ela explica que sendo um curso de nível mais específico, exigiu maior empenho de sua parte. “Isso foi muito enriquecedor para todos. Encontrei pessoas especiais, motivadas pelos mais diversos desejos para estarem ali. E todos apaixonados como eu, o que solidificou a relação. Houve um grande envolvimento entre todos – físico, emocional e intelectual”, relata.

O encantamento com as aulas da professora de educação artística na quinta série já começava a delinear sua escolha. “Ela percebeu que eu tinha um bom traço para desenho e, além disso, também gostava muito de música e não limitava a arte ao caderno de desenho tradicional. Suas aulas eram motivadoras e despertaram minha vocação”, recorda a desenhista.

 “Acho que já nasci assim, fazendo arte. Eu sempre inventava coisas. Eu nunca gostei de boneca, queria sempre alguma coisa que construísse algo, que pudesse manipular”, declara Elizabeth. O surrealismo do pai também estimulou o dom artístico, transmitido também ao filho Pedro, de 9 anos, que, apesar de lidar bem com as cores, quer ser jogador de basquete. O pai seguiu a carreira militar, mas, para Elizabeth, poderia ser um grande arquiteto por esculpir cidades e pontes em madeira. “Além do dom que me passou, recebi muito carinho e proteção. Meus pais sempre me incentivaram, quando eu era pequena. Minha mãe adorava que eu pintasse guardanapos e toalhas para ela. Os primeiros que pintei ela guarda com muito zelo até hoje”, recorda.

Depois da experiência na infância, vieram os anos inesquecíveis de faculdade, durante os quais pôde entender quem era. “Foram anos que matizaram minha vida. No período de faculdade pude entender alguns porquês e outros, e fui experimentá-los depois na prática. Jamais seria o que sou hoje sem essa experiência acadêmica”, declara. A especialização na área de educação reforçou mais ainda a vontade de ensinar.

Como abstracionista geométrica, ela assume: “Adoro pintar com forma e cor. Nunca consegui fazer direito uma mão ou um pé, sou ruim em desenho, mas conheço a técnica, tanto que a ensino”.  A linha de criação permanece a mesma do início de sua história como artista. Ela acredita que a linha de criação de um artista pode ou não esgotar e, se isso acontecer, outra é gerada. “Como a pintura ou qualquer outra linguagem da arte é uma expressão de sentimentos, acredito que a evolução está presente em todos os momentos”, reflete.

As cores da infância ainda são propulsoras para projetos futuros. Um deles é reunir profissionais de diferentes áreas e principalmente pessoas comuns interessadas em assumir a missão de tentar ajudar o próximo com seu trabalho para dar início a um grupo de discussão sobre arte, saúde, arteterapia e outras questões desse contexto. “O desejo é promover a arte como forma de interação e processo de cura.”

A ideia tem apoio do grupo de alunos que iniciaram o programa Tope com a artista. Ela acredita que o projeto possa contribuir para uma sociedade mais justa. “Meu sonho é pensar que, com esse caminho, estou de alguma forma lançando a famosa semente, nem que seja mínima, e desejando que eu possa motivar pessoas que se disponham a dedicar um pouquinho do seu tempo para uma atividade de doação, de entregar o seu melhor, explorando seu potencial e paixão e, com isso, estar colorindo seu mundo e de outros. Que o amor esteja entre nós”, conclui.

Comentários

Comentário: 

Parabéns querida. Você é um anjo inspirador para muitos. Sucesso sempre!

wesleyca@hotmail.com

Comentário: 

Elizabeth, primeiramente parabéns pela sua dedicação ao próximo. Que você possa continuar plantando o seu amor e a sua arte no coração de muitos.
Eu gostaria muito de discutir com você a possibilidade de criação desse grupo de pesquisa.
Abraços,

valmir@unicamp.br

Comentário: 

Nós do CIS Guanabara estamos lisonjeados com sua manifestação de interesse em trabalhar conosco e acreditamos que esse sonho será concretizado em breve!!!
Parabéns e Muito Sucesso

angelamm@unicamp.br

Comentário: 

Parabens, querida sou testemunha de suas ações com as crianças e do seu trabalho maravilhoso. Estamos esperando voce aqui no CIS para compor a nossa equipe. beijoss

vitorino@unicamp.br

Comentário: 

Parabens querida, Deus te abençõe hoje e sempre, nós sabemos como você merece todos esse sucesso, sucesso e sucesso.
Mil bejs
Soninha

soniab@reitoria.unicamp.br

Comentário: 

Parabéns por sua dedicação. Provérbios 15:33.
Abraços,

alex@reitoria.unicamp.br

Comentário: 

Parabéns pelo seu trabalho!!!

lmoreira@fec.unicamp.br

Comentário: 

Beth: fiquei sem desenhar por 40 anos por um trauma de infância e você me deu de volta a alegria de me soltar com um lápis numa folha em branco!
Você é cativante e sua ação é libertadora!!
Te dizer muito obrigada é pouco!

smartins@unicamp.br

Comentário: 

Como pode peixe vivo, viver fora d'água fria! Assim é Betinha longe de sua arte. Desejo a você todo sucesso do mundo. Você Merece!

Beijão,
Celma

margot@fec.unicamp.br

Comentário: 

Parabéns - não conhecia esse lado artístico, somente sua simpatia, Parabéns - como vc disse a arte é fazer com amor.

americo@unicamp.br

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