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Graduação planeja seus horizontes

Clayton Levy

Programada para ocorrer em meados de outubro, avaliação interna vai apontar novas diretrizes de cursos

O pró-reitor Edgar de Decca: “Em última instância, o que está em jogo é a formação dos estudantes e como a Unicamp  pode vir a aperfeiçoar a qualidade do ensino” (Foto: Antoninho Perri)Examinar-se por dentro com os olhos no futuro. Este é o enfoque que a Unicamp pretende dar à próxima avaliação interna dos cursos de graduação, programada para 15 de outubro. “Não queremos que o processo se limite a um raio-X de conotação fiscalizadora, mas resulte em subsídios para planejar nossos horizontes no médio e no longo prazo”, explica o pró-reitor de Graduação, Edgar Salvadori de Decca. Segundo ele, o procedimento tem importância estratégica. “A globalização da ciência, a internacionalização do ensino superior e o desenvolvimento acelerado de novas tecnologias compõem um cenário novo, que vai exigir um repensar da graduação”, completa. Para isso, de acordo com o pró-reitor, a participação de professores e estudantes é fundamental. “Em última instância, o que está em jogo é a formação dos estudantes e como a Unicamp pode vir a aperfeiçoar a qualidade do ensino oferecido”, completa. Na entrevista que segue, o docente analisa os desafios a serem enfrentados pela Universidade e apresenta um novo conceito para o processo de avaliação interna.

Jornal da Unicamp – O senhor diz que a Universidade pretende dar um novo enfoque ao processo de avaliação interna da graduação. Conceitualmente, que tipo de mudança está sendo proposta?
De Decca –
Quando inseriu a avaliação em seu calendário anual, a Universidade tinha como objetivo fazer um diagnóstico sobre o ensino de graduação. Essa preocupação é fundamental, mas o processo não pode limitar-se a um diagnóstico. Queremos avançar no sentido de integrar a avaliação de maneira mais orgânica ao Planejamento Estratégico. Não queremos que a avaliação seja apenas uma radiografia, mas também um subsídio para planejamento e projeção de novas expectativas. Saber, por exemplo, os caminhos que podem ser traçados para os cursos de graduação; quais tipo de reformas curriculares são necessárias; e como os novos docentes deverão preencher as expectativas que o processo apontar. Trata-se de uma nova filosofia, ou seja: pensar a avaliação como possibilidade de programar o futuro.

JU – Em que consiste o processo de avaliação?
De Decca –
Todo o processo ocorre dentro das unidades. Para isso, as aulas serão suspensas nesse dia para que professores e estudantes possam participar ativamente. Embora não haja um padrão único para as unidades, os princípios que orientam a avaliação estão previstos na deliberação CEPE-A-01/93. No que diz respeito às condições de ensino, são avaliados aspectos como o material bibliográfico disponível; material permanente e de consumo para uso didático; recursos audiovisuais; equipamentos e laboratórios didáticos e recursos para trabalho de campo. Já a avaliação das atividades docentes inclui o interesse pelo ensino; didática e técnica de ensino; adequação da avaliação e do aprendizado; planejamento da bibliografia; relacionamento professor-aluno; atendimento extraclasse; pontualidade; assiduidade; e cumprimento do programa. Muito embora esteja presente numa Deliberação da CEPE, de uma certa maneira, estas orientações foram deixadas de lado nos últimos anos. O que pretendemos é mobilizar a Universidade para esta radiografia. Em seguida, queremos projetar novas expectativas a partir desse diagnóstico. Temos de fazer da avaliação um momento de reflexão e de projeção.

JU – Qual sua expectativa em relação à próxima avaliação, programada para 15 de outubro?
De Decca –
É a melhor possível. Queremos fazer uma grande mobilização, parar a Universidade para que ela se pense e se reavalie, enfim, reflita sobre os seus projetos e objetivos. Se a Universidade tiver o compromisso de pensar os seus rumos para abrir novos perspectivas, estaremos dando uma grande contribuição à instituição. Por isso estamos querendo introduzir uma mentalidade nova. Quanto maior a participação, mais completo será o diagnóstico dos cursos. Nesse sentido, será muito importante não somente a participação de docentes e estudantes mas a condução cuidadosa dos trabalhos por parte das coordenações dos cursos de graduação. As unidades têm de estar mobilizadas para diagnosticar os pontos fortes e fracos, mas não como instrumento fiscalizador e sim para aperfeiçoamento dos cursos. A idéia é de que a avaliação deixe de ser um evento isolado e passe a servir como subsídio para Planejamento Estratégico da Universidade. Essa seria uma grande mudança no papel do sistema de avaliação dos cursos.

JU – Que tipo de impacto essa nova postura pode gerar na qualidade dos cursos?
De Decca –
Primeiro, um diagnóstico desse tipo permite uma avaliação sobre as expectativas dos alunos e docentes no que diz respeito às disciplinas e cursos. Queremos medir a satisfação de quem oferece e de quem recebe o ensino, para avaliar em que medida esses aspectos podem se aperfeiçoados. A partir daí poderemos projetar novos desafios. Nesse aspecto, a participação de professores e alunos é fundamental porque é através deles que a unidade poderá descobrir novos caminhos. Em última instância, o que está em jogo é a formação dos estudantes e como a Unicamp pode vir a projetar a qualidade do ensino oferecido. Isso tudo tem de ser planejado a partir de diagnósticos bem elaborados, porque nos próximos anos enfrentaremos desafios inevitáveis.

JU – Que tipo de desafios?
De Decca –
Globalização da ciência, internacionalização da graduação e desenvolvimento acelerado de novas tecnologias. Tudo isso vai exigir um repensar da graduação. Trata-se de um desafio. Os currículos dos cursos vão ter de sofrer muitas modificações, o que vai exigir muita criatividade para atender às novas demandas. Além disso, teremos de ter clareza sobre o perfil dos estudantes que ingressam numa Universidade que segue novos paradigmas. Estamos vivendo hoje um desafio de fronteira.

JU – Como a Unicamp se insere no contexto internacional em relação a estas novas tendências mundiais?
De Decca –
A Unicamp está num momento muito rico de possibilidades. Nesse contexto global extremamente complexo há variáveis que a Unicamp tem de saber equilibrar, principalmente no plano da graduação e da pós. Por um lado, não há dúvida que todas as universidades do mundo contemporâneo têm uma inserção regional. No entanto, a ciência não enfrenta mais esses limites e fronteiras, que são a região e a nação. Nosso aluno de graduação e nossos projetos de pesquisa têm de atender uma demanda que ultrapassa o contexto regional. Temos que atingir uma expectativa de internacionalização. Não vamos mais formar profissionais para atender exclusivamente num plano regional. Nossa região, hoje, já está inserida num contexto global em razão do pólo de alta tecnologia onde se produz ciência de padrão internacional. É nessa nova realidade que a Universidade terá de se mover. Seja do ponto de vista da criação do conhecimento, seja da inovação tecnológica. Trata-se de um novo modelo de universidade. O modelo que existiu no passado, cujo sistema de referência era a organização racional do pensamento científico ou a promoção de um padrão de identidade cultural, já não serve como referência. Hoje a Universidade tem de buscar uma nova referência. Não adianta defini-la como uma universidade de excelência. Excelência em relação a que? O que pretendemos buscar com essa excelência? Qual o novo paradigma a ser construído pela Universidade? Responder a estas questões constitui um desafio para os próximos anos.

JU – E qual seria esse novo paradigma?
De Decca –
Acredito que, de um lado, a universidade tem de servir os objetivos da harmonia e da paz entre os povos. O conhecimento da ciência tem de ir ao encontro do equilíbrio social, ambiental, cultural e ser capaz de dar respostas às expectativas nessas áreas. A Universidade não pode ser impulsionada por um ideal imediatista de consumo ou produção desenfreados. Tem de ir atrás da sua referência, buscando a inserção em todos os planos, porque atualmente os contextos internacionais no campo do conhecimento são muito interdependentes. Temos de pensar os currículos em busca de uma cultura de equilíbrio e da ciência a serviço do homem e do meio ambiente.

JU – Desde o início de suas atividades, a Unicamp sempre procurou uma inserção maior na sociedade, gerando conhecimento para atender às necessidades de desenvolvimento de um país que estava em processo de industrialização. O foco mudou?
De Decca –
Antes, as metas eram nacionais. Hoje, as metas já não têm fronteiras. Temos de ver o modelo de universidade que garantirá não apenas a afirmação local e regional, mas sobretudo a inserção do país no cenário global. Mesmo porque, uma coisa está ligada à outra. Hoje em dia, não há como alcançar desenvolvimento local sem inserção mundial. A interdependência aumentou numa escala nunca vista. Além disso, temos de levar em consideração a obsolescência do conhecimento. Quanto tempo um conhecimento novo perdura hoje em dia? O ciclo é da ordem de cinco a seis anos para ser ultrapassado. Como a Universidade pode acompanhar esse processo? Como podemos criar uma cultura de ciência que não seja atropelada por essa velocidade? Porque há uma tendência e uma sedução por essa velocidade, que poderá levar a Universidade a lugar nenhum. Correr sem saber para onde, porque não conhece suas referências. Não basta produzir muitos papers. É preciso saber por que e para que estamos produzindo o conhecimento. Afinal, de que modo esse conhecimento deverá ser introduzido, progressivamente, no ensino de graduação? A boa adequação desses objetivos e a busca de uma referência que promova novos recursos humanos, deve ser, enfim, a meta maior da Unicamp.

JU – Durante muito tempo, o país foi caracterizado pela dependência econômica e tecnológica em relação aos paises centrais. Agora, para gerar sua própria riqueza, tem que interagir com atores externos. Qual o papel da universidade nesse processo?
De Decca –
Esse é o papel mais importante. A universidade incrementa estas interdependências sem levar a uma subordinação. Em seus convênios com instituições internacionais há maior simetria e equivalência de objetivos a serem alcançados. Acho que o Brasil está vivendo uma nova realidade. Hoje, do ponto de vista da internacionalização da economia, a participação do Brasil não é mais caracterizada por uma relação subdesenvolvimento e de dependência. Apesar de não sermos ainda um país plenamente desenvolvido, existindo entre nós enormes contrastes socioeconômicos, estamos superando a nossa histórica situação de dependência. Em virtude desse novo contexto histórico, a situação do país não é de dependência, mas de interdependência em termos de um contexto global. Hoje o Brasil é um parceiro privilegiado nesse contexto da globalização e a universidade brasileira terá que, num futuro próximo, propiciar para as novas gerações de estudantes oportunidades profissionais inéditas. Para darmos exemplos concretos da internacionalização da nossa graduação, nossos estudantes, quando vão buscar complementação curricular e titulação fora do país, têm sua competência altamente valorizada. Especialmente em algumas áreas, como a bioenergia, nas quais o País está na vanguarda tecnológica.

 
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