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Vereador comprometido com a Educação
Franchi apresentou 29 projetos em Jundiaí, um terço deles voltado à melhoria do ensino

Dar uma passada de olhos pelo resumo de projetos de lei apresentados por Franchi quando foi vereador, não remete ninguém a um político impulsivo e ávido de poder. Ele tinha lá, por certo, muitos sonhos.

Foram 29 projetos em três anos. Sinal de que, também, vereador não era fabricante de leis como hoje. Deles, um terço dizia respeito à Educação, tratando de concessões de bolsas de estudos, construção de escolas, financiamento de equipamentos escolares pela prefeitura, contratação e concursos para professores.

Os restantes parecem distribuídos parcimoniosamente entre iniciativas de auxílio a entidades assistenciais para crianças e apoio às atividades esportivas. Qualquer observador diria, sem medo de errar, que a obstinação de Franchi era pela Educação. Isso em um tempo em que vereador, de verdade, nem salário tinha.

O padre e o político
Olhar distante, entre uma sorvida na xícara de café com leite – onde como bom caipira de Itu o padre mergulhou uma fatia de queijo-prato – e uma abocanhada no pão-de-queijo, Monsenhor Antônio de Pádua, 84 anos, quase 60 de padre (a maioria deles em Jundiaí, na paróquia de Nossa Senhora Aparecida, na Vila Rami) é um homem das letras e garante ter boa memória.

Padre Pádua – que prefere ser chamado assim, hoje, apesar de ter sido honrado pelo Vaticano com o título de Monsenhor –, tem mais de três mil sonetos primorosos escritos. E um romance (de 1958) que um amigo jornalista revisa. É amante da poesia e do jogo das palavras. Quando conheceu a família de Franchi, já escrevia.

“Era uma família tradicional na cidade, gente boa. Fomos muito amigos eu, o pai e a mãe dele, seu Antônio e dona Luiza” , recorda o presbítero que todos os dias celebra missas às 7 horas na Catedral Nossa Senhora do Desterro, Igreja-mãe da Diocese de Jundiaí que abrange 11 municípios.

Padre Pádua garante que por um tempo, até pela amizade desfrutada com a família, acabou como confessor de Franchi, católico praticante, cristão convicto. Não sabe dizer se o professor se aproximou dele por causa dos poemas – ritmados, métricos, construídos com esmero –, ou por causa da religião. “Talvez por causa das duas coisas”, arrisca dizer.

Mas outra coisa, o padre não arrisca. Achava que Franchi e a política partidária não tinham nascido um para o outro.”Muitas vezes eu o aconselhei a se afastar. Achava que com todo o ímpeto da mocidade ele se frustraria com tanta sujeira (que já não era pouca naquele tempo). E foi o que acabou acontecendo”, afirma o padre.

O princípio da migração
“Franchi era uma figura exemplar, um professor como poucos, um político correto e um homem digno”, diz Pedro Fávaro, hoje do alto de seus 76 anos de vida bem vivida, dos quais 55 dedicados à vida pública em Jundiaí, 11 como prefeito e quatro como vice-prefeito da cidade, seis como vereador e outros com passagens pelas hoje secretarias de Finanças e de Educação.

Ele garante que Franchi não se condenou ao autodesterro. “Nada disso; era um homem inteligentíssimo, com uma cultura invejável e seguiu a vida atrás de uma oportunidade melhor”, pondera. Carlos, que não era Drummond, foi ser gauche na vida. E foi, como poucos.

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CURRÍCULO

ATIVIDADES DOCENTES NO ENSINO SUPERIOR
- Assume, em 1968, os cursos de Literatura Brasileira e Teoria Literária na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Nossa Senhora Medianeira, dirigida por Dom Luciano Mendes de Almeida.
- A partir de 1970, passa a lecionar na Universidade Estadual de Campinas, inicialmente no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas e, depois, no Instituto de Estudos da Linguagem.
- Em 1979, a Unicamp promoveu-o a professor titular do Departamento de Lingüística do Instituto de Estudos da Linguagem, por notório saber.
- Como docente da Unicamp, participou de cerca de 40 bancas de mestrado e vinte bancas de doutorado, e levou ele próprio à defesa um total de sete dissertações e seis teses, orientadas nas áreas de Lingüística e Educação. Participou como co-orientado na elaboração de um número de aproximadamente igual de dissertações e teses, na Unicamp e na USP.
- Atuou como professor visitante ou convidado nas principais universidades brasileiras, ministrando em nível de pós-graduação disciplinas de sua área de especialidade, a sintaxe das línguas naturais.
- Sua atuação como professor visitante da Universidade de São Paulo, iniciada em 1991, prolongou-se pela criação de um Seminário de Sintaxe que funciona até hoje, e que foi decisivo para a renovação dos cursos de Pós-Graduação em Lingüística.

ATIVIDADES ADMINISTRATIVAS
- Ocupou, de 1972 a 1975, a chefia do Departamento de Lingüística do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, com a responsabilidade da implantação do próprio departamento (que incluía, na época, um Centro de Lingüística Aplicada) e de seus cursos de graduação e pós-graduação.
- Entre 1976 e 1978 exerceu a Direção-Associada do Instituto de Estudos da Linguagem, com o compromisso de realizar a implantação administrativa do novo instituto, apoiando o primeiro Diretor, o Prof. Antonio Candido de Mello e Souza.
- Dirigiu o Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp entre 1979 e 1971.
- Esteve vinculado aos primeiros projetos coletivos de pesquisa lingüística, no Brasil, merecendo menção especial sua atuação no projeto de elaboração de uma gramática descritiva do português falado, que se desenvolveu com sede na Universidade Estadual de Campinas sob orientação do Prof. Dr. Ataliba Teixeira de Castilho.

 

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Onde os adversários eram amigos

 

PEDRO FÁVARO JR.

Ele foi adversário político de meu pai. No tempo em que a luta política ocorria no plano das idéias, aquecida pelas ideologias seladas com o resultado do pós-guerra. Um tempo incandescente, de reflexão e transformações. De franqueza e lealdade. Inimigos eram inimigos declarados. A dissimulação era extensão da covardia. E o espaço para os covardes era escasso.

Era o início da década de 60. Meu velho era PTB, do Jango. Franchi, do Partido Democrata Cristão. Meu pai estava no poder, diretor da Fazenda do prefeito Omair Zomignanni, um italiano da Ponte São João que deu certo e acabou sendo deputado estadual, mais tarde, pela cidade. E foi só.

Franchi queria apoio do prefeito Omair para sua candidatura. Chegou a ser líder do prefeito na Câmara. Mas Omair apoiou e elegeu meu pai, em 1963. De minhas lembranças, o que conta mesmo é ter fixado a imagem daquele senhor sempre bem barbeado, magro, de terno marrom bem cortado, conversando com meu velho muitas e muitas vezes.
Coincidência ou não, seu Antônio e dona Luiza, seus pais, eram vizinhos de minha avó materna, na rua Coronel Boaventura Mendes Pereira, quase centro da cidade que começou com um bando de desterrados, liderados por Rafael de Oliveira e Petronilha Antunes, na opinião de alguns historiadores.

As duas famílias eram amigas, apesar de eles serem cristãos e meu avô Coti (Francisco) Nalin - já falecido na época - ter sido dos primeiros comunistas declarados da cidade. Sindicalista ferrenho.

Muitas e muitas vezes vi o professor Franchi e meu pai, também professor, conversando na praça em frente à casa de minha avó, a Praça dos Andradas. Eu via que falavam, gesticulavam e nada entendia, porque sabia que falavam das coisas dos adultos e aquilo, bem, aquilo me interessava pouco. Estava mais afeto à construção do campo para jogar birocas, ou das folhas de mangueira para construir cocares e ser índio, na próxima vez que brincássemos de faroeste.

Com dez anos, conheci uma mulher formidável, dona Eglê. Foi minha professora de terceiro ano primário, hoje fundamental. Era educada, calma, elegante. Se posso dizer assim, uma pessoa simples e altiva, que irradiava segurança e tranqüilidade aos alunos. Professora no tempo em que ser professor exigia altivez. Era a esposa do professor Franchi. Ela sim, foi fundamental na minha história.

Por tais razões, a alguma distância pude conviver com o professor. Ou porque o via sempre com meu pai ou porque, nele, me impressionava o corte do terno, a postura, o vozeirão que me lembro ter ouvido. Pode ser que eu me engane, mas ele se esforçava para estar sempre parecido com os galãs dos filmes americanos que ainda nem eram muitos. A televisão estava só despontando em Jundiaí. De qualquer modo, havia nele algo que me impressionava, embora criança eu nunca tivesse conseguido decifrar o quê. Talvez apenas simpatia, a mesma que meu pai conserva por ele até hoje.

 

 

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