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Imunossupressores causam perda
óssea em transplantadas hepáticas
Estudo pioneiro foi conduzido no HC com
23 mulheres submetidas ao procedimento

O ginecologista Luiz Francisco Cintra Baccaro: primeiro   estudo sobre o tema feito na América Latina.  (Foto:Antoninho Perri)Estudo realizado pelo ginecologista Luiz Francisco Cintra Baccaro, com 23 mulheres que realizaram transplante de fígado no Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, revelou que a ingestão de medicamentos imunossupressores – cuja função é coibir a rejeição do novo órgão - ocasiona uma significativa diminuição de massa óssea.

Como consequência, as transplantadas hepáticas podem apresentar quadro de osteoporose. Trata-se, de acordo com Baccaro, de uma doença silenciosa, na qual muitas vezes as pacientes são doentes crônicas e graves. Além disso, as complicações mais urgentes do transplante mascaram a doença. “Se não prestarmos atenção e não fizermos uma busca ativa nessas pacientes, elas podem até sobreviver à doença hepática, no entanto podem ter uma queda e sofrer uma fratura que pode até mesmo provocar a morte”, alertou o ginecologista.

O trabalho resultou na dissertação de mestrado de Baccaro, sob a orientação do professor Aarão Mendes Pinto Neto, do Departamento de Ginecologia, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. O orientador, inclusive, ressaltou que a participação da equipe da professora Ilka de Fátima Boin, coordenadorada Unidade de Transplante de Fígado do HC, foi fundamental para o sucesso inicial da pesquisa. O financiamento para a realização do estudo, feito pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), também foi destacado pelo docente.

O professor Aarão Mendes Pinto Neto, orientador: “A preocupação é com o bemestar geral da mulher”. Foto:Antoninho Perri)O impacto imediato dessa primeira fase dos trabalhos, segundo Aarão, foi a sensibilização de todo o grupo de pesquisadores para a importância do assunto. “Conseguimos atrair a atenção dos cirurgiões gastroenterologistas que atuam nessa área”, contou. A pesquisa foi publicada nos anais do XV Congresso Paulista de Obstetrícia e Ginecologia. Foi aceita para apresentação oral no Congresso Brasileiro de Transplantes de Fígado e Pâncreas e teve aceitação e compromisso de publicação por parte de uma revista internacional sobre transplantes hepáticos. “É um assunto que tem interesse nacional. É o primeiro estudo latino-americano sobre o tema, que chama a atenção para a manutenção da saúde da mulher em geral e especificamente para a mulher climatérica, ou seja, com 35 anos ou mais, após o transplante hepático”, afirmou o orientador.

Com relação a essa pesquisa sobre densidade mineral óssea é, segundo Baccaro, necessário prestar muita atenção nas pacientes acima dos 35 anos de idade. Nesses casos, deve-se proceder a quantificação de massa óssea antes do transplante, com o objetivo de verificar pacientes com maior risco de desenvolvimento de osteoporose. Um acompanhamento específico deve ser feito nos dois primeiros anos após o procedimento cirúrgico, porque nesse período há uma perda muito grande de osso. “Recomendamos que essa avaliação torne-se uma rotina, pois, caso seja necessário, deve ser instituído o tratamento para osteoporose visando preservar a massa óssea. Não basta ter apenas a função hepática normal”, alertou o pesquisador.

Baccaro disse ainda que alguns estudos publicados na literatura médica mostram que, nos últimos anos, o transplante hepático tem apresentado grande progresso. As mulheres, numa média de 60% a 70%, estão ultrapassando o tempo de sobrevida de oito anos após o procedimento e, consequentemente, tem atingido o período da menopausa. No entanto, são poucos os estudos que relacionam o transplante hepático com o hipogonadismo (diminuição da produção de hormônios ovarianos) que essas mulheres apresentam quando chegam ao climatério. “Estamos tentando elucidar como elas se comportam quando chegam nessa fase da vida”, disse. São raros os trabalhos que fazem alguma relação entre o transplante e densitometria óssea e, também, com a qualidade de vida. Os que estão publicados têm um grande número de homens incluídos nas estatísticas e, portanto, não há nada dedicado exclusivamente às mulheres.

A associação com o grupo da professora Ilka Boin permitirá a Baccaro desvendar o quanto o transplante afeta não só a massa óssea, como também a menopausa, o volume ovariano, os níveis hormonais, a saúde vaginal e a libido. “Nossa intenção é oferecer um atendimento integral às mulheres que se submeterão ao transplante”, assegurou. Já existem relatos de que mulheres transplantadas podem engravidar. Sete mulheres participantes do grupo engravidaram após o procedimento. Na opinião de Baccaro, especificamente nestes casos não houve alteração no ovário e, portanto, não tiveram a fertilidade alterada. “Estamos estudando essas mulheres, avaliando o tamanho dos ovários, os níveis de hormônios, dificuldades ou problemas de saúde vaginal, se elas têm mais sintomas como calores e palpitação, se a menopausa ocorre em idade inferior às mulheres que não fizeram transplante, a massa óssea, a qualidade de vida e até alterações mamárias”, acrescentou o ginecologista.

É fundamental preconizar tratamentos para a menopausa e, ao mesmo tempo, descobrir qual tipo de imunosupressor afeta menos a massa óssea da mulher. Trata-se de uma classe de medicamentos muito grande. Um fator muito importante para Baccaro é recomendar a suplementação de cálcio diária para essas mulheres e instituir tanto um programa de exercícios físicos quanto uma dieta adequada visando à prevenção da osteoporose e manutenção geral do corpo humano. “A preocupação é com o bem-estar geral da mulher”, garantiu Aarão.

Porém, para saber se é necessário modificar ou melhorar um medicamento é preciso entender como essa fase da vida funciona nessas pacientes que fizeram o transplante. O que se pode afirmar, segundo Baccaro, é que a terapia de reposição hormonal por via oral não deve ser utilizada em pacientes com hepatopatias crônicas. Num estudo futuro será possível analisar o uso de terapia hormonal por via transdérmica ou vaginal em pacientes que estejam estáveis e que não apresentem rejeição ao órgão transplantado.

Para Aarão, esse é um grupo específico de mulheres que precisam, de fato, de uma atenção ginecológica muito grande. Por esse motivo que Baccaro iniciou a pesquisa do doutorado, com um grupo controle de mulheres transplantadas e de não-transplantadas. “Isso será importante para comparar quais aspectos estão relacionados com a menopausa de cada grupo. Vamos ser mais objetivos nessa questão”, concluiu.

Trabalho apresentado
Baccaro, L. F. C.; Boin, I. F.; Pedro, A. O.; Costa-Paiva, L; Leal, A. G.; Ramos, C. D.; Pinto, A.M.. Fatores associados à diminuição da massa óssea em mulheres transplantadas hepáticas. In: XV Congresso Paulista de Obstetrícia e
Ginecologia, 2010, São Paulo, 2010.

Trabalho aceito para apresentação oral tema livre
Baccaro, L. F. C.; Boin, I. F.; Pedro, A. O.; Costa-Paiva, L; Leal, A. G.; Ramos, C. D.; Pinto, A.M. Fatores associados à diminuição da massa óssea em mulheres transplantadas
hepáticas. In: VI Congresso Brasileiro de Transplante de Fígado e Pâncreas, Porto de Galinhas, 2010.

Trabalho enviado para publicação
Baccaro, L. F. C.; Boin, I. F.; Pedro, A. O.; Costa-Paiva, L; Leal, A. G.; Ramos, C. D.; Pinto, A.M. Decrease in bone mass in women after liver transplantation. Osteoporosis
International, 2010.

Publicação
Dissertação de mestrado “Fatores associados à densidade mineral óssea de mulheres submetidas a transplante de fígado”
Autor: Luiz Francisco Cintra Baccaro
Orientador: Aarão Mendes Pinto Neto
Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)
Fonte de financiamento: Fapesp



 
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