Falhas na governança
agravaram problemas hídricos

17/03/2015 - 15:19

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Ademar Romeiro, do Instituto de Economia da Unicamp

Ademar Romeiro, do Instituto de Economia da Unicamp

Júlio Cesar Hadler Neto, do Penses

Júlio Cesar Hadler Neto, do Penses

Alvaro Crósta, coordenador-geral da Unicamp

Alvaro Crósta, coordenador-geral da Unicamp

Joni Meyer, pró-reitor de Extensão da Unicamp

Joni Meyer, pró-reitor de Extensão da Unicamp

Orlando Fontes Lima Jr

Orlando Fontes Lima Jr

Antonio Carlos Zuffo, da FEC-Unicamp

Antonio Carlos Zuffo, da FEC-Unicamp

Margaret Keck, da Johns Hopkins University

Margaret Keck, da Johns Hopkins University

Luciana Cordeiro, da FCA

Luciana Cordeiro, da FCA

Marco Antonio dos Santos, diretor técnico da Sanasa

Marco Antonio dos Santos, diretor técnico da Sanasa

José Teixeira Filho, diretor da Feagri

José Teixeira Filho, diretor da Feagri

O problema da gestão dos recursos hídricos em meio à histórica crise de abastecimento que afeta a região Sudeste foi um dos focos dos debates no primeiro dia do Fórum Sustentabilidade Hídrica: Perguntas, Desafios e Governança, que acontece até quarta-feira (18) no Centro de Convenções da Unicamp. A construção de barragens foi a principal medida adotada em São Paulo nas últimas décadas para gerir os recursos hídricos, mas isso se mostrou insuficiente para suprir as necessidades da população, afirmou durante o evento o professor Ademar Romeiro, do Instituto de Economia (IE) da Unicamp. “Faltaram outras medidas, como a redução das perdas, o tratamento da água, o reúso, a redução da poluição e, talvez a mais negligenciada das medidas, o uso e ocupação adequadas do solo”, alertou Romeiro. “Por que os gestores assumiram riscos excessivos?”, questionou o professor do IE.

Antonio Carlos Zuffo, professor da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, defendeu que o gerenciamento hídrico somente poderá ser bem-sucedido se for feito de forma descentralizada e junto da população. Luciana Cordeiro, professora da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp, destacou também a necessidade de criação de mecanismos de gestão da água mais participativos e questionou a falta de iniciativa e atuação da sociedade nessa área. A professora da FCA lembrou que apenas 2,7% da água do planeta é doce e que o Brasil dispõe de 13% desse total. Apesar disso, a região Sudeste concentra 42% da população, mas conta com apenas 6% da água doce do país.

A cientista política Margaret Keck, professora da Johns Hopkins University e responsável por pesquisas sobre gestão hídrica no Brasil desde a década de 1990, abordou em sua palestra as dificuldades de implantação de políticas nessa área. No caso da gestão compartilhada dos recursos hídricos, que substituiu o antigo modelo centralizado, muitas vezes a divisão das responsabilidades entre as várias esferas leva a falta de ações práticas, como entre a União e os Estados, defendeu.

No caso específico de Campinas, a questão da ação pública contra a redução da perda de água foi abordada pela Sanasa, empresa de abastecimento do município. O engenheiro Marco Antonio dos Santos, diretor técnico da Sanasa, mostrou como a companhia investe em substituições das redes, ligações e hidrômetros para combater o problema.

A necessidade de preservação de bacias e de sua vegetação como uma maneira para diminuir os custos de tratamento da água potável foi um dos focos da palestra de José Galizia Tundisi, professor do Instituto Internacional de Ecologia e Membro da Academia Brasileira de Ciências. Em seus estudos, o professor apontou uma piora da qualidade da água nos últimos 150 anos, sendo que atualmente é possível identificar mais de 200 mil substâncias orgânicas dissolvidas na água.

Tundisi defendeu também uma ação mais incisiva dos governos na ampliação da cobertura vegetal em áreas urbanas, considerando também as mudanças climáticas. “Temos que nos adaptar ao clima e uma das maneiras é produzir as chamadas ‘cidades verdes’, aumentar a vegetação natural, fazer mais parques que permitam recarregar os aquíferos, aumentar a biodiversidade e dar oportunidade de mais lazer à população.”

Em defesa da atuação governamental paulista na crise, Rui Brasil Assis, coordenador de recursos hídricos da Secretaria de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, explicou que todos os comitês de bacias possuem planos de recursos hídricos, mas não se pode esperar que as medidas levem a risco zero. “Risco zero significa quase investimento infinito, ou seja, risco zero é algo que a sociedade não consegue pagar”, justificou o gestor.

O evento está sendo organizado pelo Fórum Pensamento Estratégico (Penses), Coordenadoria Geral da Universidade (CGU), Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), Instituto de Economia (IE) e Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp. A programação do Fórum Sustentabilidade Hídrica continua nesta quarta-feira (18), no Centro de Convenções da Unicamp.

Veja como foi o segundo dia do evento