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Meteorito encontrado no Tocantins é caracterizado por técnica analítica inovadora

Análise foi feita no Instituto de Geociências, reconhecido recentemente pela Meteoritical Society como repositório oficial de dados científicos sobre esses corpos celestes

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Em outubro de 2020, enquanto procurava ouro com um detector de metais na zona rural de Conceição do Tocantins (TO), um garimpeiro acabou encontrando uma rocha espacial enterrada a uma profundidade de quase 30 cm. O achado foi registrado como o 85° meteorito brasileiro junto à base de dados mundial Meteoritical Bulletin Database, mantida pela Meteoritical Society.

Para realizar a caracterização geoquímica daquele corpo celestial e possibilitar seu registro, uma equipe do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp utilizou uma técnica in situ inédita para esse tipo de material: a ablação por laser combinada com a espectrometria de massas por plasma indutivamente acoplado (LA-ICP-MS). “A análise tornou-se bem mais simples e rápida. O método tradicional usado para esse tipo de meteorito é a análise por ativação com nêutrons (INAA). Trata-se de uma técnica demorada e muito especializada, que demanda o uso de reator nuclear, algo de difícil acesso no Brasil”, explica Alvaro Crósta, docente do IG e um dos pesquisadores envolvidos na análise geoquímica e no registro no Meteoritical Bulletin Database.

Meteorito “Conceição do Tocantins”, que tem 449 g e mede 79 × 52 × 32 mm
Meteorito “Conceição do Tocantins”, que tem 449 g e mede 79 × 52 × 32 mm

Quanto à validade dos resultados, fundamental para a aceitação do registro de um novo meteorito, os pesquisadores do IG realizaram testes prévios por meio da análise de sideritos de composições determinadas por INAA e compararam os resultados com os da LA-ICP-MS. Entre os sideritos analisados estão o North Chile (meteorito-padrão para os sideritos), Campos del Cielo (Argentina), Gibeon (Namíbia), Dronino (Rússia) e os brasileiros Indianópolis (MG), Santa Catarina (SC), Santo Antônio do Descoberto (GO) e Nossa Senhora do Livramento (MT). “A comparação demonstrou que os resultados eram compatíveis em termos do conteúdo em elementos químicos, determinantes para a caracterização de sideritos, como níquel, cromo, cobalto, irídio, platina, ferro e ouro, entre outros”, afirmam Jacinta Enzweiler, docente do IG, e Margareth Navarro, técnica responsável pelo Laboratório de Geologia Isotópica (LAGIS) e doutoranda do IG, responsáveis pela investigação geoquímica do meteorito. A análise foi feita em colaboração com o proprietário da rocha - o colecionador e especialista em meteoritos André Moutinho - e com pesquisadores da USP, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e da Universidade de Alberta, no Canadá.

Recentemente, o Instituto de Geociências da Unicamp foi reconhecido como repositório oficial de dados científicos sobre meteoritos pela Meteoritical Society, tornando-se o 5º repositório desse tipo no país.

Jacinta Enzweiler, docente do IG e Margareth Navarro, técnica do Laboratório de Geologia Isotópica (LAGIS): responsáveis pela investigação geoquímica do meteorito
Jacinta Enzweiler, docente do IG e Margareth Navarro, técnica do Laboratório de Geologia Isotópica (LAGIS): responsáveis pela investigação geoquímica do meteorito

Registro de meteoritos

De acordo com Crósta, o processo de registro de um meteorito passa pela análise de um painel internacional de especialistas, que leva em conta principalmente a qualidade e a precisão das análises geoquímica e mineralógica. Os sideritos IIAB são compostos majoritariamente por ferro e níquel, com pequenas proporções de outros metais. Com o registro do meteorito Conceição de Tocantins pela Meteoritical Society, a técnica LA-ICP-MS passa a ser também aceita para a análise de novos sideritos. “Isso abre amplas possibilidades, pois se trata de uma técnica de acesso relativamente maior, de menor custo e com tempo de análise bastante reduzido quando comparada com a INAA. Com esse trabalho, o Instituto de Geociências da Unicamp se capacitou para analisar novos achados de meteoritos, principalmente os metálicos do tipo siderito. Além disso, um pequeno fragmento do novo meteorito passa a integrar a coleção do IG, ficando à disposição para atividades de ensino e de pesquisa na área da meteorítica”, orgulha-se o docente da Unicamp.

Alvaro Crósta: processo de registro de um meteorito passa pela análise de um painel internacional de especialistas
Alvaro Crósta: processo de registro de um meteorito passa pela análise de um painel internacional de especialistas

Outras informações e curiosidades sobre meteoritos podem ser encontrados nos dois artigos publicados recentemente na revista Super Interessante, em parceria entre a Sociedade Brasileira de Geologia (SBG), com participação de Alvaro Crósta.

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Análise foi feita no Instituto de Geociências, reconhecido recentemente pela Meteoritical Society como repositório oficial de dados científicos sobre esses corpos celestes

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