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Melhoramento genético amplia fronteiras do etanol de segunda geração

Tecnologia desenvolvida por pesquisadores do Instituto de Biologia da Unicamp regula a expressão de genes

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O Brasil vai passar a produzir entre 47 bilhões e 50 bilhões de litros de etanol por safra até 2028. Um aumento de cerca de 50%, frente aos 33 bilhões produzidos atualmente. A previsão é da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), que credita o crescimento ao RenovaBio, política nacional de estímulo à adoção de biocombustíveis, voltada para o cumprimento dos compromissos de redução de emissão de gases de carbono no âmbito do Acordo de Paris.

Para atender a esta previsão, a evolução da política pública de estímulo aos combustíveis renováveis não deixa de ser acompanhada do desenvolvimento continuado, nas Instituições de Ciência e Tecnologia Nacionais (ICTs), de tecnologias voltadas para a melhoria genética da cana-de-açúcar. Na Unicamp, este é objeto de estudo de um grupo de pesquisa liderado pelo professor Gonçalo Pereira, do Instituto de Biologia (IB). Entre os resultados obtidos pelo grupo está um know-how sobre uma série de promotores genéticos, região do DNA que inicia a transcrição de um determinado gene para determinar precisamente como e em que área da planta, especialmente nas variedades de cana-de-açúcar, ele deve se expressar para atingir algum tipo de melhoramento genético. Segundo o docente, isso é possível porque, com a expressão correta desses genes nos locais desejados, a planta pode se fortalecer contra pragas e doenças, além de outras tantas melhorias genéticas que se desejar como o aumento de produção de açúcar.

Para entender melhor como funciona esse processo, o docente usou a metáfora de que a cana seria uma casa que tem em sua entrada um painel com vários interruptores de circuitos que acendem e desligam lâmpadas diferentes, sendo que cada interruptor aciona somente um circuito para acender ou desligar uma lâmpada. Na analogia, o gene seria esse circuito (com interruptor e lâmpada), no qual o promotor é o interruptor que aciona o circuito e a parte codante do gene, “o que realmente faz o trabalho”, a lâmpada. Para ligar ou desligar uma lâmpada (fazer o gene “funcionar”), é necessário acionar o interruptor correto do circuito que se deseja, ou seja, o promotor.

“Vamos dizer, que um desses circuitos, uma dessas lâmpadas, está no banheiro dessa casa. Quando você chega em casa querendo ir ao banheiro e está tudo escuro, você precisa ligar uma lâmpada que está no banheiro. Mas se você aciona o interruptor errado, como o da lâmpada da geladeira na cozinha, não vai adiantar para o que você quer porque você terá que usar o banheiro no escuro. Nessa analogia, o que descobrimos em nosso trabalho foi uma série de interruptores e suas conexões”, exemplifica Pereira sobre a descoberta.

Com o potencial biotecnológico em permitir a expressão de determinados genes de cana em tecidos de interesse, bem como determinar o melhor momento para que essa expressão aconteça que a BioCelere, Centro de Pesquisas em Biologia Sintética da GranBio, licenciou a tecnologia, justifica Angela Drezza, especialista em propriedade intelectual da GranBio, ao complementar que é de interesse da empresa desenvolver novas variedades de cana-de-açúcar para produção de biocombustível, em especial, o etanol de segunda geração (cuja matéria-prima é a variedade cana energia), bioquímicos e outros produtos renováveis da forma mais sustentável possível.

No momento, a tecnologia está em fase de validação e não há data prevista para o início da comercialização. No entanto, Drezza adianta que já obtiveram resultados promissores nos testes para induzir a expressão dos genes em variedades da cana, otimizando o desenvolvimento com mais agilidade: “Isso é importante porque, no desenvolvimento de variedades vegetais, o tempo de cada safra é muito relevante. Assim, a expressão de determinados genes de interesse no momento mais conveniente, possibilita acelerar etapas de desenvolvimento da variedade vegetal, permitindo um ganho de competitividade para a empresa”.

 

 

Imagem de capa JU-online
Audiodescrição: em laboratório de pesquisas, imagem frontal e de busto, homem em pé sorri, ao centro esquerda da imagem, sendo que mantém os braços cruzados. Ele usa jaleco branco de mangas compridas. Logo às costas dele, parede de blocos de concreto pintada de branco, ocupando todo o fundo a imagem. Na parede, há afixados equipamentos como manômetros, canos de pvc marrons, torneiras de ferro e finos tubos e cobre. Há outros equipamentos maiores sobre uma bancada. O local é bem iluminado. Imagem 1 de 1.

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