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Pacientes recebem prótese dentária em um dia

Pesquisadores da Unicamp desenvolvem arcos pré-fabricados; tecnologia beneficia indígenas de aldeia na BA

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Autoestima, saúde e bem-estar. Os dentes são importantes não apenas para mastigar, falar ou sorrir, mas também refletem o estado de espírito e dão sinais, inclusive, sobre as condições de higiene e saúde do paciente. Dada a importância da saúde bucal para o bem-estar de qualquer pessoa, nada mais natural que seja motivo de pesquisa e extensão importantes na Unicamp. Neste contexto, pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) e da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp se juntaram para criar um conjunto de arcos dentais pré-fabricados, flexíveis e com dentes ajustáveis, voltado à confecção de próteses convencionais e sobre implantes dentários, devolvendo a vontade de sorrir aos pacientes.

Dentre os diferenciais dos arcos desenvolvidos está o fato de que eles se adaptam facilmente à anatomia dos pacientes a partir das alterações de diâmetro e forma do arco, contornos e alinhamento dos dentes, possibilitando obter peças protéticas personalizadas e que se adaptam melhor ao paciente. Ademais, com a tecnologia, é possível diminuir o tempo e o custo da produção de próteses.

Exemplo de tecnologia da Unicamp, que já está beneficiando a sociedade, os arcos foram aplicados no final de 2018, na tribo indígena de Aldeia Velha, em Arraial D’Ajuda, na Bahia. “Por se tratar de uma população de baixa renda e coberta pelo Sistema Único de Saúde (SUS), conseguimos usar a versão de baixo custo dos arcos”, conta a professora Almenara de Souza Fonseca Silva, uma das inventoras e responsável por conduzir o uso da tecnologia em testes clínicos. Ela viajou 1,5 mil quilômetros até a tribo pataxó para promover a reabilitação bucal nestes pacientes. “A experiência foi muito gratificante”, avalia.

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As professoras Lucia Mei (à esq.) e Almenara Fonseca desenvolveram a tecnologia

O projeto intitulado “Mutirão prótese em um dia”, conta com apoio do Ministério da Saúde, por meio da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), e permitiu a capacitação de dentistas do Distrito Sanitário Especial Indígena da Bahia (DSEI-BA) na confecção de próteses a partir dos arcos dentais que já são moldados antes mesmo da consulta. Anteriormente à iniciativa, estes profissionais realizavam apenas microcirurgias e outros procedimentos dentários. “No projeto, somos os auxiliares técnicos. O DSEI já atendia esta população indígena, mas, antes da nossa visita, não fazia próteses dentárias na aldeia. E a demanda por elas era muito grande”, frisa a professora. Além da prótese em um dia, a ação também contou com atividades voltadas à educação preventiva em saúde bucal para crianças indígenas.

O uso da tecnologia, que foi conduzido na própria comunidade, trouxe uma série de benefícios aos pacientes da aldeia, entre eles, a diminuição de tempo. “Antes, os setores responsáveis pela saúde indígena, tinham que levar o índio até o dentista, na cidade, e a confecção da prótese levava dias e várias sessões. Era um processo bem mais complexo e demorado”, conta Almenara. Com o método convencional, o tempo para confecção de uma prótese é de mais de um mês, demandando cerca de sete sessões. Já com o uso destes arcos pré-fabricados, o paciente sai no mesmo dia com uma nova prótese. Por isso, o nome “prótese em um dia”.

A professora Lúcia Helena Mei, da FEQ e que atuou no desenvolvimento da tecnologia, conta que os estudos tiveram início a partir do desafio em diminuir o tempo de confecção da prótese. “A tecnologia iniciou após a Almenara me procurar para desenvolver um material que agilizasse a confecção de próteses bucais, pois na maneira convencional as próteses demandam várias visitas ao consultório e as pessoas de menor renda e que moram distantes tem essa dificuldade”, corrobora.

Outro ponto positivo do uso dos arcos dentários pré-fabricados é a facilidade de adaptação ao paciente, uma vez que a tecnologia permite flexibilidade e pode ser personalizada de acordo com a fisiologia do paciente. “Em testes clínicos preliminares, que foram apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e realizados no início das pesquisas, nem dentistas e nem os pacientes identificaram qualquer variação entre o procedimento padrão e esta nova técnica”, revela. Com a tecnologia, existe a possibilidade de confeccionar próteses em diferentes ambientes, não necessitando de grande infraestrutura, além de um mini laboratório protético anexo. “A tecnologia nos permite trabalhar em qualquer lugar e até mesmo em clínicas improvisadas, como foi o caso da nossa experiência na Bahia”, completa Almenara.

A professora conta que o sucesso do projeto foi tanto, que o mutirão já tem programado novas expedições. A expectativa é que, ainda neste ano, sejam realizados mais procedimentos odontológicos com 60 pares dos arcos dentários. “A proposta é levar as próteses para aldeias indígenas situadas em Ilhéus e Euclides da Cunha (Bahia). Estas são as próximas paradas do mutirão”, revela a docente da São Leopoldo Mandic.

A tecnologia, licenciada em caráter não-exclusivo e com foco em pesquisa e desenvolvimento para a São Leopoldo Mandic, foi desenvolvida também pelos professores Simonides Consani, Leila Peres e pelo doutor José Luiz Lino Trochmann.

Imagem de capa JU-online
Audiodescrição: em área interna, imagem close-up e em perspectiva, mulher em consultório odontológica, à direita na imagem, com a boca aberta, mostra os dentes superiores. Ela é atendida por duas profissionais de odontologia, sendo que uma está junto a ela e mexe com as pontas dos dedos na arcada dentária superior da paciente. A outra está à frente dela, observando-a. As profissionais usam luvas de látex, toucas e máscaras brancas. Uma delas usa camiseta branca, onde se lê Saúde Indígena. Imagem 1 de 1.

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