audiodescrição: imagem colorida, selo "De volta a São Gabriel"

Pró-reitor se reúne com lideranças de povos indígenas

Ivan Toro (camiseta amarela) iniciou negociações
Ivan Toro (camiseta amarela) iniciou negociações que devem resultar em uma parceria por meio da qual o ISA poderá dar suporte a estudantes indígenas da região interessados em estudar na Unicamp

Um dia depois da aplicação das provas do vestibular indígena, nesta segunda-feira (23), o pró-reitor de graduação da Unicamp, professor Ivan Toro, reuniu-se com representantes do Instituto Socioambiental (ISA) e da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, para debater a ampliação das políticas de inclusão e permanência de estudantes indígenas.

A FOIRN é uma entidade que representa 23 povos indígenas do Rio Negro e articula ações em defesa dos direitos e do desenvolvimento sustentável de 750 comunidades indígenas na região, que é a mais preservada da Amazônia, na tríplice fronteira com Venezuela e Colômbia. A principal luta da entidade é a defesa do território e a valorização da cultura dos povos que habitam a região há pelo menos 3 mil anos.

O ISA, por sua vez, é uma organização não governamental que, há quase três décadas, atua junto a comunidades indígenas, quilombolas e extrativistas em estratégias de proteção de territórios, fortalecimento da cultura e dos saberes tradicionais e o desenvolvimento de economias sustentáveis.

Toro iniciou negociações que devem resultar em uma parceria por meio da qual o ISA poderá dar suporte a estudantes indígenas da região interessados em estudar na Unicamp. O instituto poderá oferecer apoio em processos de inscrição nos vestibulares, no auxílio para preenchimento de guias e documentos, ou mesmo na deflagração de campanhas para coleta de recursos para cobrir custos com deslocamentos e passagens aéreas.

Segundo Toro, o Instituto se dispôs a colocar estruturas de espaços, computadores e voluntários para prestar este tipo de auxílio aos candidatos indígenas.

O professor conversou também com representantes da Federação e com pais e mães de jovens indígenas. Toro ouviu relatos sobre os muitos obstáculos que jovens indígenas precisam superar para participar da prova e, depois de aprovados, para se manterem na Universidade. As lideranças pediram, em especial, o aperfeiçoamento de políticas de permanência.

Toro ouviu dos indígenas que, até chegar ao campus de Barão Geraldo, em Campinas, muitos dos futuros alunos são submetidos a deslocamentos extenuantes e, quase sempre, dispendiosos. Muitos vivem em locais distantes até cinco dias de barco de São Gabriel da Cachoeira — um dos principais locais de realização das provas.

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O Instituto Socioambiental se dispôs a colocar estruturas de espaços, computadores e voluntários para prestar este tipo de auxílio aos candidatos indígenas

De lá, têm de se deslocar até Manaus — alguns vão de avião, mas a maioria faz o trajeto num barco a diesel ou gasolina. Da capital amazonense até Campinas, o estudante deve pegar um avião, num trajeto que, além de longo e desgastante, pode ser proibitivo para muitos.

Toro lembrou ainda que, superado o obstáculo da longa viagem, surgem os problemas de adaptação à cidade — a escolha da moradia, a luta pela subsistência, a saudade da terra natal, do modo de vida, dos familiares.

Já nas salas de aulas, os estudantes ainda se deparam com as dificuldades do processo formativo e a adaptação às disciplinas exigidas no curso escolhido.

Por conta disso tudo, Ivan Toro diz que a Universidade tem feito uma discussão contínua sobre os mecanismos de inclusão e permanência estudantil.

O pró-reitor afirma que a Unicamp quer ampliar os sistemas de auxílio-transporte para alunos mais carentes, incluindo os estudantes indígenas. Quer, também, melhorar os processos como o da pré-graduação, que oferece apoio pedagógico aos novos alunos, além de aumentar o número de monitores que trabalham exclusivamente com essa população.

“Foi muito produtiva essa reunião”, disse Toro. “Na verdade, foi uma reunião necessária para eles, mas principalmente para nós, que estamos em permanente processo de aperfeiçoamento do sistema”, afirmou.

As lideranças indígenas pediram, em especial, o aperfeiçoamento de políticas de permanência
As lideranças indígenas pediram, em especial, o aperfeiçoamento de políticas de permanência

Balanço

Ivan Toro fez um balanço positivo da 5ª edição do vestibular indígena, realizada pela Unicamp neste domingo (22) em seis cidades brasileiras, com um número recorde de 3.480 inscritos.

O professor ressaltou o caráter democrático da prova e a importância da consolidação de um sistema de seleção que, segundo ele, se transformou num eficiente mecanismo de inclusão.

“Esse é o nosso jeito de mudar a realidade”, disse o pró-reitor, que acompanhou a aplicação da prova em São Gabriel da Cachoeira, cidade localizada a 3,3 mil km de distância de Campinas e que é considerada o município mais indígena do Brasil.

“Fiquei muito impactado com o povo dessa cidade. Encontramos aqui pessoas muito afetuosas, muito carinhosas”, disse ele. “Não tivemos nenhum problema com a prova. A estrutura foi muito bem montada e funcionou de forma perfeita. Quero deixar aqui meus parabéns à Comvest”, disse ele referindo-se à Comissão de Vestibulares da Unicamp.

Além de São Gabriel da Cachoeira, foram realizadas provas em mais duas cidades no Amazonas — Manaus e Tabatinga, além de Dourados (MS), Recife (PE) e Campinas (SP).

De acordo com o pró-reitor, ao menos três fatores contribuíram para o aumento expressivo na procura pelo vestibular este ano. “Nosso exame já está se transformando numa tradição. Temos a nosso favor muita propaganda sendo feita por boca a boca”, avalia Toro. Além disso, diz ele, a parceria com a Federal de São Carlos amplia a abrangência do exame. Na UFSCar, esta é a 16ª edição da modalidade de ingresso para estudantes indígenas. Na Unicamp, é a quinta.

Pró-reitor fez um balanço positivo da 5a. edição do Vestibular Indígena
Pró-reitor fez um balanço positivo da 5ª edição do Vestibular Indígena

Conforme Toro, houve mudança no calendário de provas. “Normalmente, fazíamos o vestibular em novembro, num período do ano que é muito ruim para os indígenas, segundo eles mesmos nos disseram. Já em janeiro, muita gente se desloca de seus locais de origem para São Gabriel. Então ficou mais fácil para eles”, afirma o pró-reitor, que chamou a atenção para a grande diversidade verificada entre os inscritos.

Dados da Comvest, entre as etnias declaradas pelos candidatos, a maioria é Ticuna (28%), seguido das etnias Baré (17%) e Tukano (7%). Há, ainda, inscritos das etnias Kokama, Atikum, Pankararu, entre outras. Quase 80% dos inscritos residem no estado do Amazonas. No total, foram oferecidas 260 vagas destinadas a estudantes indígenas brasileiros que cursaram escolas públicas, 130 na Unicamp e 130 na UFSCar. A primeira chamada de convocados para matrícula será feita no dia 13 de fevereiro.

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