Edição nº 659

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 13 de junho de 2016 a 19 de junho de 2016 – ANO 2016 – Nº 659

Conjuntos documentais de história
social ampliam acervo do AEL

Arquivo Edgard Leuenroth, o maior do gênero da América Latina, incorporou
recentemente 11 coleções, entre as quais a do Centro Pastoral Vergueiro

O Arquivo Edgard Leuenroth (AEL), que já disponibiliza o maior acervo de história social da América Latina, está incorporando toda a documentação do Centro Pastoral Vergueiro (CPV), um dos maiores acervos neste segmento existentes no Brasil. “São mais de 400 metros lineares de documentos, que abrem novas perspectivas para o estudo dos movimentos sociais no país. Já recebemos a primeira parte, que é de fotografias, áudios e vídeos, e também a segunda, com a documentação em papel já digitalizada. Esperamos incorporar todo o acervo do CPV em dois anos”, afirma Alvaro Bianchi, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e diretor do AEL.

Segundo Bianchi, o acervo do Edgard Leuenroth cresceu significativamente de 2015 para cá, com a incorporação de 11 conjuntos documentais, além de outras pequenas doações, totalizando mil metros lineares. “São coleções de relevância nacional e internacional, com farto material sobre direitos humanos, movimentos sociais, produção intelectual da esquerda, pesquisas de opinião e mundo do trabalho, entre outros. É uma documentação que muda bastante o perfil do AEL e amplia as possibilidades de pesquisa, criando novas temáticas no campo das ciências sociais, a exemplo dos acervos pessoais de Oswaldo Sevá, Peter Fry e Verena Stolcke. Vários pesquisadores estão vindo trabalhar neste campo.”

O professor Christiano Key Tambascia, diretor adjunto do AEL, lembra que Peter Fry e Verena Stolcke, juntamente com Antonio Augusto Arantes, foram fundadores do Departamento de Antropologia do IFCH. “De Peter Fry trouxemos a biblioteca pessoal, com cerca de 3,2 mil livros, em um conjunto único e muito rico sobre as temáticas de gênero e sexualidade, como também de raça e estudos africanistas. De Verena temos os cadernos de campo da pesquisa que ela desenvolveu no começo da década de 1970, sobre trabalho e gênero em fazendas da região de Campinas; um contraponto à sua pesquisa anterior em Cuba, sobre o trabalho assalariado em fazendas de café.”

Na opinião de Alvaro Bianchi, o conjunto documental de Verena Stolcke é menor, mas riquíssimo por mostrar as etapas preliminares da pesquisa, registrando o material colhido para realizá-la. “Geralmente, conhecemos apenas os resultados das pesquisas, publicados em artigos ou livros. Já a documentação de Oswaldo Sevá chegou recentemente. Ele estudou e atuou muito junto aos movimentos ambientalistas, produzindo inclusive uma coleção de mapas. Incorporamos sua biblioteca e relatórios referentes ao movimento contra as barragens, mas não só.”

O Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, o mais antigo do Grande ABC paulista (fundado em 1933), doou documentos em duplicata do sindicato e de outras organizações da cidade e do campo. “Temos aqui, por exemplo, uma foto da primeira Conclat [Conferência Nacional da Classe Trabalhadora], que está na origem da CUT [Central Única dos Trabalhadores], onde aparecem figuras como de Lula, Djalma Bom e Jair Meneguelli. Há uma coleção de 15 mil slides, que também já chegou.”

O diretor do AEL acrescenta que outra documentação incorporada no último ano, da Fundação Pluma, traz uma dimensão internacional à temática social ao focar principalmente a Argentina, mas também outros países da América do Sul (Chile, Peru, Bolívia, Venezuela, Colômbia) e da América Central (Nicarágua, El Salvador, República Dominicana). “É um acervo enorme, que estamos trazendo por partes: na primeira, com apoio do Gabinete do Reitor, vieram 32 metros lineares e, até o final do ano, mais 30 metros de documentação, além de áudios e vídeos. Com esta coleção vieram coleções quase completas dos jornais Independência Operária, Versus e Convergência Socialista, juntamente com vasta e interessante documentação interna de organizações políticas, impressa muitas vezes ainda em mimeógrafos a álcool.”

O AEL também recebeu parte do acervo da agência A2ad, com imagens produzidas entre 1982 e 1985, período em que seu sócio-fundador Angelo Perosa atuou no jornal Voz da Unidade: uma coleção retrata eventos como greves de operários no ABC, manifestações pelas Diretas Já, celebrações da eleição do presidente Tancredo Neves e uma visita do escritor José Saramago a São Paulo. Uma segunda coleção registra viagens, debates, comícios e bastidores da campanha de Franco Montoro ao governo do Estado de São Paulo em 1982.

De acordo com Alvaro Bianchi, estas duas coleções da A2ad já vieram digitalizadas, ao passo que o AEL acaba de fazer o mesmo com um conjunto documental sobre o IFCH, como parte da Mostra dos 50 Anos da Unicamp, que estão sendo comemorados desde outubro do ano passado. Esta mostra do cinquentenário inclui imagens dos protestos contra a intervenção na Unicamp por Plínio Alves de Moraes, decretada pelo então governador Paulo Maluf e que durou de meados de 1981 até o início 1982.

O diretor do AEL destaca, finalmente, que os técnicos do AEL, em parceria com o Cecult (Centro de Pesquisas em História Social da Cultura) da Unicamp, estão envolvidos em um grande projeto de digitalização de processos judiciais trabalhistas, que representam alguns milhões de páginas. “Estamos procurando associar todas as coleções recebidas recentemente a projetos de pesquisa que permitam a sua disponibilização online.”


 

As novas coleções

Centro Pastoral Vergueiro (CPV)
O CPV foi fundado em 1973, durante a ditadura militar no Brasil, idealizado por frades dominicanos da região sudeste de São Paulo, que aglutinaram em torno do projeto estudantes universitários, professores, profissionais liberais e militantes de organizações de esquerda. O Centro Pastoral Vergueiro nasceu com o compromisso de preservar a memória de resistência e organização popular. Seu acervo documental (433 metros quadrados) será transferido em sua totalidade para o AEL no prazo de dois anos. São folhetos, manuscritos, periódicos, livros, teses, cartazes, slides, diapositivos, fitas cassetes, fotos, adesivos, broches, discos de vinil etc.

Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá
Fundado em 1933, é o mais antigo sindicado do Grande ABC, tendo participado de diversas lutas e conquistas dos trabalhadores das indústrias de São Paulo. Ao completar 81 anos de existência, passou a organizar a sua memória, priorizando o material produzido diretamente pelo próprio sindicato e também em parceria com o movimento sindical e popular. A doação ao AEL compreende a documentação em duplicata do sindicato e de outras organizações, entidades e movimentos da cidade e do campo (oposições sindicais, sindicatos, comissões de fábrica, partidos políticos, movimentos populares, entidades de apoio etc.). São 10 metros lineares de jornais, boletins, cartazes, revistas, folhetos, cadernos, cartilhas, adesivos, dossiês, folders e outros textos.

Verena Stolcke
Nascida na Alemanha em 1938 e criada na Argentina, Verena Stolcke foi cofundadora do Departamento de Antropologia da Unicamp, instituição em que lecionou até 1980. São cadernos de campo, mapas sinópticos e documentos diversos que trazem informações de sua pesquisa realizada nos anos 1970 sobre o café em terras paulistas.

Peter Fry
Nascido em 1931, doutor em antropologia pela Universidade de Londres e professor emérito do Departamento de Antropologia da UFRJ, Peter Fry ajudou a criar o Programa de Antropologia da Unicamp, juntamente com Antonio Augusto Arantes e Verena Stolcke, no começo da década de 1970. Dentre os livros da biblioteca pessoal do professor e que agora compõem o acervo do Arquivo Edgard Leuenroth, existem importantes obras africanistas, bem como sobre raça, gênero e sexualidade.

Oswaldo Sevá
Engenheiro mecânico pela USP, doutorado em literatura e ciências humanas pela Université Paris 1 Pantheon-Sorbonne, livre-docente no Instituto de Geociências (IG) e professor colaborador do IFCH da Unicamp. Arsênio Oswaldo Sevá Filho, ao longo da vida (faleceu em 28 de fevereiro de 2015), teve uma atuação de destaque em defesa do meio ambiente, realizando o mapeamento de riscos ambientais em várias regiões brasileiras, a mais recente na área da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Foi um pesquisador de destaque no cenário nacional e internacional em questões relacionadas ao meio ambiente e trabalhou junto a diversas entidades ligadas à causa ambiental. Foi assessor e defensor das causas do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens). Para além de um estudioso, Sevá se engajou na luta contra a destruição da natureza e violações de direitos causados pela construção de hidrelétricas no Brasil. A documentação no AEL contém fotografias, slides, negativos, fitas magnéticas VHS, películas cinematográficas, transparências, livros, planos de aula e projetos de pesquisa.

Agência A2ad/Angelo Perosa
São 10 mil negativos, já digitalizados e catalogados, que se dividem em duas coleções: Jornal Voz da Unidade e Campanha Eleitoral para Governo do Estado de São Paulo de Franco Montoro. Além das imagens produzidas para o jornal no período de 1982 a 1985 e da campanha eleitoral de Montoro, a coleção inclui imagens das primeiras eleições no Uruguai após o fim da ditadura naquele país.

MPT da 15ª Região
O Ministério Público do Trabalho desta região abrange 599 municípios do interior de São Paulo e firmou convênio com a Unicamp, por meio do Centro de Pesquisa em História Social da Cultura (Cecult) e do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), visando à preservação de seu acervo histórico. O convênio permite que a documentação arquivada, que traz informações preciosas sobre a dinâmica e a história do mundo do trabalho na região, seja catalogada, digitalizada e disponibilizada para fins acadêmicos, preservado o sigilo disposto no Decreto 7.845/12. Já foram digitalizados 9.600 processos do primeiro e segundo lotes, referentes ao período de 1992 a 2010, estando em digitalização o terceiro lote, com mais 4.700 processos (o quarto lote ainda não foi avaliado).

Fundación Pluma
A Fundación Pluma para la Preservación y Difusión de la Tradicion Socialista Morenista foi fundada por iniciativa de militantes argentinos com o objetivo de preservar e divulgar a história de quase 50 anos de trotskysmo na Argentina. A coleção recebida pelo AEL abrange: 1) documentos referentes ao primeiro período organizacional na Argentina, do GOM (Grupo Obrero Marxista) ao PST (Partido Socialista de los Trabajadores); 2) documentos referentes ao segundo período na Argentina, desde o inicio do MAS (Movimiento al Socialismo) em 1982 até maio de 1992; 3) documentação internacional referente aos distintos períodos construtivos da corrente: Quarta Internacional (SU-QI), congressos, debates, tendências, campanhas, etc., bem como a documentação de parte da construção da Liga Internacional de los Trabajadores (LIT-Quarta Internacional); e 4) publicações e documentos de diversas organizações trotskistas e países.

Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec)
Fundado em 1976, nos anos da ditadura militar, o Cedec aglutinou intelectuais na época impedidos de exercer suas funções nas universidades públicas e privadas do país. Instituição civil, sem fins lucrativos, tem como objetivo principal realizar pesquisas e debates sobre aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais da realidade brasileira, com ênfase na problemática das classes populares. As pesquisas desenvolvidas pelo Cedec focam na temática de direitos humanos e justiça social, constituição e consolidação da cidadania, instituições e práticas democráticas, políticas públicas, relações internacionais e a integração regional. Além de pesquisa, o Cedec realiza consultorias, seminários, atividades de formação e publicações. A documentação engloba projetos, programas e documentos administrativos, contábeis e jurídicos, bem como publicações gerais, relatórios de pesquisa, teses, dissertações e outros textos.

Daniel Ryo
Fotógrafo e artista plástico, Daniel Ryo Shinozaki (1965-2010) iniciou a construção de seu repertório artístico por meio de um exercício contínuo no campo do desenho, gravura e pintura, ao mesmo tempo em que se graduou em engenharia civil, pela Escola Politécnica da USP. Em sua trajetória fotográfica merecem destaque o premiado “Projeto Foices: imagens de agricultores da zona rural do sul do país”; um vasto estudo da cultura japonesa, desde imagens de comunidades tradicionais do interior paulista até as feitas mais recentemente no Japão; e imagens de multidão – tema de seu mestrado em multimeios pela Unicamp. O acervo que chega ao AEL registra parte de sua produção enquanto fotógrafo, desenhista e gravurista. São cadernos de desenho, gravuras, xilogravuras, esboços (desenho), fotos, negativos etc.

Grupo Identidade
É a organização LGBT mais antiga da cidade de Campinas, tendo participação ativa na vida política da cidade. O acervo do Grupo Identidade propicia conhecer um pouco da história do movimento homossexual no Estado de São Paulo, além de possuir informação a respeito dos processos jurídicos que o grupo moveu contra a homofobia, participação dos membros em encontros nacionais, paulistas, da região Sudeste, atas de reunião, troca de e-mails e toda a produção gráfica do Identidade, como fotografias, CDS, vídeos e áudios.

Gallup
Gallup é uma empresa de pesquisa de mercado e opinião pública com mais de 80 anos de existência e atuação global. O acervo recebido abrange as pesquisas elaboradas pela seção brasileira do grupo.