Edição nº 529

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 11 de junho de 2012 a 17 de junho de 2012 – ANO 2012 – Nº 529

Um projeto,
cinco linhas de ação

Ex-reitores destacam compromisso da Unicamp com
a qualidade do ensino e da pesquisa ao longo de diferentes gestões

 

A notícia do excelente desempenho da Unicamp em dois rankings internacionais foi recebida pelos ex-reitores da Universidade como um indicativo de acerto na linha adotada por diferentes gestões ao longo da história da instituição.

Para o professor e linguista Carlos Vogt, reitor entre 1990 e 1994 e atual coordenador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), várias iniciativas foram fundamentais para a consolidação da Unicamp nos cenários nacional e internacional. Segundo ele, a Unicamp tem conseguido estruturar-se e cumprir sua vocação para o ensino, a pesquisa e as atividades de extensão por meio de diferentes etapas desde sua fundação, em 1966.

Vogt ressalta o pioneirismo do professor Zeferino Vaz com “a aventura criadora” da fundação da Universidade no meio de um canavial, no distrito de Barão Geraldo; a abertura do processo de institucionalização, com José Aristodemo Pinotti, entre 1982 e 1986, fase da criação das normas, estatutos, regimentos e do Conselho Universitário e Pró-Reitorias; e a conquista desta etapa de institucionalidade pelo ex-reitor Paulo Renato Costa Souza, entre 1986 e 1990. “Participei deste processo como professor, representante do Conselho, como vice-reitor na administração do professor Paulo Renato e, depois, como reitor, entre 1990 e 1994”, conta.

Na avaliação de Vogt, outra preocupação da Universidade e que continua entre os grandes desafios é trabalhar olhando para o futuro. Ele ainda ressalta a busca pela qualidade no ensino de graduação e destaca o que chama de “marca” da Unicamp, que é a manutenção da qualidade dos cursos de pós-graduação.

Trabalho e dedicação

O professor titular emérito da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) José Martins Filho, que foi reitor entre 1994 e 1998, também associa o reconhecimento da Unicamp no cenário mundial à qualidade do ensino de graduação e pós-graduação, além da pesquisa de alto nível, metas sempre perseguidas pela Universidade desde sua criação. “A pesquisa desenvolvida na Unicamp, quando se analisa a publicação por docente, é a maior do Brasil. A dedicação integral à docência e à pesquisa também é muito importante para essa qualidade e reconhecimento. Não podemos perder de vista o papel fundamental de técnicos e funcionários especializados que participam ativamente da pesquisa e da extensão”, diz.
Martins acredita que a Unicamp deve continuar a valorizar o trabalho em dedicação exclusiva dos professores e pesquisadores, mantendo uma atividade de extensão de grande interesse para a população. Segundo ele, é isso que leva até o público em geral o resultado altamente positivo do trabalho dos docentes e estudantes.

“Além disso, é preciso garantir, como a Universidade tem feito, o bom preparo dos estudantes, condição que depende da qualidade do aluno que ingressa, por meio de vestibulares altamente competitivos e de professores focados no trinômio ensino-pesquisa-extensão”, diz.

Daí, segundo Martins, para tornar-se uma universidade de classe mundial, é apenas uma questão de reconhecimento e tempo. “Acho que estamos perto disso. Para tanto, devemos manter a mesma linha de trabalho e dedicação”, diz.

Responsabilidade social

Para o professor Hermano Tavares, reitor da Unicamp entre 1998 e 2002, a trajetória da Unicamp demonstra que a instituição foi construída com seriedade e clareza quanto ao seu compromisso primordial que, segundo ele, é com o povo brasileiro.

Hermano avalia que a Unicamp conta com uma respeitável folha de serviços prestados ao país. “A universidade, que é parte de uma força-tarefa na construção da nação, não pode se afastar desta trajetória que promove educação de qualidade, com acesso amplo, gerando oportunidades para todos”, diz.

O ex-reitor ressalta que a Unicamp, nos seus 46 anos, conquistou participação expressiva na produção científica nacional e obteve reconhecimento no país e no exterior. “Não podemos perder de vista este foco.”

Segundo Hermano, a instituição, ao projetar o futuro, deve evocar o passado, pois é desta forma que “se ganha clareza”. No seu entender, é preciso considerar que o país sofre com problemas estruturais, entre os quais a má distribuição de renda, e convive com questões cruciais como a necessidade de reparar injustiças sociais.

“Não é possível construir uma nação sem ter uma educação de qualidade, de acesso amplo que gere oportunidade para todos. Esta é a principal responsabilidade cidadã”, afirma.
Hermano acredita que o Brasil tem condições favoráveis de crescimento. Ele dá o exemplo da exploração de recursos minerais, como o pré-sal, no entanto, faz questão de ressaltar que essas fontes são esgotáveis e que a saída definitiva é investir em ações que criem emprego de qualidade e que ajudem a inovar e prosperar os parques tecnológicos. “Mas também é necessário mergulhar nos traumas recentes da história para não correr o risco de repetir os mesmos erros. O objetivo é alcançar desenvolvimento social com progresso material. Para cumprir tal objetivo, a parte que cabe à universidade é a educação. Se houver sucesso, poderemos chegar à universidade de classe mundial”, diz.

Compromisso com o saber

Carlos Henrique de Brito Cruz, reitor entre 2002 e 2005, atual diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e professor do Instituto de Física “Gleb Wataghin” (IFGW), atribui a boa colocação da Unicamp nos rankings a um conjunto de fatores perseguidos pela Universidade desde sua criação. “São décadas de esforço e de trabalho de muitas pessoas”, diz.

De acordo com Brito, o ponto de partida foi constituir um corpo docente comprometido com a pesquisa de categoria internacional, com a criação de conhecimento de relevância mundial. Ao lado disso, segundo avalia, a Unicamp sempre manteve a característica de atrair bons alunos. “Isso é decisivo para fazer uma universidade prosperar”, afirma.
O docente acredita que, em busca da excelência global, a Universidade precisa manter a condição de atrair bons alunos na graduação e pós-graduação e excelentes professores advindos de todos os lugares do mundo. Outro ponto ressaltado por Brito é a maior integração internacional, com interação com pesquisadores mais capazes e originais.

O professor acredita que a boa visibilidade do Brasil no mundo se deve também às boas universidades, como a Unicamp, a USP, a Unesp e outras que formaram gerações de profissionais em áreas essenciais porque, segundo ele, quem move a indústria e o agronegócio é gente formada nas boas universidades.

Pesquisa e desenvolvimento


O professor da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) José Tadeu Jorge, reitor da Unicamp entre 2005 e 2009, ressalta que um fator importante para o sucesso acadêmico da Unicamp, que deve ser mantido, é o conceito adotado pela Universidade, que faz da produção do conhecimento novo e da relação com a sociedade os elementos qualificadores da formação de recursos humanos em todos os níveis e nas diversas áreas.

Também foi fundamental, segundo Tadeu Jorge, o processo de autonomia com vinculação orçamentária, que desde 1989 garante recursos para a Unicamp assegurar suas atividades, com responsabilidade e planejamento. Outro aspecto relevante, segundo ele, é a busca constante pelos melhores docentes, funcionários e estudantes.

Para Tadeu, avançar na busca pela excelência exige fidelidade ao conceito adotado pela Universidade de ampliar as relações com a sociedade e intensificar a geração do conhecimento em todas as áreas. “Tais ações deverão ser apoiadas por meio da expansão do quadro docente e do suporte ao desenvolvimento das atividades, com a desoneração da carga burocrática e a viabilização do crescimento do número de funcionários de apoio ao ensino, pesquisa e extensão”, afirma.

Tadeu Jorge acredita que a Unicamp deve, ainda, ampliar a relação com as instituições de outros países, em especial aquelas que possuem mais experiência e resultados melhores. Para ele, pesquisas em conjunto são fundamentais, assim como envio e recebimento de estudantes, tanto de graduação como de pós-graduação. “É necessário, também, assumir um papel de liderança. Afinal, a Unicamp é exemplo para outras universidades”, afirma.