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“A ideia é criar uma editora com forte participação dos alunos”

Em entrevista ao Jornal da Unicamp, a professora Márcia Abreu explica como funcionará a Asa da Palavra

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Em entrevista ao Jornal da Unicamp, a professora Márcia Abreu explica como funcionará a Asa da Palavra. Foto: Antonio Scarpinetti
Em entrevista ao Jornal da Unicamp, a professora Márcia Abreu explica como funcionará a Asa da Palavra. Foto: Antonio Scarpinetti

selo-asaCom experiência não apenas no ensino e na pesquisa de literatura, mas também na área editorial, a professora Márcia Abreu, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), é a idealizadora da editora-escola Asa da Palavra. A nova casa funcionará como um laboratório para os alunos no Instituto, agrupando as produções realizadas em uma série de disciplinas do curso de Estudos Literários. Depois de quatro anos como diretora executiva da Editora da Unicamp, Márcia Abreu espera não só levar para a Asa da Palavra sua expertise, mas também transformar o espaço em uma referência na formação de profissionais para o mercado editorial brasileiro, garantindo aos alunos “uma perspectiva profissional mais ampla”.

Jornal da Unicamp: O que é a Asa da Palavra e como ela vai funcionar?

Márcia Abreu: A Asa da Palavra é a editora-escola criada na congregação de 12 de maio de 2022, no IEL. Ela vai ser associada ao setor de publicações do Instituto, mas funcionará independentemente dele, como uma editora comum. Neste semestre, ofereceremos duas disciplinas de investigação em editoração, uma para produzir livros e outra para a divulgação científica e cultural. Além disso, vários professores da Unicamp estão associados à Asa da Palavra para produzir, em suas disciplinas, materiais que, depois, vão virar livros editados pelos alunos matriculados na disciplina Investigação em Editoração.

Jornal da Unicamp: Sabemos que os alunos já pediam por disciplinas que possibilitassem a profissionalização em diferentes áreas, como a de editoração e de tradução. Como surgiu a ideia de criar essa editora-escola? Ela tem relação com essa demanda?

Márcia Abreu: Eu propus a ideia da editora-escola no IEL para que os alunos pudessem ter uma experiência de trabalho em editora. Isso vem junto com a iniciativa que a professora Daniela Birman teve de criar disciplinas de estágio, realizadas pelos alunos em revistas produzidas na Unicamp. Temos alunos fazendo estágio em várias revistas. A ideia é criar, dentro da Unicamp, uma editora com forte participação dos alunos, sob a supervisão de um docente qualificado para isso.

Jornal da Unicamp: Como serão divididas as atividades da editora-escola?

Márcia Abreu: Vou dar um exemplo interessante para os alunos entenderem o processo: o IEL tem um núcleo de tradução. Nesse núcleo temos os professores Marcos Siscar, Mário Luiz Frungillo, Viviane Veras e Érica Lima. Nessas disciplinas de tradução, os alunos podem escolher os autores que gostariam de traduzir e trabalhar na produção de um livro. Na editora-escola, os alunos poderão acompanhar toda a rotina de uma editora: verificar questões de direito autoral, entrar em contato com o autor se ele ainda estiver vivo, ou com a editora que detém os direitos autorais fora do Brasil. E todas as etapas do processo editorial, a preparação do texto, a diagramação, a revisão, o pedido de ISBN, capa, que fazem parte do processo de produzir um livro. Lúcia Granja, professora da disciplina História do Livro e da Leitura, tem proposto a criação de antologias organizadas pelos alunos que possam ser publicadas na editora-escola. O professor Jefferson Cano pode, por exemplo, oferecer uma disciplina na qual os alunos façam a edição de romances que estão fora de catálogo. Então ele acompanharia os alunos em todas as etapas que precedem a entrega de um livro para uma editora: estabelecimento de texto, verificação de variante, elaboração de notas de rodapé, introdução, glossário. Depois o material iria para a editora-escola onde alunos assumem o restante do processo. Isso sem falar das possibilidades de aprendizado. O professor Aquiles Tescari, do Departamento de Linguística, pode, por exemplo, ensinar revisão ou gramática para capacitar revisores, formação essencial para quem quer trabalhar no mercado editorial. Enfim, são muitas possibilidades.

Nova editora será espaço de aprendizado e treinamento para alunos da Unicamp. Foto: Antoninho Perri
Nova editora será espaço de aprendizado e treinamento para alunos da Unicamp. Foto: Antoninho Perri

Jornal da Unicamp: A editora-escola poderá receber alunos de outros institutos interessados na área editorial?

Márcia Abreu: Sim. Recentemente, fiz contato com dois professores da área de Artes Visuais, do Instituto de Artes, e eles gostaram da ideia da editora-escola. Nós vamos divulgar nosso trabalho no Instituto de Artes para ver se alguns alunos se interessam pelas disciplinas de produção e divulgação, porque eles poderão fazer ilustrações para capas, livros infantis e campanhas de divulgação. Então será uma editora tocada por alunos, sempre com supervisão de um docente. Não precisa ser necessariamente aluno de Estudos Literários ou mesmo do IEL. E vale destacar que a editora-escola está associada também à Coordenação de Extensão, porque, como os livros serão disponibilizados para um público amplo, essas atividades também serão consideradas como atividades de extensão.

Jornal da Unicamp: Como a editora-escola vai selecionar os originais?

Márcia Abreu: A Asa da Palavra terá um conselho editorial composto por dez docentes: Jefferson Cano, Marcos Siscar, Mário Frungillo, Lúcia Granja, Viviane Veras, Érica Lima, Aquiles Tescari, Jacqueline Peixoto Barbosa, Daniela Birman e eu. Teremos editais para submissão de originais, assim como já acontece anualmente na disciplina de Introdução à Editoração. Toda a comunidade da Unicamp - estudantes, professores e funcionários - poderá enviar textos, de acordo com as propostas dos editais. A ideia é selecionar os textos de acordo com nossos conhecimentos e afinidades.

Jornal da Unicamp: E como será o processo de publicação?

Márcia Abreu: Inicialmente, nossas publicações serão em PDF, como a gente tem feito, deixando disponível para download gratuito no site do IEL. Está nos planos começar a produzir e-books, outro tipo de arquivo. A diagramação é fluida, não tem número de página fixo etc. São vários detalhes. E no futuro poderemos publicar esses livros em plataformas maiores, desde que o download continue sendo de graça. A vantagem é produzir uma quantidade maior de livros para download gratuito e ter uma turma focada em fazer toda a divulgação.

Jornal da Unicamp: A editora-escola vai consolidar o Certificado de Estudos em Editoração do curso de Estudos Literários?

Márcia Abreu: Os alunos precisam cumprir um determinado número de créditos para obter o Certificado de Estudos em Editoração. A editora-escola vai reunir essas disciplinas e possibilitar que outras possam ser oferecidas. Além da disciplina de Tópicos Especiais em Editoração I, que é uma introdução à editoração, que eu ministro há um tempo, também teremos as duas que já mencionei, de Investigação em Editoração I e II, disciplinas de produção editorial e de divulgação, respectivamente. Isso sem falar da disciplina que o professor Jefferson Cano ministra, na qual os alunos editam a revista Arcádia. A ideia é que a editora facilite o cumprimento desses créditos do certificado pelo aluno.

Um dos livros produzidos em disciplina de Introdução à Editoração. É uma antologia de contos organizada por quatro alunos, em 2018. Crédito; Divulgação
Um dos livros produzidos em disciplina de Introdução à Editoração, publicado em 2018, antologia de contos foi organizada por alunos do IEL. Crédito: Divulgação

Jornal da Unicamp: Como você vê o papel da universidade na formação do profissional do mercado editorial?

Márcia Abreu: Eu acho muito importante que o curso de Estudos Literários dê uma formação profissional para os alunos, além daquela para o qual ele já é voltado, que é formar pesquisadores na área de literatura. O ideal é que os alunos interessados em editoração possam concluir o curso de graduação e encontrar trabalho em alguma editora ou que possam começar sua própria editora. Essa área está em expansão no Brasil e tem muita demanda de profissionais qualificados. É uma coisa impressionante. A experiência na editora-escola será mais completa do que em uma editora comum porque o aluno não vai fazer só revisão ou só preparação. Vai poder fazer isso e também fazer capa, texto de quarta capa, orelha de livro, press release, diagramação. Isso vai gerar um profissional versátil, com prática em várias etapas do processo editorial. Em Campinas não há cursos de editoração, as faculdades daqui não oferecem. Em São Paulo, tem a USP, mas são poucas vagas por ano. Não é uma área saturada de profissionais. Com a editora-escola, os alunos poderão ter uma maior experiência no mundo editorial e, assim, sair do curso com uma perspectiva profissional mais ampla.

Esta entrevista compõe uma série criada a partir de uma parceria com a editora-escola Asa da Palavra. Ela foi elaborada por alunos do curso de Estudos Literários, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), sob a supervisão da professora Daniela Birman. 

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