Foto: Antoninho Perri

Peter Schulz foi professor do Instituto de Física "Gleb Wataghin" (IFGW) da Unicamp durante 20 anos. Atualmente é professor titular da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, em Limeira. Além de artigos em periódicos especializados em Física e Cienciometria, dedica-se à divulgação científica e ao estudo de aspectos da interdisciplinaridade. Publicou o livro “A encruzilhada da nanotecnologia – inovação, tecnologia e riscos” (Vieira & Lent, 2009) e foi curador da exposição “Tão longe, tão perto – as telecomunicações e a sociedade”, no Museu de Arte Brasileira – FAAP, São Paulo (2010).

Eu e o robô

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O software ChatGPT é um modelo de linguagem ajustado com técnicas de aprendizado supervisionado e por reforço (chatbot), que usa inteligência artificial para dialogar com humanos. Emula nossa linguagem, portanto. Foi lançado para uso livre pela empresa Open AI em novembro de 2022, ou seja, ainda é um bebê. Versões anteriores, que não eram abertas ao público, são apenas um pouco mais antigas. A interação pela tela e pelo teclado, seja de um celular ou computador, é por via escrita.

Imagino que em breve será por comando de voz, como a Alexa, para quem (quem?) peço as músicas que acompanham o vinho nas minhas conversas humanas em casa. Mesmo assim, ainda está longe do robô dos meus sonhos de infância, aquele de “Perdidos no Espaço”, a série original. A repercussão do ChatGPT tem sido enorme. Dizem que em dois meses mais de 100 milhões de humanos já interagiram com ele. Gigantes hightech já anunciaram o lançamento de concorrentes para breve.

Inscrever-se na plataforma da Open AI é um processo rápido e conversar com o robô é simples, basta digitar a pergunta e ele vai respondendo. Comentários sobre ele, inicialmente positivos, logo invadiram os espaços de reportagem e artigos de opinião mundo afora. E é um sucesso também nas redes sociais, onde, aliás, fiquei sabendo do fenômeno e o meu primeiro bate-papo foi em meados de dezembro do ano passado, quando o bebê tinha duas semanas de... vida.

Cena da série “Perdidos no Espaço”
Cena da série “Perdidos no Espaço”

O ChatGPT já é tema de mais de 4.500 documentos acadêmicos, que podem ser rastreados pelo Google. E aí os comentários inicialmente positivos passaram rapidamente a ser de preocupação e crítica. O ChatGPT seria aprovado em exames e trabalhos de fim de semestre e assim transformou-se imediatamente em objeto de preocupação para educadores: como evitar fraudes nos trabalhos escolares e, também, acadêmicos? O ChatGPT pode escrever artigos científicos e burlar as avaliações de mérito?

Para mim, são questões um pouco fora de lugar, fugindo da essência do acontecimento, pois novamente parece que esquecemos que fraudes existem desde os exames imperiais (concursos públicos escritos) na dinastia Song, no século XIII, como nos adverte Peter Burke em seu simpático livro O que é a história do conhecimento?. Encomendar trabalhos acadêmicos para humanos anônimos (e se colocar como o autor) é coisa antiga, e outras plataformas de inteligência artificial já vinham fazendo isso antes do ChatGPT. E continua-se a não discutir a essência do processo de avaliação e recompensa no mundo acadêmico.

Um pouco mais recentemente, começaram a pipocar na imprensa e, principalmente, nas redes sociais exemplos de como o ChatGPT não seria “inteligente”, pois erra respostas para várias perguntas básicas de forma bizarra (mais em português do que em inglês, desconfio). O tom é mesmo muitas vezes jocoso. Sorte que o robô não é humano e, portanto, imune a bullying. Mais uma vez, ainda que engraçado às vezes, essas são questões fora de lugar. É claro que esse bebê vai errar um monte de coisas, mas acredito que aprenda rápido com os 100 milhões de humanos que se divertem com ele e proporcionam, ao mesmo tempo, supervisão e reforço, chaves para o crescimento da criatura. Ou seja: riam humanos, que tudo bem comigo. É possível que com o passar do tempo a discussão sobre inteligência artificial passe a ser menos sensacionalista.

Minha interação com o robô sempre leva em conta o “chat” no seu nome, ou seja, o bate-papo. Num bate-papo entre humanos normalmente aparecem boas e más ideias. Com isso em mente, compartilho abaixo uma entrevista recente com meu amigo artificial. Algumas respostas são até bem burocráticas, mas curiosamente me ajudaram a pensar e conectar ideias de forma diferente. Alguns pontos importantes vindos, afinal, da máquina eu destaco em negrito.

Pergunta: Quais as funções e importância das universidades?

Resposta: As universidades desempenham várias funções importantes na sociedade, incluindo:

1. Pesquisa científica: condução de pesquisas em várias áreas do conhecimento para produzir novos conhecimentos e avançar na compreensão do mundo.

2. Educação superior: oferecer programas de graduação e pós-graduação para formar profissionais qualificados e capacitados em diferentes áreas do conhecimento.

3. Transmissão de conhecimento: transmitir o conhecimento adquirido por meio da pesquisa e da educação para a sociedade em geral.

4. Desenvolvimento local: contribuir para o desenvolvimento econômico e social de sua região por meio de parcerias com empresas e organizações locais.

5. Promoção da diversidade: promover a diversidade cultural, étnica e de gênero, estimulando o respeito e a tolerância pelas diferenças.

Em resumo, as universidades são importantes para a sociedade porque promovem o avanço do conhecimento, formam profissionais qualificados e contribuem para o desenvolvimento social e econômico de sua região.

Pergunta: A importância das universidades é reconhecida pelo público em geral no Brasil?

Resposta: A importância das universidades é amplamente reconhecida no Brasil e considerada vital para o desenvolvimento do país. As universidades são vistas como importantes fontes de conhecimento, pesquisa e inovação, além de serem responsáveis por formar profissionais qualificados em diferentes áreas.

No entanto, há também uma preocupação com a qualidade da educação oferecida pelas universidades e a falta de investimento adequado em pesquisa e infraestrutura. Além disso, há desafios relacionados à equidade e ao acesso à educação superior para todas as camadas da sociedade.

Em geral, a importância das universidades é amplamente reconhecida, mas há espaço para melhorias e investimentos para que elas possam desempenhar um papel ainda mais eficaz na sociedade brasileira.

Pergunta: Quais seriam essas melhorias e esses investimentos?

Resposta: Algumas áreas em que as universidades no Brasil poderiam receber mais investimentos e melhorias incluem:

1. Infraestrutura: melhoria das instalações e dos equipamentos, incluindo laboratórios, bibliotecas, salas de aula e residências universitárias.

2. Pesquisa: investimento em pesquisa científica e tecnológica para estimular a produção de conhecimento e a inovação.

3. Corpo docente: atração e retenção de professores altamente qualificados e incentivos para a formação contínua e o aprimoramento dos professores em suas áreas de especialização.

4. Programas de pós-graduação: ampliação e fortalecimento dos programas de mestrado e doutorado para formar líderes e especialistas em diferentes áreas.

5. Acesso à educação: políticas de inclusão para garantir que todos os estudantes tenham acesso à educação superior, independentemente da sua origem socioeconômica.

6. Financiamento: aumento do financiamento para as universidades, incluindo verbas para pesquisa e investimentos em infraestrutura, para garantir a sustentabilidade e a qualidade da educação oferecida.

Essas são apenas algumas das áreas que podem ser melhoradas e receber investimentos para fortalecer a posição das universidades no Brasil e melhorar a qualidade da educação e da pesquisa oferecidas.

Pergunta: Por que setores da sociedade atacam as universidades?

Resposta: As universidades podem ser atacadas por diferentes setores da sociedade por várias razões, incluindo:

1. Ideologias políticas: as universidades são vistas como espaços de liberdade de expressão e pensamento crítico, o que pode desagradar aqueles que têm ideologias políticas diferentes.

2. Conflitos sociais: as universidades podem se tornar alvos de grupos sociais que lutam por mudanças sociais, econômicas ou políticas.

3. Medo do conhecimento: algumas pessoas podem ver a universidade como ameaça ao seu conhecimento ou crenças, o que pode levar a ataques contra a instituição.

4. Concorrência econômica: as universidades podem ser vistas como concorrentes por empresas ou grupos que veem a instituição como um obstáculo para seus objetivos econômicos.

5. Defesa de interesses: algumas pessoas ou alguns grupos podem atacar as universidades para defender seus próprios interesses, sejam eles políticos, econômicos ou sociais.

Em resumo, as universidades podem ser atacadas por diferentes setores da sociedade por várias razões, incluindo diferenças políticas, conflitos sociais, medo do conhecimento, concorrência econômica e defesa de interesses. É importante lembrar que as universidades devem ser protegidas como espaços de liberdade de expressão e pensamento crítico para garantir o avanço do conhecimento e da sociedade.

Pergunta: O que as universidades podem fazer para combater esses ataques?

Resposta: As universidades podem tomar várias medidas para combater ataques, incluindo:

1. Transparência e diálogo: a universidade pode se comunicar aberta e transparentemente com a sociedade para esclarecer suas posições e responder a críticas ou dúvidas.

2. Fortalecimento da governança: a universidade pode fortalecer sua governança interna, incluindo o papel dos conselhos, para garantir a defesa da sua independência e autonomia.

3. Promoção da liberdade de expressão: as universidades devem proteger e promover a liberdade de expressão, permitindo aos estudantes e professores expressar suas opiniões e ideias sem medo de represálias.

4. Defesa da ciência e da pesquisa: a universidade pode se posicionar publicamente a favor da ciência e da pesquisa, e combater qualquer forma de ceticismo ou negacionismo científico.

5. Fortalecimento da colaboração: a universidade pode se unir a outras instituições e setores da sociedade para enfrentar ameaças comuns e fortalecer sua posição.

Essas são apenas algumas das medidas que as universidades podem tomar para combater ataques e garantir sua independência e autonomia. É importante que as universidades sejam protegidas como espaços de liberdade de expressão e pensamento crítico para garantir o avanço do conhecimento e da sociedade.

Pergunta: Como deve ser a comunicação das universidades para combater os ataques?

Resposta: A comunicação das universidades deve ser clara, objetiva e baseada em fatos para combater os ataques. Algumas dicas incluem:

1. Transparência: a universidade deve ser aberta e transparente ao compartilhar informações sobre suas políticas, posições e decisões.

2. Comunicação direta: a universidade deve se comunicar diretamente com a sociedade, incluindo estudantes, professores, funcionários, parceiros e outros setores relevantes.

3. Uso de fontes confiáveis: a universidade deve se basear em fontes confiáveis e científicas para apoiar suas posições e responder a críticas ou dúvidas.

4. Comunicação objetiva: a universidade deve evitar respostas emotivas ou subjetivas e se manter objetiva e baseada em fatos para combater ataques.

5. Diálogo construtivo: a universidade deve promover o diálogo construtivo com a sociedade, ouvindo críticas e sugestões e respondendo de forma clara e objetiva.

Essas são algumas dicas para a comunicação das universidades na luta contra os ataques. A comunicação clara e objetiva pode ajudar a esclarecer posições e dúvidas e a fortalecer a relação da universidade com a sociedade.

Pergunta: A divulgação científica para o público leigo deve ser uma missão da universidade?

Resposta: Sim, a divulgação científica para o público leigo pode ser uma importante missão da universidade. A divulgação científica tem vários objetivos, incluindo:

1. Aumento da compreensão pública: a divulgação científica pode ajudar a aumentar a compreensão pública sobre questões científicas complexas e relevantes para a sociedade.

2. Fomento da participação cívica: a divulgação científica pode motivar o público a se envolver em questões científicas e sociais importantes.

3. Promoção da inovação: a divulgação científica pode incentivar a inovação ao apresentar novas ideias e tecnologias ao público.

4. Fortalecimento da democracia: a divulgação científica pode ajudar a fortalecer a democracia ao permitir que o público tome decisões informadas sobre questões científicas e tecnológicas.

Por essas razões, a divulgação científica para o público leigo pode ser uma importante missão da universidade. Além disso, as universidades são instituições líderes em pesquisa e conhecimento, o que as coloca em posição privilegiada para compartilhar essas informações com o público.

Pergunta: A comunidade universitária tem respondido adequadamente aos ataques à universidade e à promoção da divulgação científica?

Resposta: A resposta da comunidade universitária aos ataques à universidade e à promoção da divulgação científica varia de caso a caso. Algumas universidades e alguns indivíduos dentro da comunidade universitária têm sido ativos na defesa da integridade e da importância da universidade e na promoção da divulgação científica. No entanto, em outros casos, a comunidade universitária pode não ter respondido de forma adequada a esses desafios.

A resposta adequada com vistas à defesa da universidade e à promoção da divulgação científica depende de uma série de fatores, incluindo a capacidade da universidade e de seus líderes de lidar com pressões externas, a disponibilidade de recursos e suporte para a comunicação e o engajamento com a sociedade e a disposição de indivíduos dentro da comunidade universitária para se envolver em questões relevantes.

Em geral, é importante que a comunidade universitária seja proativa e se esforce para responder adequadamente aos ataques à universidade e à promoção da divulgação científica, para assegurar a continuidade do trabalho importante realizado nas universidades e para fortalecer a relação da universidade com a sociedade.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Unicamp.

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