O dia mundial da meteorologia

Edição de imagem

"O futuro do tempo, do clima e da água ao longo das gerações" é o lema do Dia Meteorológico Mundial de 2023, comemorado em 23 de março, data que entrou em vigor a convenção que instituiu a Organização Meteorológica Mundial (OMM), inicialmente denominada de Organização Meteorológica Internacional, criada em 1873. A OMM é ligada à Organização das Nações Unidas (ONU) e tem sede em Genebra, na Suíça. O Brasil é um país signatário. Já o Dia Nacional do Profissional em Meteorologia é comemorado em 14 de outubro, data na qual a profissão de meteorologista foi regulamentada pela Lei Nº 6.835, de 14 de outubro de 1980.

O conselho executivo da OMM se reúne anualmente para definir o tema referente às comemorações do Dia Mundial da Meteorologia. A escolha do tema deste ano, “O futuro do tempo, do clima e da água ao longo das gerações”, tem o objetivo de mostrar que as condições climáticas de curto e longo prazo e o ciclo das águas não conhecem fronteiras geográficas ou políticas e que a cooperação internacional é fundamental. Essa filosofia vem conduzindo o trabalho da comunidade meteorológica desde sua criação e continuará encorajando as gerações atuais e futuras, convertendo a ciência em serviços para a sociedade.

A meteorologia é uma ciência que vem ganhando destaque nas últimas décadas pelo desenvolvimento científico e tecnológico, com o avanço dos satélites e radares e por ser importante em praticamente todos os ramos da atividade humana. As mudanças climáticas, que implicam alterações permanentes nas características do clima em escala global, marcadas hoje por uma maior recorrência de eventos extremos, são uma realidade e um dos principais desafios da ciência neste século. Nesse sentido, uma das atividades dos Serviços Meteorológicos e Hidrológicos Nacionais e Internacionais é monitorar as mudanças de longo prazo nos gases do efeito estufa, radiação ultravioleta, aerossóis e ozônio, e avaliar seus consequentes efeitos nas pessoas, no clima, na qualidade do ar e da água e nos ecossistemas marinhos e terrestres. Outra atividade importante é o monitoramento do transporte atmosférico e aquático de partículas perigosas após, por exemplo, uma erupção vulcânica ou um acidente industrial.

A fim de dar ênfase ao aumento da concentração de gases do efeito estufa na atmosfera e ao consequente aumento dos eventos extremos, em março de 2022, o lema do Dia Meteorológico Mundial foi: “Alerta Antecipado e Ação Antecipada”. Baseado no sexto e último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que metade da população mundial vive em áreas de risco.

Segundo a OMM, entre 1970 e 2019, os extremos climáticos e hídricos foram responsáveis por 50% dos desastres ocorridos no mundo (WMO – sigla em inglês para OMM –, 2021). A tendência é que a situação piore se medidas mais eficientes de combate às mudanças climáticas não forem tomadas. A meta da ONU é proteger todas as pessoas contra os eventos meteorológicos extremos por meio de sistemas de alerta precoce.

Essa é uma iniciativa para a redução do risco de desastres que faz parte da Implementação da Adaptação Climática da ONU. Nesse sentido, a OMM está comprometida com apresentar um plano de ação a fim de garantir que todas as pessoas estejam protegidas por sistemas de alerta precoce até 2027. Os Sistemas de Alerta Antecipado são uma medida de adaptação climática comprovada, eficaz e viável, que salva vidas e proporciona um retorno bem maior do que o investimento. O “Sexto Relatório de Avaliação de Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade” (IPCC, 2022) reconheceu os sistemas de alerta precoce e as atividades de gestão de risco de desastres como opções de adaptação transversais essenciais, que aumentam os benefícios de outras medidas de adaptação quando combinadas.

Chegada de um radar para o Projeto SOS Chuva, em 2016; a meta da ONU é proteger todas as pessoas contra os eventos meteorológicos extremos por meio de sistemas de alerta precoce
Chegada na Unicamp de um radar para o Projeto SOS Chuva, em 2016; a meta da ONU é proteger todas as pessoas contra os eventos meteorológicos extremos por meio de sistemas de alerta precoce

Segundo o United Nations Office for Disaster Risk Reduction – Escritório das Nações Unidas para a Redução de Risco de Desastre – (UNISDR – Estratégia Internacional das Nações Unidas para Redução de Risco, na sigla em inglês –, 2004), a vulnerabilidade corresponde ao conjunto de processos e condições resultantes de fatores físicos, sociais, econômicos e ambientais que aumentam a suscetibilidade de uma comunidade ao impacto dos perigos, em virtude da exposição a eventos adversos, e pode estar associada a aspectos estruturais (como edificações e modificação do terreno inadequadas), falta de reconhecimento oficial dos riscos e falta de comunicação eficiente com a população, dentre outros. (UNISDR, 2004).

As instabilidades e incertezas do clima e os fenômenos adversos da natureza estão em pauta e são assuntos recorrentes não só na imprensa em escala global, como também em produções cinematográficas. Um número cada vez maior de pessoas procuram informações sobre meteorologia e utilizem a previsão do tempo como antecipação às e prevenção contra as frequentes catástrofes. A percepção geral de que medidas preventivas e mitigatórias precisam ser implementadas para eliminar, quando possível, e reduzir, em todos os demais casos, os impactos de eventos meteorológicos e climáticos extremos também vem aumentanto e permeia a sociedade.

Além dessa busca generalizada por informações motivadas pela conscientização sobre mudanças climáticas e eventos meteorológicos extremos, os aspectos práticos e a própria vivência contextualizada pelas alterações no clima provavelmente aumentarão a demanda por informações meteorológicas, climáticas e de previsão hídrica para apoiar a tomada de decisões nos próximos anos. A pesquisa que reúne as comunidades de ciências físicas e sociais é fundamental para entender a escala e o ritmo das mudanças no clima e no ciclo da água em nosso planeta. Dentre os desafios a serem enfrentados para que haja um desenvolvimento sustentável, dentre as medidas necessárias para a redução do risco de desastres provocados pelos eventos extremos destacam-se o desenvolvimento de sistemas de alerta precoce confiáveis e o planejamento sobre o uso da terra, sobretudo nas regiões urbanas, para reduzir a vulnerabilidade, a exposição e os consequentes riscos.

A década 2021-2030 revela-se o período decisivo para a implantação das agendas internacionais, entre elas priorizar os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável como um apelo das Nações Unidas para acabar com a pobreza, proteger o planeta e garantir que até 2030 todas as pessoas desfrutem de paz e prosperidade. A mudança climática ameaça a realização de muitos desses objetivos e, consequentemente, a sobrevivência das gerações futuras, caso nenhuma medida venha a ser tomada.


Ana Maria Heuminski de Avila é bacharel em Meteorologia pela Universidade Federal de Pelotas (1991), mestrado em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1994) e doutorado em Engenharia Agrícola pela Universidade Estadual de Campinas (2006). Atua como pesquisadora no Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas em Agricultura (Cepagri) da Unicamp. Tem experiência nas áreas de Meteorologia e Agrometeorologia, atuando principalmente nos seguintes temas: previsão de tempo e clima, sensoriamento remoto da atmosfera, zoneamento agrícola e mudanças climáticas. 

Bruno Kabke Bainy é bacharel e mestre em meteorologia pela Universidade Federal de Pelotas, e trabalha como meteorologista no Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp desde outubro de 2019, onde atua na previsão do tempo, realiza pesquisas e presta atendimento ao público e à mídia em assuntos relacionados à meteorologia e climatologia. Tem interesse em eventos meteorológicos extremos e impactos do tempo atmosférico no bem-estar humano.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Unicamp.


Referências:

Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, 2022), acessado em 8/3/2023.

UNISDR (2004). Terminology of Disaster Risk Reduction. Geneva: United Nations International Strategy for Disaster Reduction.

World Meteorological Organization (WMO, 2021), acessado em 8/3/2023.

twitter_icofacebook_ico