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692
Campinas,
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Obra mapeia cinco séculos do pensamento humano

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Livro é destinado a estudantes, pesquisadores e leitores que queiram conhecer a história da filosofia

A professora Giulia Belgioioso, organizadora do livro História da filosofia moderna: “O livro coloca em evidência o fato de que não existe uma única filosofia progredindo de filósofo para filósofo no curso do tempo”
A professora Giulia Belgioioso, organizadora do livro História da filosofia moderna: “O livro coloca em evidência o fato de que não existe uma única filosofia progredindo de filósofo para filósofo no curso do tempo”

O livro História da filosofia moderna, originalmente publicado em italiano, ganhou a sua versão brasileira por meio da Editora da Unicamp. A obra, que tem mais de 700 páginas, promete auxiliar não apenas alunos da graduação, mas também pesquisadores e leitores curiosos. O livro destaca que não existe uma única filosofia que progride de filósofo para filósofo ao longo do tempo, mas muitas filosofias diferentes, o que ajuda iniciantes da área a compreender o caráter não linear dos avanços ocorridos nesse campo.

A professora Giulia Belgioioso, organizadora do volume, explica que a ideia de criar um manual desse tipo nasceu da sua experiência como docente, que evidenciou a necessidade de ampliar o aprendizado dos estudantes. Leia abaixo a entrevista completa com Belgioioso, que lecionou História da Filosofia na Universidade de Salento (Itália) e na Universidade de Paris Sorbonne (França).

Jornal da Unicamp – O que a motivou a organizar um manual sobre filosofia moderna?

Giulia Belgioioso Nos cursos que dei na Itália, na França, no Brasil e em outras partes do mundo, sempre me impressionou o fato de os alunos, fossem eles italianos, franceses ou brasileiros, adquiriam consciência sobre temas específicos, mas lutavam para encaixá-los em um quadro mais geral. O conhecimento que os alunos adquiriam nos cursos universitários me pareceu setorial, parcial e limitado. Não muito diferente, pensando bem, daquele adquirido pela internet. Naturalmente, há uma diferença significativa, que consiste no fato de, ao contrário dos cursos ministrados por professores universitários, as informações obtidas por meio da internet não possuírem nenhum filtro e, a respeito de cada tópico, pode-se “baixar” tudo e o contrário de tudo.

Foi assim, levando em conta, por um lado, a consciência sobre os limites objetivos dos cursos universitários e, por outro, os esforços para oferecer aos alunos uma ferramenta fácil de usar para ampliar seus conhecimentos, que nasceu em mim a ideia de criar um manual sobre a história da filosofia.

JU – A obra foi produzida, principalmente, para ser utilizada por alunos de graduação em filosofia, mas também pode ser usada na formação de pesquisadores. Nesse sentido, como o livro pode contribuir com as pesquisas da área?

Giulia Belgioioso – O primeiro objetivo do livro era certamente ser um subsídio para estudantes universitários, com o propósito de formar adequadamente futuros professores e pesquisadores. Contudo, o manual não esquece o jovem pesquisador e o leigo curioso. Ao jovem investigador que, no momento em que define o objeto da sua investigação, sente a necessidade de um guia inicial que o oriente, o livro oferece, a par dos tradicionais capítulos dedicados a autores individuais, capítulos ou fichas em que são aprofundados alguns conceitos filosóficos mais recorrentes, como por exemplo o atomismo e a lei natural.

JU – Em que o seu livro difere de outras obras sobre a filosofia moderna?

Giulia Belgioioso – O livro coloca em evidência o fato de que não existe uma única filosofia progredindo de filósofo para filósofo no curso do tempo, mas muitas e diversas filosofias. Ele o faz mostrando, como penso já ter dito, que as filosofias devem ser reconstruídas (e que se pode fazer a história) seguindo caminhos de pesquisa inéditos.

O manual – e isso não é algo secundário – destaca a convencionalidade das classificações historiográficas, como, por exemplo, empirismo e racionalismo, que os manuais tradicionalmente usam para classificar filósofos e doutrinas filosóficas, assim como conceitos como positivismo jurídico, arminianismo, liberalismo, idealismo alemão etc. Também nesse caso são as “fichas de aprofundamento” que ilustram a gênese dessas classificações e desses conceitos. Elas revelam onde e por que nasceram, bem como as razões pelas quais prevaleceram essas classificações e esses conceitos.

O “Quadro Sinótico”, anexo ao manual, ao organizar as obras dos filósofos em um plano horizontal de acordo com as datas de sua publicação, ajuda a articular melhor o panorama, permitindo estabelecer conexões mais complexas. Em suma, o livro não se destina a estudantes, pesquisadores ou espectadores passivos. As fichas servem precisamente para isso, ou seja, para tornar os usuários do manual vigilantes, incentivando-os a ir à raiz dos conceitos e por vezes realçando a polissemia desses conceitos. A história da filosofia não pode, em hipótese alguma, ser compreendida como uma reconstrução de um percurso progressivo que procede de forma linear.

JU – Como o manual pode contribuir para a divulgação da filosofia para os não iniciados nessa disciplina?

Giulia Belgioioso – O livro pode certamente promover o interesse pela filosofia. E isso porque, ao vincular a filosofia à sua história, ele traz à tona seu grande encanto. Percorrendo suas páginas, vemos como, entre final do século XIV e meados do século XIX, surge uma nova figura, de um homem confiante na capacidade de sua razão de construir sistemas de conhecimento, de si e do mundo, livres de qualquer dependência em relação a autoridades externas. A história do homem que o livro conta é a que nos fez ser o que somos. Como não pensar que tudo isso promove um verdadeiro interesse pela filosofia?


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Título: História da filosofia moderna

Organizadora: Giulia Belgioioso

Páginas: 736

Formato: 16 cm x 23 cm

Editora da Unicamp

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