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Os sinais de fumaça

HÉCTOR LUIS SAINT PIERRE

Podemos perceber a fonte da ameaça pelo sinal que ela emite deliberadamente ou não. O tremor de terra nos anuncia o possível maremoto, a coluna de fumaça o incêndio, a inquietação das cobras a iminente enchente, a poeira no horizonte o avanço da cavalaria, a movimentação de tropas a intenção ofensiva do inimigo, a diminuição da quota de produção de petróleo o aumento do seu preço, etc. Sem pretender desenvolver o estudo do sinal da ameaça agora, apenas indicamos sua importância e que sua estreita vinculação com a fonte permitiria nos preparar para as conseqüências da sua realização. A analise, organização e classificação dos sinais pode permitir desenvolver uma “sensibilidade estratégica” para antecipar, debelar ou neutralizar ameaças. Esta tarefa é uma das centrais em qualquer projeto que pretenda fornecer subsídios para as decisões estratégicas na área da defesa. Da atenção que se dispense à detecção dos sinais, da ameaça propriamente dita, dependerá a capacidade de resposta estratégica.

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Héctor Saint Pierre
é do Centro de Estudos
Latino-Americanos da Universidade Estadual Paulista (Unesp)

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O militar e a selva

ROBERTO MARTINS Fº

Nos anos 90, para os militares brasileiros, o cavalo-de-batalha da pressão internacional foi a questão da incapacidade brasileira de extinguir grandes incêndios florestais, como o de Roraima em março de 1998. Mas a questão fundamental, que passou a ser encarada como a verdadeira ameaça de se transformar em justificativa para uma intervenção estrangeira no século XXI, foi um tema até então mencionado apenas marginalmente nos documentos militares. Trata-se da problemática da água. Vale dizer, da escassez desse elemento como grande temática de segurança mundial nas próximas décadas. Essas “novas” visões foram sintetizadas pelo comandante militar da Amazônia, general de Exército Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, em discurso público recente.

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Roberto Martins Filho é da Universidade
Federal de São Carlos e pesquisador da Fapesp e do CNPq

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Vizinhança armada

ESTEBAN G. MONTENEGRO

A problemática do narcotráfico e o acionar paralelo e funcional de grupos armados não estatais e organizações criminais se registra na Zona Andina, girando ao redor da Colômbia e na maior parte das fronteiras com países vizinhos. A problemática da depredação e contrabando de recursos naturais é outro fenômeno que parece estar emergindo como uma ameaça em algumas zonas pontuais, sem que exista conexões entre elas; a Zona do Amazonas (que inclui predominantemente o Brasil e outros países fronteiriços) e o Atlântico Sul, que compromete principalmente a República Argentina. Por seu lado, a questão das migrações ilegais de caráter massivo, parece haver-se convertido em um tema de segurança de grande magnitude e com peso próprio na agenda de relações entre Estados Unidos e seus vizinhos imediatos do sul, México principalmente e outros países da Costa do Caribe.

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Esteban Germán Montenegro é da Universidad
Nacional de Quilmes

 

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O dilema das FFAA

SUZELEY KALIL MATHIAS
A cultura política prevalecente em nossos países aconselha cautela ao avaliar o cenário político-institucional que norteia a formulação estratégica nacional. Essa cautela deve ser a base para a compreensão das ameaças e, a partir delas, balizar a formulação de políticas públicas. Apesar dos avanços notáveis em termos legais e até comportamentais, as FFAA mantêm sua capacidade para ocupar nichos no interior do Estado até pela falta de interesse dos civis (governo e sociedade), mantendo o que se chama de “prerrogativas militares” convivendo com um estado de direito mitigado. A falta de definição de missões e estratégias de defesa leva as Forças Armadas a pensarem que são “desprestigiadas”, o que implica, como afirmou um ex-ministro militar, “a diluição do valor das Forças Armadas”, transformando-as numa ameaça, na medida em que leva os militares a pensar na política.

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Suzeley Kalil Mathias é do Núcleo de Estudos
Estratégicos da Unicamp e da Universidade Estadual Paulista

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A pressão dos EUA

MARCELO FABIÁN SAIN

Ficou claro que para os Estados Unidos o narcotráfico era visto como uma ameaça fundamental a sua segurança nacional. Em abril de 1996, o Comando Sul das Forças Armadas e a Escola Nacional de Defesa deste país organizaram um seminário no qual se abordou um novo ambiente de segurança no hemisfério. Ali, os delegados norte-americanos sustentaram que, independentemente da missão básica das Forças Armadas latino-americanas de defender a soberania territorial de seus países, deviam também fazer frente a um conjunto de “novas ameaças”, entre as quais se destacavam o narcotráfico, o terrorismo, o crime organizado, a proliferação de tecnologia de uso suspeito, o contrabando de armas e os conflitos sociais derivados das migracões e a pobreza extrema. Neste marco, os limites entre a defesa ante ameaças externas e a segurança frente a ameaças internas são cada vez mais difusos, o que significa que os Estados e suas forças militares devem fazer frente a todo o espectro de ameaças existentes.

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Marcelo Fabián Sain é da Universidad
Nacional de Quilmes

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Exército policial

SAMUEL ALVES SOARES
Os casos de violência, em suas múltiplas variantes, têm aumentado em escala crescente no Brasil. Inevitavelmente, há apelos mais ou menos constantes para que se amplie o uso da força para refrear a incidência de ações contra a vida ou o patrimônio. Não é inusual que setores entendam que as Forças Armadas devam ser empregadas diretamente nestas ações. Dentre estes setores há mesmo representantes políticos que consideram inadequado deixar de empregar recursos tão escassos de repressão do Estado. As Forças Armadas têm sido bastante resistentes a estas propostas, como também os governos não têm alimentado expectativas de emprego militar para tarefas de cunho policial. Entretanto, os recentes movimentos paralisatórios das polícias civis e militares de diversos estados da federação têm levado à atuação direta das Forças Armadas na área da segurança pública como substitutos dos policiais em greve.

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Samuel Alves Soares é do Núcleo de Estudos
Estratégicos da Unicamp e da Universidade São Francisco

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‘Novas velhas’

ERNESTO LÓPEZ

O que logo chama atenção no uso da expressão “novas ameaças”, é que faz referência a ameaças que na realidade são, em sua maioria, velhas. Vale a pena revisar um a um os casos incluídos na lista:

- Terrorismo internacional: Remonta à década de 70 e esteve ligado em sua origem e continua estando, desta maneira, predominantemente ligado ao conflito árabe-israelense.

- Narcoatividades: Algumas delas são de velhíssima data. “Não se conhecia coca nem morfina, os rapazes de antes não usavam gomina”, diz, por exemplo, um conhecido tango da década de 30

- Tráfico ilegal de armas: Este tópico não merece nem sequer um comentário: é decididamente arcaico.

- Degradação do meio ambiente: É também um fenômeno de velha data que, claramente desde os anos 70, foi percebido como um problema gravíssimo, dando origem a movimentos ambientalistas e partidos políticos “verdes”.

- Fundamentalismo religioso: Data, também, dos anos 70, quando é ativado devido à revolução iraniana encabeçada pelo ayatola Khomeini.

- Migracões internacionais: Para fugir de guerras ou à procura de trabalho ilegalmente, tratam-se também de problemas velhos.

- Pobreza extrema: Obviamente tão velha como o mundo.

- Crime organizado internacional: Apesar de que poderíamos assinalar velhas conexões mafiosas em nível internacional, este sim seria um problema novo.


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Ernesto López é da Universidad
Nacional de Quilmes

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>> As novas ameaças

 


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