| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 345 -27 de novembro a 3 de dezembro de 2006
Leia nesta edição
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Coli e História da Arte
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Claudio: de Clementina
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Microcápsulas
Menção honrosa
Aranhas e Bromélias
 

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Tecnologia também permite adicionar vacina
ou antibiótico ao composto sem que haja rejeição

Microcápsulas alimentam larvas de peixes

MANUEL ALVES FILHO

Izabela Alvim, menção honrosa no Prêmio Capes, no laboratório da Engenharia de Alimentos: partícula para larvas de pacu tem índice de aceitação de 93% (Foto: Antoninho Perri)Há algum tempo a ciência vem se dedicando ao desenvolvimento de nanopartículas e micropartículas que promovam o transporte e a liberação controlada de substâncias no organismo humano ou animal. Um dos objetivos, no caso dos fármacos, é reduzir as doses, tornando-as ao mesmo tempo mais eficazes no combate às doenças. Mas a técnica da encapsulação, como é chamada, não se presta apenas a esta finalidade. Em sua pesquisa de doutorado, apresentada na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp, Izabela Dutra Alvim trabalhou com a microencapsulação de compostos utilizados na alimentação de larvas de peixes. Ela testou dois tipos de partículas, sendo que ambas tiveram aceitação superior a 50% por parte dos animais, índice considerado significativo. “Uma delas alcançou um índice de aceitação de 93%”, destaca Izabela, cuja pesquisa mereceu a menção honrosa do Prêmio Capes de Teses, edição 2006.

Tecnologia contribui para reduzir custos na piscicultura

A pesquisa desenvolvida por Izabela foi orientada pelo professor Carlos Grosso e contou com a colaboração do Centro de Aqüicultura da Unesp, localizado em Jaboticabal, onde foram realizados os testes in vivo. De acordo com a autora do trabalho, a microencapsulação pode ser uma alternativa importante para a formulação de uma dieta balanceada para as larvas de peixes, sobretudo na piscicultura intensiva, normalmente desenvolvida em tanques. A pesquisadora lembra que o alimento vivo continua sendo o mais completo, mas ele traz desvantagens em relação à armazenagem, por exemplo. “Custa caro manter uma infra-estrutura adequada para a produção das artêmias e rotíferos [microorganismos aquáticos] que servem de alimento às larvas. O alimento inerte, ao contrário, permite uma padronização quanto à composição nutricional e uma maior facilidade para estocagem e manuseio”, afirma.

Um dos desafios dos cientistas, conforme Izabela, é fazer com que as micropartículas se aproximem o máximo possível das características do alimento vivo, notadamente no que se refere à capacidade nutricional. Além disso, há outros obstáculos a serem superados. O tamanho das micropartículas é um deles. Como as larvas de peixes são minúsculas – medem menos que 1 centímetro de comprimento -, a cápsula não pode ser muito avantajada, visto que não teria como ser digerida pelos animais. Em contrapartida, também não pode ser extremamente pequena, pois as larvas não a enxergariam. Além disso, é preciso fazer com que a partícula flutue numa determinada altura da coluna d’água, para que seja identificada pelos animais. Por fim, ela precisa apresentar um grau de solubilidade adequado, para que não se desfaça na água antes de ser ingerida.

No caso da pesquisa desenvolvida por Izabela, foram utilizadas larvas de pacu para os testes in vivo. Para essa espécie, as micropartículas devem medir entre 150 e 500 microns, seguindo a variação de tamanho do alimento vivo. “Eu trabalhei com partículas que variaram de 100 a 380 microns”, revela a autora da tese. Para produzi-las, a pesquisadora lançou mão de duas técnicas distintas, uma denominada spray drying e outra chamada de coacervação complexa. Por meio delas, é possível formar uma espécie de matriz em torno dos compostos, que tem dupla função: proteger e liberar de forma controlada a substância contida em seu interior, promovendo também a retenção dos componentes nutricionais, como proteínas solúveis e gordura de peixe. Essa matriz pode ser formada a partir de diversos materiais como proteínas e carboidratos. “Uma vantagem dessa tecnologia é que ela permite, por exemplo, que uma vacina ou antibiótico seja adicionado ao alimento, sem que haja rejeição por parte das larvas”, esclarece a pesquisadora.

A própria Izabela considera o resultado do seu trabalhado “promissor”. O próximo passo, de acordo com ela, é promover um ajuste na formulação, obtendo uma dieta encapsulada balanceada nutricionalmente. Atualmente, prossegue a autora da tese, já existem alimentos comerciais microencapsulados para larvas de peixes. Eles são produzidos por empresas do Japão e dos Estados Unidos, países mais avançados nesse campo da ciência. Ela lembra que o item alimentação responde por cerca da metade dos custos de produção da piscicultura intensiva. Dentro desse índice, até 75% são destinados à produção do alimento vivo. “A redução desse custo traria enormes vantagens para o setor. Poderia contribuir para o aumento da produção, o que normalmente traz impactos positivos para a taxa de emprego e para a queda do preço final do pescado”, infere a pesquisadora. Para Izabela, a menção honrosa recebida pelo seu trabalho é um reconhecimento ao esforço realizado durante quatro anos. “Estou muito contente. Creio que o prêmio também serve de incentivo aos pós-graduandos para batalharem por bons projetos”.

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