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Campinas, maio de 2001 - ANO XV - N. 162.........
     
   
 
     
 
RECICLAGEM
 


Dançando conforme a música
Família Azzoni adia sonho do conjunto de samba enquanto coleta lixo

im de tarde. O sol vai desaparecendo entre as casinhas coloridas. Alaranjado. Renunciando humildemente ao seu reinado por alguns momentos, a fim de que se cumpra o ciclo natural. Para quem está olhando de fora, a paisagem - simples - dá uma certa paz. Os carros ultrapassam sem dificuldade a carroça de lixo que está no meio de uma das ruas do centro de Barão Geraldo, a fim de chegar logo ao seu destino. Numa velocidade díspar do cenário.

É sexta-feira. Os motoristas estão ávidos pelo sossego do fim de semana. Pela folga do sábado. Do domingo. Descanso que muitas vezes foi ignorado por Agide Azzoni e seus quatro filhos, Alex, Altamir, Altair e Almir. Esquecido, para ser dedicado à coleta informal de lixo reciclável, hoje fonte de sustento de três dos cinco catadores.
Moradores de Barão Geraldo, os Azzoni - estudados pela pesquisadora Cleci Streb em sua tese de mestrado - sempre trabalharam juntos. Mas tiveram que deixar de lado - pois juram não ter abandonado ainda - o sonho de vencer como um conjunto musical. Trocaram as noites de samba nos bares de Campinas e região pelos serviços gerais, para garantir comida na mesa. Há dois anos, quando consertos hidráulicos, elétricos e pintura já não davam mais dinheiro, a família passou a coletar lixo reciclável. Por acaso. Por zelo, inicialmente.

O patriarca, Agide, aos 59 anos, começou a recolher plástico da rua só para evitar que sua casa ficasse inundada quando chovesse. “Eu tirava os objetos de plástico de perto dos bueiros, para não deixar entupir quando chovia. Guardava em casa. Até que a Fiat anunciou que ia comprar plástico para reciclar. Em quatro, cinco meses eu tinha juntado 1,6 mil quilos, recolhendo só aqui no bairro, Vila Santa Izabel”, conta.
Agide Azzoni recorda que “cresceu os olhos para o negócio”, fez as contas e decidiu abandonar os serviços gerais. Arrumou cavalo, carroça e propôs aos filhos que ajudassem. Quando a fiscalização fazia vistas grossas ao recolhimento oficial de lixo, Agide seguia os lixeiros e percorria 43 quilômetros por dia, pegando o que fosse reciclável. “Agora não dá mais. Tem fiscalização apertada”, diz.

Os cinco homens trabalhavam de sol a sol e tiravam até R$ 500 cada um. Hoje são apenas três - dois dos filhos de Agide decidiram mudar de vida. “Um está trabalhando no Rio. Está vendo se dá pra gente se arranjar com a música por lá”, diz o pai, cheio de esperança. “A vida aqui é muito difícil. O preconceito vem da minoria, mas é triste viver sob esse olhar de reprovação, como se a gente fosse vagabundo”, diz Alex, de 26 anos. A média salarial baixou para R$ 300 - o equivalente a sete ou oito carroças de lixo por dia, ou 10 toneladas de papel, nove toneladas de ferro, três toneladas de vidro, 600 quilos de metais por mês.

Alex afirma que a propaganda a favor da reciclagem deveria ser mais agressiva. “Não apenas um aviso na garrafa ou coisa assim. As indústrias poderiam fazer campanhas, pois as pessoas têm tendência a colaborar e separar o lixo. Muita gente traz material aqui em casa espontaneamente. A gente nem descansa direito, porque batem na nossa porta o tempo inteiro, até de madrugada”, comenta.

O rapaz não é contra o aumento do número de catadores no país. Diz preferir a concorrência a ver gente roubando para viver. Não liga de, muitas vezes, ser obrigado a trancar as portas de casa aos domingos e sair acompanhado dos pais, renunciando à chance de fechar novos negócios, para só assim ter o sossego do qual não pode desfrutar nos outros dias. Para só assim admirar o fim de tarde em Barão Geraldo. De fora do cenário. Apenas como espectador do singelo espetáculo. E se encher de paz. (T.F.)

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Mercado informal reúne 200 mil catadores

O Guia da Coleta Seletiva de Lixo do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre) estima que 200 mil catadores de rua, autônomos e em cooperativas, sejam responsáveis pela coleta informal de vários tipos de materiais no Brasil. O mercado comprador desses produtos vem crescendo e as próprias indústrias de reciclagem acabam optando pelo trabalho de catadores ao invés de contratar funcionários para fazer a coleta, a separação e a triagem dos resíduos. Em Campinas, até 98, estavam cadastradas pelo menos 30 empresas de compra de material reciclável. Normalmente, o catador vende os resíduos a um ferro velho maior, que repassa o lixo reciclável a uma indústria por preço mais alto.


A dissertação de mestrado de Cleci Streb, sobre coleta informal de lixo reciclável, aponta que atualmente não são mais moradores de rua os únicos a entrar no mercado informal da coleta de lixo seletivo. O estudo mostra que em Barão Geraldo a população de catadores - ao todo são 19 - é composta em 84% por homens, e 52% possuem escolaridade média. Segundo ela, hoje há quatro cooperativas de catadores de lixo reciclável em Campinas. “Ao mesmo tempo em que advogam que recolher lixo é um trabalho como outro qualquer, reclamam da condição de exclusão. Principalmente os jovens, que perderam junto com seus empregos um certo status social, além dos amigos, depois de ingressarem nessa atividade”, comenta a pesquisadora. “O fato é que esta é a única fonte de renda para 63% dos catadores em atividade no distrito de Barão Geraldo”, completa.

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As três formas de coleta seletiva de lixo sólido
domiciliar urbano adotadas em Campinas

Coleta seletiva domiciliar

Assemelha-se ao procedimento clássico de coleta comum de lixo. Porém, os veículos coletores percorrem as residências em dias e horários específicos que não coincidam com a coleta normal. Os moradores colocam os resíduos recicláveis nas calçadas, acondicionados em contêineres distintos. Esta forma de coleta abrange, segundo a pesquisa, 1/3 de Campinas. Como ela é feita principalmente nos locais de maior concentração populacional, são recolhidos seletivamente os resíduos produzidos em torno de 50% dos domicílios, de acordo com dados da Prefeitura de Campinas fornecidos à pesquisadora em 2000. O Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre) aponta para 410 mil habitantes atendidos pela coleta seletiva na cidade. A periodicidade da coleta é semanal;

Coleta seletiva em comunidade organizada

Esta modalidade pode seguir os procedimentos da coleta domiciliar ou dos pontos de entrega voluntária. Em Campinas, são atendidos 420 estabelecimentos, entre escolas, associações de bairros, prédios e repartições públicas, com periodicidade semanal por setor, o que representa 18% no peso total dos resíduos recolhidos.

Coleta seletiva em pontos de entrega voluntária

Esta forma de coleta utiliza normalmente contêineres ou pequenos depósitos, colocados em pontos fixos no município. Nos pontos de entrega voluntária, cada material deve ser colocado num recipiente específico. Estes recipientes são coloridos e acompanham padronização já estabelecida. Em Campinas, esta forma de coleta atende a 14 pontos estratégicos, com instalação de tambores, de onde são retirados diariamente os resíduos. Esse tipo de coleta é responsável por 7% do total dos resíduos sólidos passíveis de reciclagem.

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Fonte: dados fornecidos à pesquisadora pela Prefeitura de Campinas em 2000; D’Almeida e Vilhena (orgs). Lixo Municipal: manual de gerenciamento integrado. IPT/Cempre (Compromisso Empresarial para Reciclagem) São Paulo, 2000

 


 

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