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“O novo campus vai formar
profissionais não apenas para
Limeira, mas para o país todo”

Continuação da página 5

Imagens do novo campus de limeira: muitas possibilidades de expansão (Fotos: Antoninho Perri/ Luis Paulo Silva)

Jornal da Unicamp – Houve uma forte evolução de vagas da graduação no biênio 2003-2004 (cerca de 15%). Agora, com os oito novos cursos do campus de Limeira, o acréscimo é de 17%. Em sua opinião, com esses dois saltos ocorridos na primeira década do século, a Unicamp está de bom tamanho ou ainda há espaço para crescer?

Tadeu Jorge – A Unicamp ainda tem espaço para crescer. Primeiro é importante lembrar que aprovamos apenas o funcionamento de metade do projeto concebido para Limeira. Há uma outra metade para expansão futura. Estamos falando de graduação, mas num prazo muito curto também haverá pós-graduação em Limeira e, mantidos os parâmetros do modelo Unicamp, com uma evolução para um número de pós-graduandos próximo do número de alunos de graduação. Portanto, devemos esperar que quando Limeira entrar em regime nós tenhamos cerca de quatro mil estudantes de graduação e algo muito parecido de estudantes de pós. No campus de Campinas também é possível expandir com alguns investimentos básicos, lembrando que hoje nós oferecemos um terço das vagas no período noturno. O uso da infra-estrutura é otimizado quando se faz um oferecimento meio a meio. Então o campus central tem chance de expansão no noturno embora precise, para que isso aconteça, de alguns investimentos. Claro que é absolutamente fundamental, quando se pensa em expansão, preservar a qualidade das atividades já existentes, porque esse é o valor mais importante que a Unicamp tem. Expandir traz, por exemplo, a necessidade de investir em contratações, principalmente de professores, e de alguns funcionários para o período noturno. Então, sim, é possível expandir.

Jornal da Unicamp – Um grande canteiro de obras como o de Limeira lembra inevitavelmente os primórdios da Unicamp. O projeto da Unicamp, embora tenha sido fruto de um projeto filosófico de Zeferino Vaz, experimentou um crescimento físico não exatamente ordenado, levando a uma certa saturação dos espaços. Esses problemas serão evitados no novo campus?

Tadeu Jorge – O campus de Campinas também nasceu com uma infra-estrutura pensada com base num projeto inicial, mas seu desenvolvimento ao longo dos anos se deu – por dificuldades que não são difíceis de compreender – de uma forma desordenada em vários momentos. Boa parte da infra-estrutura teve de ser improvisada com acréscimos nas construções que não seguiram o projeto original. Ou seja, as diversas expansões da Unicamp, em alguns momentos, não respeitaram a filosofia do projeto inicial. Em Limeira eu acredito que não existe esse risco, porque o projeto para o campus, o projeto que pensa em mil vagas na graduação por ano e o equivalente em pós-graduação, é um projeto que com sete ou oito mil alunos levará a uma ocupação integral do campus. Não haverá muitas chances de expansões além desse projeto inicial, diferentemente de Campinas. Também não há muito como expandir agregando áreas, e não há área contigua aos 500 mil metros quadrados que possa ser incorporada ao campus. Então é um projeto que eu diria completo, pensado como um todo e completo em si mesmo.

Jornal da Unicamp – Também há o fato de que o novo campus tem uma configuração distinta, os espaços serão utilizados de forma diferente. Pode explicar isso?

Tadeu Jorge – Começa que não há circulação de carros no interior do campus, ou seja, na área física própria do ensino e da pesquisa. Os estacionamentos são todos laterais. Além disso é um campus que propicia uma integração enorme entre suas diversas áreas, ou seja, foi ecologicamente pensado e concebido para permitir que os estudantes realmente convivam, se encontrem e sejam atendidos com facilidade pelos professores e pelo sistema administrativo.

Jornal da Unicamp – Uma de suas críticas à expansão de cursos e de escolas superiores no país é a de que raramente se leva em conta a vocação de cada região no momento de serem implantados. Como Limeira se insere nesse contexto?

Tadeu Jorge – Em primeiro lugar, é evidente que há necessidade de abertura de mais vagas nas universidades públicas. A Unicamp cumpriu com esse compromisso em 2003-2004 e volta a cumpri-lo agora com o projeto de Limeira. Segundo, não basta só abrir mais vagas: é preciso saber onde e em que áreas abrir. Limeira é uma cidade extremamente bem equilibrada em suas atividades econômicas, com um segmento industrial significativo, um setor de serviços também importante e uma produção agrícola destacada. Há um equilíbrio entre essas coisas. Então faz sentido ter um campus universitário pleno, com todas as áreas do conhecimento. Esse perfil da cidade e da região está espelhado no novo campus. Considerando esse contexto, os cursos que estão propostos para Limeira são cursos que podem potencializar e ajudar em muito o desenvolvimento dessas características da cidade e da região. Por exemplo, engenharia de produção e engenharia de manufatura casam-se de uma forma eu diria praticamente perfeita com a vocação de Limeira de um pólo joalheiro e de grande concentração de indústrias eletromecânicas. Uma formação qualificada de recursos humanos nessa área é não apenas justificada mas também fundamental. Mais do que isso, a existência de pesquisa e geração de conhecimento novo nessas áreas em Limeira vai ajudar muito para que essas empresas deslanchem. Os cursos de gestão em todos os segmentos que foram contemplados, políticas públicas, empresas, agronegócios e comércio internacional também têm forte vínculo com a vocação de Limeira, que concentra parte importante da produção de suco de laranja no Estado e de outros produtos agrícolas de exportação. O agronegócio na região é uma atividade forte e profissionais competentes vão ajudar inclusive na formulação de políticas para a área em todos os níveis de governo. Depois a área de biológicas, começando com ciência do esporte e nutrição, está igualmente dentro do contexto da região. Limeira é uma cidade que tem projetos públicos na área de esportes, além de contar com projetos privados bastante significativos. Não por acaso realizamos lá, no ano passado, um importante congresso de ciência do esporte que reuniu 600 especialistas da área. O curso vai nuclear em Limeira algo que já está na vocação da cidade. Por outro lado, não podemos deixar de pensar que, por mais inserção regional que a Unicamp tenha, ela é uma universidade nacional e internacional. Ou seja, nós não vamos formar gente apenas para Limeira, mas para o país todo e certamente, com as pesquisas que ali se desenvolverão em futuro próximo, Limeira, tal como a Unicamp, estará inserida num contexto mundial.

Jornal da Unicamp – Como Piracicaba no campo da odontologia?

Tadeu Jorge – Sim, a FOP [Faculdade de Odontologia de Piracicaba] é um ótimo exemplo do que estou falando.

Jornal da Unicamp – Contudo, o impacto regional será mais evidente.

Tadeu Jorge – A abrangência do campus vai fazer com que a Unicamp se expanda, diria que para o oeste do Estado, abarcando aí uma série de cidades que têm grande potencial e que requerem apoio. Esse apoio virá da maneira mais significativa, da maneira como eu vejo, no desenvolvimento de pesquisas que geram o conhecimento novo para qualificar as atividades existentes na região, da área de serviços à indústria, da agricultura à agropecuária.

Jornal da Unicamp – No projeto de Limeira a pós-graduação mereceu um capítulo especial. Ensino, pesquisa e extensão terão em Limeira o mesmo peso que na Unicamp?

Tadeu Jorge – A filosofia definida é o modelo da Unicamp. Este não será alterado em nada em Limeira. A forma de nuclear e organizar a pesquisa tem alicerce na pós-graduação, então é natural que a gente comece pensando num programa de pós-graduação. Isso vai ajudar a sedimentar os grupos de pesquisa no novo campus. Agora, o projeto desde sua origem fala em iniciação científica, e iniciação cientifica é pesquisa também, sendo algo próprio da graduação. Certamente o modelo Unicamp que estimula convênios e parcerias com empresas, com outras instituições universitárias, prefeituras e órgãos públicos vai existir também em Limeira e com uma intensidade grande, dadas as características da região. Isso gera pesquisa que não necessariamente está vinculada à pós. Quanto à extensão, também já consta do projeto, que até prevê um laboratório que centralizará as atividades na área. Esse laboratório deverá fazer a relação do campus com a sociedade, primeiro no entorno mais imediato e, logo em seguida, com a sociedade como um todo.

Jornal da Unicamp – Várias vezes se falou que o projeto de Limeira teria uma característica de projeto experimental para Unicamp, visando o futuro da Universidade. Em que sentido?

Tadeu Jorge – Experimental no sentido de que existe ali uma concepção pedagógica nova, mas não no sentido de que vamos realizar um experimento em Limeira que pode dar certo ou errado. Temos muita segurança da proposta pedagógica que está colocada ali, uma proposta multi e interdisciplinar em que todos os cursos estão vinculados entre si, com um núcleo básico comum de disciplinas, independentemente da área e do curso, um segundo núcleo específico dentro de cada área e, mais ao final, a formação profissional especifica de cada curso. Isso propiciará uma integração e uma convivência dos alunos muito intensa, mesmo entre os cursos de áreas diferentes, mais ainda dentre os cursos da mesma área. Certamente formaremos um profissional com uma visão muito mais ampla, com uma base de conhecimento também mais abrangente. Nesse sentido Limeira é uma experiência, mas é uma experiência realizada com a segurança de que daí sairá um profissional melhor formado. Isso, acredito, poderá vir a contribuir no futuro com alguma revisão e otimização da estrutura do próprio campus de Campinas, de formação mais qualificada ainda dos nossos profissionais na graduação.

Outra questão importante, para voltar ao tema de extensão, é que o campus de Limeira nasce com essa vocação de vincular-se à sociedade de uma forma mais imediata e mais plena. Esse vínculo é um pouco diferente da forma como ele se deu em Campinas, embora o projeto original da Unicamp já contivesse uma filosofia de relação forte com as instituições e com a sociedade. Mas isso foi acontecendo aos poucos e só ganhou uma dimensão plena, digamos, nos últimos dez anos. Em Limeira pretendemos que comece na origem, com pleno equilíbrio entre as três atividades indissociáveis, que são o ensino, a pesquisa e a extensão.

“Com as pesquisas que ali se
desenvolverão, Limeira, tal como
a Unicamp, logo estará inserida
num contexto mundial”
“Temos muita segurança da
proposta pedagógica multi
e interdisciplinar, em que todos os cursos estão vinculados entre si”

Jornal da Unicamp – O campus de Limeira passa a ser uma nova unidade no conjunto das já existentes ou sua organização é diferente?

Tadeu Jorge – O campus de Limeira é uma unidade de ensino e pesquisa onde vão ser ministrados num primeiro momento oito cursos. No entanto, ele tem concepções distintas daquilo que tradicionalmente se utiliza na Universidade. Primeiro, não haverá estrutura de departamentos e aí eu falo de uma experiência pessoal que produziu resultados na unidade a que pertenço, a Faculdade de Engenharia Agrícola, que não tem departamentos já há algum tempo. Esse fato permite que os professores se integrem melhor, que as barreiras de relacionamentos sejam minimizadas e, com isso, se favoreçam a otimização e a potencialização do ensino, da pesquisa e da extensão. Por outro lado, a estrutura administrativa se dá de uma forma mais ágil. No caso especifico de Limeira, o novo campus será beneficiado pelo fato de que temos hoje um grau de informatização na Unicamp muito elevado, permitindo uma forma de trabalho em que os elétrons se movimentam mais ao invés das pessoas. Não precisaremos, por exemplo, ter uma DGRH [Diretoria Geral de Recursos Humanos] em Limeira, porque o centro da DGRH está em Campinas e a informática faz com que os procedimentos todos possam se dar on line; a mesma coisa com a DGA [Diretoria Geral de Administração], com a DAC [Diretoria Acadêmica], enfim, com qualquer estrutura administrativa da Universidade. Isso explica o fato de podermos trabalhar em Limeira com um número de funcionários que, proporcionalmente, é muito inferior ao do campus de Campinas.

Um outro detalhe que distingue o novo campus é o fato de que as coordenações de cursos, pela própria característica dos cursos que estão colocados ali, saem do padrão tradicional de um coordenador para cada curso de graduação. As coordenações serão por áreas, por exemplo: a área de gestão, que compreende quatro cursos, terá um mesmo coordenador de graduação, até porque os cursos estão integrados. Aliás, a integração será beneficiada também pelo fato de que a coordenação dentro de cada área é única.

Jornal da Unicamp – Sua gestão entrou há pouco no quarto e último ano. Vista em perspectiva, quais considera sejam as linhas mestras desse período?

Tadeu Jorge – Eu acho que aquilo que nós nos propusemos fazer, foi feito. Se pegarmos a proposta de gestão, é possível perceber ali o cumprimento de todos os pontos que foram elencados. Naturalmente falta avançar em uns, aprimorar outros e até mesmo dar início a outros. No plano das obras físicas, acho importante destacar também o Museu de Ciências, a reforma da Moradia Estudantil, várias obras que estão avançando nas unidades, como o novo prédio do Instituto de Geociências, o Teatro, que deve começar brevemente, e muitas outras obras que são importantes para as unidades de ensino e pesquisa seguirem cumprindo o seu papel. Mas não só de obras físicas se faz uma universidade. Avançou-se muito em projetos importantes como o Planejamento Estratégico, na vinculação do planejamento estratégico com o orçamento, no uso dos recursos da universidade, na consolidação do processo de avaliação institucional, que inicia agora sua segunda edição, bem como na implantação do processo de avaliação da carreira dos funcionários. Fez-se também a alteração da carreira TPCT, que é a carreira do pesquisador, um avanço importante na estrutura da Universidade. Houve também o acerto de várias pendências institucionais relevantes, como a questão da sexta-parte dos funcionários celetistas, o reconhecimento dos professores das carreiras dos colégios como efetivamente integrantes do regime estatutário, e por aí vai.

Jornal da Unicamp – Em sua gestão deu-se o retorno dos alunos ao Conselho Universitário, que há muito se abstinham de ter ali sua representação. O senhor considera isto um fato importante?

Tadeu Jorge – Muito importante. Ontem mesmo [27 de maio], na discussão sobre o campus de Limeira no Consu, os alunos tiveram uma participação notável. Numa discussão qualificada e profunda como foi aquela, em que todos tiveram a possibilidade de defender seus pontos de vista, a presença dos alunos foi essencial. Eles apresentaram questões muito pertinentes e com argumentos de grande valia.

Jornal da Unicamp – O projeto de Limeira, como antes o da própria Unicamp, leva a pensar no desenvolvimento da própria universidade brasileira. Seu surgimento tardio levou a uma grande explosão a partir da década de 1930, para atender à enorme demanda reprimida, e também a uma superação impressionante, já que hoje ela é a melhor da América Latina. No entanto, crise ainda é uma palavra recorrente nas universidades brasileiras. Como se explica isso?

Tadeu Jorge – A crise na universidade brasileira é mais uma questão de quantidade que de qualidade. Quando se sabe que temos 11% ou 12% de jovens na faixa dos 18 aos 24 anos de idade cursando escolas de nível superior no Brasil, é preciso convir que isso é muito pouco. Para ser razoável, o Brasil teria que ter o dobro disso. Quando se imagina que entre 75% a 80% desses estudantes estão matriculados em universidades privadas, o problema se mostra ainda mais grave. Nesse sentido há crise, pois fica demonstrado que a universidade pública não vem conseguindo responder à demanda da sociedade por maior oferta de vagas. Quando falamos de qualidade, aí temos de relativizar o conceito de crise. Podemos listar hoje umas 20, talvez 30 universidades brasileiras que efetivamente associam pesquisa, ensino e atividades de extensão. Algumas têm padrão internacional. A Unicamp e a USP estão entre as 200 melhores do mundo. Agora, não é razoável imaginar que vamos saltar para 25% de matrículas na universidade brasileira que é capaz de associar ensino, pesquisa e extensão. É preciso encontrar outras alternativas, sem que essas outras alternativas sejam usadas em detrimento do crescimento das universidades fortes. É preciso que os dois modelos convivam e cresçam. Então, se existe crise, ela pode ser colocada nesse contexto, o da necessidade de se dar uma resposta à demanda por oportunidades no ensino superior.

Colaborou Dulcinéia Bordignon

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