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Jornal da Unicamp - 3 a 9 de junho de 2002
Agora semanal

Saúde

Material reduz impacto ambiental da indústria têxtil
Laboratório do IQ concebe produto que pode ser reutilizado até cinco vezes

Um novo material desenvolvido no Laboratório de Química do Estado Sólido (LQES), do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, surge como alternativa mais eficiente e, possivelmente, mais econômica para o tratamento de efluentes de indústrias têxteis. Composto à base de alumínio e magnésio, o material é capaz de eliminar cerca de 98% da tintura remanescente do processo industrial que utiliza corantes reativos, contra os 50% obtidos com absorvedores convencionais, como o carvão ativo. Além de reduzir significativamente o impacto ambiental gerado por esse tipo de indústria, o material concebido no LQES tem uma vantagem extra sobre a solução tradicional: pode ser reciclado e reutilizado por pelo menos cinco vezes, sem perda da eficácia. O estudo fez parte da dissertação de mestrado de Odair Pastor Ferreira, que acaba de receber o "Prêmio UNESCO-ORCYT de Teses de Mestrado Defendidas em Instituições Acadêmicas do Mercosul Ampliado", na modalidade Química.

De acordo com o coordenador do LQES e orientador do trabalho, professor Oswaldo Luiz Alves, os resultados obtidos em laboratório foram confirmados por testes realizados em situação real, com efluentes de uma indústria têxtil da região de Campinas. "O potencial dessa nova metodologia é muito grande. Prova disso é que a Unicamp já depositou o registro de sua patente", afirma. Alves acrescenta que o material desenvolvido por seu orientado é obtido a partir da utilização de matérias-primas baratas e abundantes no Brasil. Na forma de pó, ele é misturado ao efluente industrial. Em poucas horas, conforme o docente, ocorre a absorção de 98% do corante. Empregado nas mesmas condições, o carvão ativo consegue eliminar apenas 50% .

Lançado em um rio sem o devido tratamento, o corante usado na indústria têxtil provoca um enorme impacto ambiental, uma vez que geralmente é muito solúvel em água. Segundo o autor da dissertação, o produto, que dificilmente é eliminado de forma natural, traz como conseqüência a absorção da luz solar. Isso interfere no desenvolvimento das plantas e outros organismos vivos e, conseqüentemente, na oferta de alimentos aos peixes. "No limite, o impacto pode ser ainda maior. Imagine, por exemplo, o problema que seria gerado se o corante fosse jogado num manancial menor, que deságua num maior, de onde é feita a captação de água para o abastecimento de uma população?", indaga Ferreira.

A utilização de corantes no tingimento de tecidos, explica o professor Alves, está muito relacionada à moda. De acordo com ele, em virtude das constantes mudanças nas cores das roupas, e do posterior lançamento de efluentes industriais, é possível ver cursos d'água com várias cores, ao longo de um curto período. Também nesse aspecto, ressalta o docente, o material desenvolvido no LQES leva vantagem sobre o método tradicional, pois tem a propriedade de atuar na absorção de mais de um tipo de corante, bastando para isso sofrer pequenas modificações na sua preparação.

O reaproveitamento do material, esclarece o autor do projeto, é feito por meio de um processo de decantação, o qual possibilita sua separação do efluente já tratado. Em seguida, o corante é eliminado através de decomposição térmica. "Isso causa algumas modificações no material, mas quando o colocamos novamente em contato com uma nova amostra de efluente, toda sua característica inicial é recuperada. Tal ciclo pode ser repetido pelo menos por cinco vezes, sem que haja perda de eficiência no tratamento", diz Ferreira. "Não se trata simplesmente de tirar substâncias inconvenientes de um lugar e depositá-las em outro. O aquecimento decompõe a substância responsável pela cor, permitindo a retomada do processo", acrescenta o professor Alves. Resultados preliminares de testes feitos em laboratório indicam que o material desenvolvido no LQES pode vir a ter grande eficiência também no tratamento de água potável.

Trabalhos como o que recebeu o prêmio da Unesco são realizados no LQES, segundo uma concepção cada vez mais difundida: produzir materiais concebidos para usos específicos e em sintonia com o conceito de desenvolvimento sustentável. O laboratório, conforme o professor Alves, atua com diversos tipos de materiais, entre eles cerâmicas e vidros. São materiais que podem responder a aplicações variadas, como o emprego em dispositivos fotônicos ou sensores para gases. As linhas de pesquisa contam com o financiamento de importantes organismos de fomento, dentre eles a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e o Ministério da Ciência e Tecnologia (Pronex).

O LQES participa do Instituto do Milênio de Materiais Complexos, sediado no Instituto de Química da Unicamp, desenvolvendo atividades com outros grupos do próprio IQ-Unicamp e também da USP, UFRJ e UFPE. Esta soma de esforços vai em direção a compreensão da complexidade, auto-organização, efeitos cooperativos, reconhecimento molecular, propriedades não-lineares, entre outros, que se verificam em muitos materiais. "Um exemplo disto são os chamados sistemas químicos integrados, nos quais são juntadas várias substâncias as quais, graças à sua multiplicidade, interação e integração, apresentam propriedades finais muito diferentes dos constituintes de partida, levando o sistema a executar funções específicas", esclarece o professor Alves. Para realização deste tipo de trabalho, segundo ele, o Laboratório e o IQ-Unicamp contam com uma das melhores infra-estruturas disponíveis no País. "Nosso objetivo é criar condições para que jovens talentosos possam vir a participar desta cultura, tornando-se pesquisadores aptos a ajudar o Brasil a superar problemas para os quais a Química tenha um papel importante na solução." (M.A.F.)

Página disponibiliza informações
As pesquisas e atividades desenvolvidas pelo Laboratório de Química do Estado Sólido (LQES), do Instituto de Química da Unicamp, têm um forte compromisso com a excelência acadêmica e a disseminação do saber. A afirmação é do Coordenador do LQES, professor Oswaldo Luiz Alves. Segundo ele, além de formar mão-de-obra qualificada, o laboratório está empenhado em compartilhar com a sociedade o conhecimento que gera. Entre as várias ações no âmbito de extensão, está a manutenção de uma página na internet (http://lqes.iqm.unicamp.br), que veicula inúmeras informações tanto para a comunidade científica quanto para leigos.

No endereço da página, o internauta poderá encontrar dados sobre projetos e pesquisas - em andamento ou já realizados no LQES -, relação das dissertações de mestrado e teses de doutorado, a produção científica do laboratório, artigos de opinião nacionais e internacionais (estes, para maior abrangência, traduzidos para o português), além de informações a respeito de eventos científicos, como simpósios, congressos e seminários. Poderá também assinar o Lqesnews - publicação quinzenal que traz, diretamente em link, notícias de C&T e as novidades do site. A página conta, ainda, com um fórum de discussões e disponibiliza uma seção chamada "LQES responde", por meio da qual o Laboratório auxilia no esclarecimento de inúmeras dúvidas dos usuários. Nessa seção, o interessado irá encontrar, por exemplo, um Glossário, que o ajudará na compreensão de vários termos técnicos da cadeia de conhecimentos da Química, em particular no que diz respeito ao estado sólido e materiais.