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Campinas, junho de 2001 - ANO XV - N. 163.........
     
   
 

Carta à doutora

M.N. precisa concentrar-se para apanhar um copo, que vira e mexe lhe cai das mãos. Pede ajuda para lavar os cabelos, e o banho, antes um prazer, agora traz apreensão, pois os movimentos para se ensaboar geralmente vêm seguidos de forte crise de dor. Nem sempre consegue regar suas plantas, outro diletantismo proibido. Agradece se alguém fatia seu bife. Não se esquece de dar comida aos peixes, mas se fossem gatos, não poderia acariciá-los porque a lesão nos dedos impede movimentos finos.
M.N. evita passear nas ruas: é constrangedor ter de explicar a todos para que servem as talas amparando seus braços; e os braços imobilizados a denunciam como vítima fácil aos assaltantes. Raramente vai ao cinema, a hora e meia na poltrona torna as dores inevitáveis. Pelo mesmo motivo, reluta em sair com amigos, temendo estragar a festa.

Mesmo quando menos intensa, a dor é insuportável, porque constante. Um minuto sem dor, que seja, é o sonho acalentado. Para enfrentar a crise, M.N. toma medicamentos à base de morfina, além de outros para conseguir dormir. E não encontra remédio para a dor da alma, fruto da incompreensão dos outros, insensíveis diante de um sofrimento que não enxergam. Dor aonde, minha cara, se seus membros estão inteiros, se não há feridas aparentes?

M.N. está afastada do emprego há mais de cinco anos, com LER diagnosticada em nível 4. E, apesar de todos os seus pesares, viu-se convocada pela médica perita da empresa a passar por avaliação de um psiquiatra, como se a doença pudesse ter fundo psicológico. Foi quando enviou à perita a carta abaixo:
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Doutora,

Perdir-lhe-ia a fineza de me ouvir uma confidência: fiquei perplexa com sua sugestão de que eu seja avaliada por um psiquiatra. Pois a senhora me disse a palavra amiga de que estava interessada em tornar melhor minha qualidade de vida. E minha insipiência não logra dirimir em que tal avaliação me seria útil. Por gentileza, observe o contexto.

Há cerca de cinco anos fui surpreendida pela LER. Estava no banco havia mais de treze anos, fazia uma boa carreira, era respeitada pelos colegas, gozava de um bom conceito funcional. Era competente em minha área de atuação, apreciava sê-lo, gostava muito de meu trabalho. Meu salário atendia de maneira satisfatória a meu orçamento doméstico. Havendo partido de um concurso público e caminhando apenas pelos caminhos de meu esforço, sentia-me vitoriosa.

E de repente, estava inválida. Atenha-se, por obséquio, a minha perdas. Perdi uma carreira e uma profissão. A presença no mundo de trabalho e o exercício do poder. A possibilidade concreta de um novo trabalho. A saúde, pela vigência do processo doloroso. A relativa tranqüilidade econômica de antes, pela situação nova de redução salarial. A estabilidade preexistente em meu emaranhado de laços afetivos e sociais. Afastada do universo dos que trabalham, o ser empurrada para uma posição de marginalidade.

A senhora por certo imagina a experiência difícil que vivi e continuo a viver. Em vez de por exemplo me encontrar gerindo uma agência bancária e usufruindo do bom mundo dos vitoriosos, aqui estou a lhe escrever esta carta – que se não me envilece, não chega a me enobrecer. É uma carta pedinte – no caso, pedinte de compreensão -, e sabemos bem o quão desconfortável é pedir.

Aos poucos me foi sendo oferecida uma consolação: se o mundo do trabalho me considera inválida, não o sou no que é essencial: mantenho íntegras minhas funções mentais e afetivas. Consciência, liberdade, escolhas, afeto. Se estes atributos não são apreciados no mercado de trabalho, nem por isso deixam de ser a excelência da pessoa humana.
Em tal contexto, veja a doutora onde incide a avaliação psiquiátrica que se me sugere. Nem mesmo a higidez mental ter-me-ia sido preservada.

Ousaria lembrar à doutora que possui três boas fontes para a avaliação de minhas condições mentais. Meus prontuários funcional, médico e social. Nele estarão por certo registradas as ocorrências que me dizem respeito. Se em algum deles houver indícios de insanidade, a senhora os encontrará. Pois, como naturalmente é de seu conhecimento, não há distúrbios mentais graves que não se reflitam no ambiente de trabalho, e com intercorrências de saúde e sociais.

O que lhe peço, de maneira sincera e franca, é que se empenhe em se ater ao conjunto de minha vida. E que, como me disse na conversa que tivemos, busque me ajudar a efetivamente melhorar minha qualidade de vida. Nem que seja me poupando das incontáveis grosserias que se me dirigiram nestes cinco anos de afastamento. Ou dos incontáveis exames subsdiários. Ou de situações constrangedoras, como a atual.

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Ergonomia: adaptação do homem ao
ambiente de trabalho e vice-versa

Ao realizar uma consultoria sobre equipamentos e ambiente de trabalho para uma empresa do Vale do Paraíba, o médico Luiz Fernando Macatti, antes de se apresentar ao operário, foi perguntando: “Há quanto tempo você sente dores no pescoço?”. O trabalhador se surpreendeu: “Como o senhor sabe?”. Óbvio, segundo o especialista: “Ele trabalhava em uma bancada de 1,10m, quando a sua altura era de 1,92m. Ele tinha que sentir dor”.

Ergonomia. “Ergo” significa trabalho; “nomos”, regras. Regras para se organizar o trabalho. Um conjunto de tecnologias que busca a adaptação confortável e produtiva entre o ser humano e seu trabalho ou, falando inversamente, busca adaptar as condições de trabalho às características do ser humano.

Ergonomia abrange a compatibilidade de equipamentos (bancadas e cadeiras à altura, tesouras com molas, almofadas para os cotovelos, canto de mesas arredondado), ritmo de trabalho (redução da força na tarefa, revezamento de funcionários, controle quantitativo e de repetividade de movimentos, descansos periódicos no dia-a-dia de labuta) e particularidades pessoais (massa muscular pequena em relação ao esforço, insegurança, tensão, dificuldades de inter-relação, distonia neurovegetativa, desprazer nas funções que exerce). São os fatores pessoais, biomecânicos e de organização do trabalho que influenciam à DORT.

Incisivo nesta questão da ergonomia, Macatti ensina que ela deve ser uma preocupação também nas residências: altura da pia da cozinha, da fechadura de armários, desenhos do sofá, cama, tanque de lavar roupas, do banco do automóvel. O teclado do microcomputador, de acordo com o especialista, já nos obriga a movimentos incorretos: o normal seria dedilharmos na vertical, como se tocássemos uma sanfona: na horizontal, sobre a escrivaninha, estamos tencionando o pulso.

“Quando carregamos nosso filho, o fazemos apenas com o braço esquerdo ou direito, é característico, ninguém muda de braço. Quando lemos um livro depois de uma jornada de trabalho, às vezes ele cai no rosto porque seu peso cansa; ou lemos junto ao abajur, deitados de lado, posição ainda menos confortável”, exemplifica.

 

 

 
 
 

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