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Jornal da Unicamp - Fevereiro de 2000

Página 12

Pesquisa
Botânica x câncer

CPQBA estuda extratos que  inibem células  tumorais in vitro

PAULO C. NASCIMENTO

No início dos anos 70, botânicos norte-americanos descobriram que substância extraída do teixo, árvore nativa da região norte dos Estados Unidos, tinha excelentes propriedades anticancerígenas. Aprimoradas ao longo de quase duas décadas, as pesquisas laboratoriais desenvolvidas a partir da descoberta permitiram extrair da planta um eficaz medicamento para combate ao câncer de mama e de ovário. Pouco antes, nos anos 60, a medicina também encontrou em outro vegetal, na vinca, cultivado na ilha de Madagascar (África), a fonte de um remédio contra a leucemia. Princípios ativos extraídos de plantas têm possibilitado em escala cada vez maior o desenvolvimento de drogas antitumorais e tornaram-se aliados decisivos na guerra sem tréguas travada por laboratórios e institutos de pesquisa pela descoberta de novas drogas contra o câncer. Há cinco anos, a Unicamp inseriu-se na trincheira de luta e vem contribuindo, por meio de seu Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA), à capacitação do Brasil no campo da botânica farmacêutica.

O CPQBA desenvolve programa sistemático para aquisição e seleção de extratos vegetais de plantas da Amazônia e do cerrado do Estado de São Paulo, capazes de inibir o crescimento de células tumorais humanas in vitro. Esse tipo de estudo é considerado o primeiro passo para a descoberta de novas drogas contra o câncer, e sobre ele debruça-se uma equipe multidisciplinar formada por botânicos, agrônomos, químicos e farmacologistas da Universidade, empenhada em descobrir novas substâncias com atividade antitumoral.

"Embora os resultados ainda não demonstrem a real eficácia dos extratos analisados no combate ao câncer, a pesquisa tem o mérito de dar a cientistas brasileiros a oportunidade de experimentar as potencialidades da flora brasileira como fonte de novos quimioterápicos", argumenta o biomédico João Ernesto de Carvalho, coordenador da Divisão de Farmacologia e Toxicologia do CPQBA. "E elas são enormes", salienta o pesquisador.

Receituário popular – Estima-se que no Brasil existam mais de 50 mil diferentes espécies de plantas. As florestas úmidas brasileiras são ricos mananciais dessa flora e possuem a maior biodiversidade conhecida e ainda a ser estudada do planeta, sendo declarada pela ONU como uma das áreas emergenciais para a conservação. É que, embora vastos, os recursos não são inesgotáveis e têm sido consumidos por desmatamento, queimadas, poluição, expansão irracional da agricultura e assentamento de populações, tanto na Amazônia quanto no cerrado. Esse é outro motivo que evidencia a importância e a premência de pesquisas como as desenvolvidas nos laboratórios do CPQBA.

O projeto conta com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), da Fundação Rockwell Fumagalli e com verba obtida pela prestação de serviços do próprio CPQBA, num investimento da ordem da R$ 500 mil.

Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) coletaram, identificaram e produziram extratos de 22 diferentes espécies de plantas da região amazônica e os enviaram ao CPQBA. Já as plantas do cerrado, em número idêntico de espécies, foram colhidas em uma reserva na região de Mogi-Guaçu (SP) e identificadas pelos botânicos Maria do Carmo do Amaral e Volker Bittrich, do Instituto de Biologia da Unicamp. Os extratos foram obtidos na planta-piloto de extração do CPQBA, em um trabalho orientado pela coordenadora da Divisão de Fitoquímica da unidade, Mary Ann Foglio. Dados encontrados na literatura científica e outros obtidos a partir do receituário popular – rico em informações sobre propriedades medicinais ou de toxicidade das plantas – auxiliaram na escolha das espécies para a pesquisa.

Testes de desempenho – Após triagem e análise de suas principais características fitoquímicas, os extratos foram aplicados em amostras de células humanas cancerígenas, cedidas pelo National Cancer Institute (NCI), dos EUA, a mais importante instituição dedicada ao descobrimento e aperfeiçoamento de novas drogas antitumorais. O objetivo foi verificar a capacidade de diferentes princípios ativos em conter a proliferação das células obtidas de oito tipos de tumores humanos: pulmão, mama, cólon, pele (melanoma), rim, próstata, ovário e leucemia. Realizados no Laboratório de Cultura de Células Tumorais Humanas do CPQBA, os testes apresentaram resultados mais promissores com as plantas do cerrado em comparação com as da Amazônia, revela Carvalho.

Até que as substâncias testadas in vitro se transformem ou não em novos compostos contra o câncer – e isso raramente ocorre em menos de dez anos – são necessários ainda outros experimentos. Um deles, para o qual o CPQBA começa a se preparar, consiste em testar o desempenho dos princípios ativos em células humanas cancerígenas injetadas em animais imunodeficientes. A imunodeficiência das cobaias possibilita a manifestação do tumor como em um organismo humano, o que proporciona dados mais consistentes aos cientistas.

Para tanto, além de ampliar as atuais instalações, o CPQBA, por meio da Divisão de Agrotecnologia, pretende cultivar, inicialmente em estufas e depois no campo experimental, as espécies vegetais com princípios ativos mais eficientes no combate ao câncer. Os testes em animais exigem a produção de extratos em maior escala, e a medida, explica Mary Ann, daria ao centro maior autonomia na coleta e manipulação dos vegetais. O projeto deverá contar com financiamento da Fapesp. "Queremos que o CPQBA seja um centro nacional de referência nessa linha de pesquisa", afirma Carvalho.


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