Unicamp Hoje - O seu canal da Noticia
navegação

>>SOCIEDADE

As colheitadeiras e os trabalhadores do campo
Professores falam aos jovens do MST sobre a dura
realidade para quem vai tirar da terra o seu sustento


CARLOS TIDEI

A tecnologia agrícola diminuiu drasticamente a dependência da agricultura frente à natureza. A introdução de máquinas e técnicas de biotecnologia aumentou a produtividade no campo e reduziu o número de trabalhadores. Essa é a dura realidade a ser enfrentada pelos jovens que têm na terra sua futura ocupação e sustento. “Uma colheitadeira de cana substitui 300 pessoas. As sementes melhoradas, adubos e inseticidas promovem um aumento na produção que reflete diretamente na competitividade de mercado”, esclarece o professor Luis Carlos Guedes Pinto.

Guedes foi responsável, juntamente com o professor Ricardo Antunes, pelo módulo “Mudanças atuais no mundo do trabalho (agrícola e industrial)” no curso para jovens sem terra. Tiveram a missão de esclarecer aos estudantes que a situação agrícola brasileira exige muita luta para ser transformada. “A realidade não será transformada em um passe de mágica. As mudanças dependem de nós, e para conquistá-las temos que agir organizadamente”, alerta o professor.

Segundo ele, o MST é hoje a força social melhor organizada e tem o papel central na implantação da reforma agrária, medida indispensável para resolver os problemas brasileiros. Os avanços tecnológicos não beneficiaram o trabalhador, que está perdendo espaço no campo, onde continua a concentração de pessoas pobres. “O trabalhador rural não tem estabilidade e a lei trabalhista não é aplicada, é contra tudo isso que temos de lutar”, conclui.

Produção destrutiva – Ricardo Antunes desenhou uma situação não menos preocupante para os jovens. “Vivemos num mundo onde a humanidade não conta. A sociedade capitalista tem a lógica da produção destrutiva, onde só importa produzir mais para vender e enriquecer”, afirma. Depois de revelar um panorama mundial onde existem 260 milhões de desempregados, e o fechamento gradativo de postos de trabalho em vários setores da economia brasileira (como o metalúrgico e bancário), Antunes destacou que muitos dos desempregados são qualificados, e mesmo assim não estão inseridos no mercado.

Segundo o professor, os movimentos operários ganharam força na década de 60, mas com a crise da década de 70 as empresas reagiram e chegaram a afirmar que quebrariam a espinha dorsal dos trabalhadores, e realmente o fizeram.

“Implantaram novas técnicas de gestão e produção, onde o trabalho humano foi colocado em segundo plano. Houve uma liofilização organizacional”, afirma. Como exemplo citou a economia americana: “Há dez anos a General Motors era a maior empregadora dos EUA, com 400 mil funcionários. Hoje o maior empregador se chama Man Power, uma empresa de agenciamento de empregos que explora a mão-de-obra barata e não garante benefícios sociais.”

---------------------------------------------

Mudando o quadro de exploração

O senador Eduardo Suplicy, presente ao encontro na Unicamp com jovens do MST, criticou duramente a Justiça brasileira e as decisões que beneficiam os ricos e prejudicam os pobres. “Enquanto os trabalhadores sem terra estão sendo presos por lutarem para trabalhar, os banqueiros do Banco Nacional estão sendo soltos depois de desviarem bilhões do povo brasileiro”, protestou, citando alguns episódios com trabalhadores rurais.

“Em Ágates, cinco trabalhadores do MST foram detidos. No Pará, os trabalhadores que ocuparam a fazenda de Jader Barbalho acabaram desalojados e vinte companheiros presos. Em Paulicéia, ocupantes de outra fazenda, onde já trabalhavam há alguns anos, foram expulsos pela polícia, enquanto o Incra admitia que o governo demorou em fazer a desapropriação. Em contraste, por decisão do STF, houve a libertação de seis pessoas do Banco Nacional que enriqueceram com o dinheiro que não é deles. Por terem advogados bem pagos, os diretores do banco estão em liberdade”, criticou.

Segundo o senador, é possível criar instrumentos de política econômica que permitam mudar o quadro de exploração no Brasil. “Os instrumentos para uma melhor distribuição de renda estão na reforma agrária, no orçamento participativo, no acesso aos meios de produção, do crédito, da educação pública em todos os níveis, da saúde pública e, sobretudo, na renda mínima que garanta a cidadania”, detalhou.

Povo no governo – A prefeita de Campinas, Izalene Tiene, transmitiu boas e más notícias para os jovens sem terra reunidos na Unicamp. As boas dão conta de que, no município, 53% das terras ainda pertencem à área rural e que grupos de desenvolvimento rural sustentado estimulam a produção de produtos orgânicos, que deverá ser destinada à merenda escolar. “Estamos ‘desterceirizando’ a merenda para dar oportunidade aos agricultores de vender sua produção, mais saudável”, garantiu. Em parceria com a Ceasa, um programa de melhor aproveitamento e distribuição dos alimentos, com maior segurança alimentar, integra o projeto.

As más notícias são de que a cidade tornou-se proibitiva para os jovens do campo. “Já conhecemos as conseqüências do abandono do meio rural, com jovens seduzidos pelo narcotráfico e vivendo em condições miseráveis na cidade. Precisamos de vocês para reverter essa realidade. Precisamos mantê-los no campo porque a cidade não tem espaço para vocês”, alertou.

Portas abertas – José Machado, prefeito de Piracicaba, afirmou em sua palestra que a Unicamp está assumindo o compromisso com a luta social no Brasil ao abrir as portas para os sem terra. “É possível combinar as gestões e as lutas sociais do nosso povo. O MST é o mais importante movimento social no Brasil, pela luta por reforma agrária”, destacou. Machado lembrou que inúmeros movimentos vêm se somar a esse – como o dos ambientalistas, dos negros, das mulheres, dos idosos – e que essa luta combinada levou o PT ao poder em cidades importantes como Campinas, Santo André, Diadema, Araraquara, São Carlos e São Paulo.

“Não é fácil construir um governo democrático e popular, porque infelizmente a maioria do nosso povo é alienada. Neste ano teremos eleições para governadores e presidente, além de parlamentares, e é importante que os candidatos sejam comprometidos com governos populares, com a melhoria da distribuição de renda e criação de mais oportunidades para os trabalhadores”, pregou o prefeito de Piracicaba.

------------------------------------------------

O grande acampamento
‘2002 vai ser um ano de ocupações’
Grilos e grilagens

 

© 1994-2002 Universidade Estadual de Campinas
Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP
E-mail:
imprensa@unicamp.br