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Energias de vanguarda
Produção de eletricidade utilizando a força dos ventos
é a que mais cresce entre as fontes alternativas


Carlos Tidei

Vento, luz solar e plantas são as fontes de energia listadas como promissoras para um futuro sustentável. Atualmente, a que mais cresce, na ordem de 30% ao ano, é a energia eólica, que produz eletricidade com a força dos ventos. A biomassa também aumenta consideravelmente, apostando-se no desenvolvimento da célula de combustível. A fotovoltaica e a heliotérmica, que usam a luz e calor do sol, têm aproveitamento modesto por enquanto, mas devem ser as principais fontes no próximo século.

No Brasil, a energia eólica apresentará um salto inigualável, estimando-se um crescimento na produção dos 20 MW instalados atualmente, para mais de 4.000 MW nos próximos anos. Isto por força da implantação de políticas governamentais de incentivo, entre elas a Pró-Eólica, que prevê a instalação de 1.050 MW até 2003; a Proinfra, com planos de 3.300 MW em todas as fontes renováveis; e dois pacotes aprovados pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) em dezembro, da ordem de 3.500 MW de capacidade instalada.

Os dados foram divulgados por Everaldo Feitosa, do Centro Brasileiro de Energia Eólica, durante a conferência “Sustentabilidade na geração e uso de energia no Brasil: os próximos 20 Anos”. Segundo Feitosa, o Brasil possui características excelentes de qualidade dos ventos em algumas regiões, como constância e direção uniformes, é um fator favorável para utilização do potencial eólico. “Os mesmos sistemas instalados na Europa, se adotados no aqui, proporcionam um rendimento 10% maior”, garante.

“É um sistema perfeito, que independe de instabilidades políticas e de mercado, e que pode ser instalado em curto prazo”, acrescenta. A média de tempo para instalação do equipamento é de nove meses, contra dois anos para a termoelétrica e até de décadas para a hidrelétrica.

Outras vantagens são a vida útil do equipamento, de 20 anos, e a participação da indústria nacional na fabricação desse material e na sua instalação. “Temos a tecnologia de plataformas em alto mar e de guindastes. Atualmente existem usinas de grande porte, cujos componentes são fabricados no Brasil”, destaca. Feitosa informa que o país possui jazidas de ventos com potencial superior a 70.000 MW e prevê o aproveitamento de 12.000 MW até o ano 2010.

Ele defende, também, maior atenção a sistemas isolados em áreas remotas, que atualmente utilizam diesel como fonte para gerar eletricidade. Prega a integração de energia solar e eólica em usinas de pequeno porte, proporcionando autonomia. E cita o exemplo da usina de Fernando de Noronha, funcionando desde agosto de 2001, que é operada via satélite a partir do continente.

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Tecnologia heliotérmica

Naum Fraidenraich, da Universidade Federal de Pernambuco, destaca que os recursos ilimitados da tecnologia heliotérmica fascinam as pessoas. O potencial é significativo em termos nacionais, mas não há investimentos importantes nessa tecnologia, com a ciência caminhando a passos lentos para viabilizá-la. “Existem milhares de patentes de coletores térmicos no mundo, mas poucas são viáveis comercialmente. São poucas e limitadas”, afirma.

A conversão heliotermelétrica funciona com vapor de água em caldeiras para movimentar o gerador, e pode constituir sistema híbrido através da queima de biomassa. Uma experiência no deserto de Mojave, na Califórnia, produz 254 MW, correspondente a 90% desse tipo de energia no mundo. “Em 2020, contribuirá com 22% da energia total consumida”, calcula Fraidenraich.

No Brasil, o uso mais popular, que tem crescido acentuadamente, é em coletores residenciais para aquecimento de água, que proporciona uma economia de consumo de 26%. A iniciativa nasceu em 1974. A partir de 80, cresceu o mercado e, em 99, o Brasil já possuía 244 mil metros quadrados de coletores; na Alemanha eram 366 mil e, na Europa toda, 814 mil. Atualmente, em vendas acumuladas, Brasil e Alemanha possuem mais de 2 milhões de metros quadrados.

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Luz no Campo

Apesar de a quebra do monopólio de produção de energia garantir maior oferta no mercado, a universalização do acesso a ela no País é restrita, pelo fato de o investimento ser bancado pela iniciativa privada, nem sempre havendo interesse econômico em levar o benefício ao campo. Atualmente, 80% da população vivem em área urbana e 20% na área rural. Sem acesso a energia existem de 4 milhões a 5 milhões de domicílios, ou 20 milhões de pessoas, a maioria em regiões remotas.

Marcello Poppe, do MME, destaca a atuação do programa “Luz no Campo”, do Prodem, que em dois anos praticamente dobrou o acesso à energia elétrica no meio rural. Estão sendo distribuídos 9 mil kits de eletrificação até 2003, visando contemplar pequenas comunidades que somam mais de 100 mil pessoas sem energia. Os kits contam com painéis de energia solar fotovoltaica, combinados com geradores a diesel, que garantem autonomia de fornecimento em áreas distantes.

“Recentemente as concessionárias lançaram serviços de recenseamento de domicílios não atendidos por energia elétrica. Isso revela uma mudança na cultura e também da sociedade”, afirma Poppe.

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O potencial da cana

Um segmento da agroindústria brasileira está conseguindo uma produção de 300 milhões de toneladas ao ano, ou 24% da produção mundial, sendo metade para etanol. Isto em pouco mais de 1% da terra arável, com 324 usinas. O setor acaba de obter ganho de produtividade, atingindo o menor custo do mundo no período de 20 anos. Os dados foram fornecidos pelo professor Isaías Macedo, assessor da Reitoria da Unicamp, para demonstrar o potencial do álcool como fonte energética.
Atualmente, existem 60 mil produtores de cana independentes, que precisam se preocupar com os impactos ambientais da atividade e aumentar a eficiência dos resíduos. Uma tonelada de cana gera 140 kg de bagaço, 140 kg de palha (geralmente queimada e perdida no campo) e 150 kg de açúcar.

O bagaço pode ser usado para gaseificação, assim como a palha. Algumas usinas aproveitam o bagaço para geração de energia própria, mas existe um potencial de 7 GW que pode ser exportado para o sistema e que não é utilizado. A emissão de gases proveniente da queima da palha – já proibida, mas ainda uma prática comum – corresponde a 10% de todas as emissões fósseis no Brasil.

Na produção de etanol, um dos desafios é eliminar aditivos com chumbo. O custo de produção está em US$ 0,18, enquanto o da gasolina é de US$ 0,21, e deve cair nos próximos cinco anos. A agroindústria da cana gerou, em 1997, 650 mil empregos diretos e 930 mil indiretos. “Enquanto a produção de petróleo gera um emprego, a de etanol oferece 150”, afirma Macedo.

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Lei amplia silvicultura

A lei de incentivo fiscal para o reflorestamento ampliou a silvicultura no Brasil. Foram desenvolvidos sistemas de cultivo mais eficientes, com maior proteção do solo, tais como a manutenção da capina manual que demanda grande mão-de-obra, o consórcio de leguminosas que mantém os nutrientes do solo, e o controle biológico das formigas e insetos.
Mas o uso de biomassa do eucalipto para energia ainda não existe no Brasil, informa Laércio Couto, da Universidade Federal de Viçosa. “Vemos somente produção de carvão para siderúrgicas e resíduos para co-geração, além de algumas tentativas de produção de álcool”, lamenta. Segundo ele, a atividade gera 700 mil empregos diretos e 2 milhões indiretos.

O programa de fomento florestal estimula o consórcio com culturas agrícolas. Elas são atraentes porque reduzem o desmatamento e protegem a fauna, a flora e os recursos hídricos. A lei manda preservar 10% da propriedade com mata nativa.

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