Um legado para a próxima geração

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A viagem de ônibus de São Paulo a João Pessoa levava quase três dias, uma distância de quase 3 mil quilômetros pelas estradas do Brasil dos anos de 1970. Mas, ao lado do pai, o botânico Aylthon Brandão Joly, cada palmo de chão rodado valia para ele uma vida. No trajeto, o adolescente Carlos Alfredo Joly aprendia sobre a vegetação que passava como um filme na janela. Aprendia com o pai o que era o Cerrado, o que era a Caatinga, por que as plantas e a fauna variavam tanto. Aquele foi um presente inesquecível para seu aniversário de 15 anos.

Joly pai tinha medo de subir em avião. Preferia os pés na terra e no mar. A família construiu uma pequena casa em Ubatuba e lá, nas férias, todos viviam uma vida de caiçara. Aylthon Brandão Joly era taxonomista e especialista em algas marinhas. Foi um dos fundadores do Departamento de Botânica da Unicamp (hoje incorporado ao Departamento de Biologia Vegetal). Fez carreira como professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e morreu cedo demais, aos 50 anos.

Joly filho fazia faculdade onde o pai era docente. Aprendeu com ele a respeitar toda e qualquer forma de vida. Estava certo do caminho que deveria seguir. Mas, nessa época, o movimento estudantil também ocupava seu tempo. Não dava para fechar os olhos diante da barbárie, e o desempenho na faculdade acabou ficando para trás. Quando o pai se foi, decidiu que iria se formar o mais rápido possível.

A Unicamp seria seu destino. Carlos Alfredo Joly chegou para o mestrado e logo se tornou professor. Foi para a Escócia no doutorado trabalhando com ecofisiologia, entendendo cada dia mais como os organismos se transformam de acordo com as mudanças ambientais. Já doutor, aos finais de semana repetia os passos do pai e levava os alunos para a Mata Santa Genebra, para a Serra do Japi. Investia no mapeamento de áreas degradadas, em estudos para sua preservação e recuperação. 

Em 1985 foi convidado a desenvolver o projeto de restauração da mata ciliar do Rio Jacaré-Pepira, na região de Brotas, no interior paulista. Tratava-se de dois trabalhos distintos: entender como plantar, como escolher as espécies e como restaurar a floresta; aliado a isso, convencer a população, os donos das áreas degradadas sobre a necessidade da restauração. Não tinha folga. Aos sábados, na cidade, gravava um programa de rádio junto com seus alunos para conscientizar a população sobre a importância do trabalho de preservação. Foram dez anos de atividade. Uma década decisiva que mudou o eixo ecológico daquela bacia: da atividade agropecuária para o turismo de aventura. O projeto ganhou reconhecimento internacional, e Joly aprendeu fazendo.

“Eu aprendi relativamente cedo que, para você poder ter uma atuação na interface entre ciência e política, você tem que ser reconhecido como cientista. Investi na minha carreira acadêmica ao mesmo tempo em que atuava na política de conservação.”

Desde que ajudou a reestruturar o Curso de Pós-Graduação em  Ecologia da Unicamp, o pesquisador entendeu que, para as coisas funcionarem de verdade, seria preciso se envolver em várias frentes. Na política, aliou-se ao então deputado federal Fabio Feldman e ajudou a criar o capítulo sobre o meio ambiente da Constituição Federal de 1988.

Feldman ocupou o cargo de secretário estadual de Meio Ambiente na gestão de Mário Covas (1995/2001). Joly recebeu o encargo de montar o Programa Estadual para a Conservação da Biodiversidade (Probio). O problema era convencer mais pesquisadores a desenvolver ciência nas áreas em que havia lacunas, e isso por causa da falta de garantias sobre a continuidade do trabalho. Joly também esteve na coordenação do setor de Ciências Biológicas da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e conseguiu, junto com o parceiro Naércio Menezes, articular a comunidade científica em torno da necessidade de se trabalhar em rede. Aí nasceu o Programa Fapesp de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade (Biota-Fapesp) e “muitos resultados foram virando legislação”.

Em 2011 ingressou no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e participou da criação da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês), mantida com a ajuda da Organização das Nações Unidas (ONU). Os prêmios foram se acumulando. Recebeu, em 2022, o título de Professor Emérito da Unicamp. Em julho de 2023, foi condecorado com a Ordem Nacional do Mérito Científico, na classe de grã-cruz, homenagem concedida pelo governo federal. 

Ainda em 2023, a Fapesp, no âmbito do Biota, fez uma homenagem ao professor. “Uma carreira dedicada ao estudo da Biodiversidade. O impacto internacional da atuação do Prof. Carlos Joly” e “O papel do Prof. Carlos Joly na promoção da pesquisa em biodiversidade em São Paulo” eram os títulos das mesas-redondas.

Para o cientista, as premiações significam um reconhecimento pelo fato de sua atuação, nas questões do meio ambiente, ser mais abrangente. Joly ganhou o Prêmio Muriqui, que reconhece a promoção do desenvolvimento sustentável nas áreas de Mata Atlântica, em 2012, e o Prêmio Zeferino Vaz, em 2014, ambos reputados por ele como “muito especiais”.  Porque, para Joly, a Mata Atlântica e a Unicamp sempre foram sua segunda casa.

No programa Memória Científica, realizado pela Secretaria Executiva de Comunicação (SEC), o professor conta todas essas histórias. Um legado que já está aí para a próxima geração que ele imaginava favorecer quando começou a trabalhar com a conservação do meio ambiente. 

Assista ao programa:

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Carlos Alfredo Joly chegou para o mestrado na Unicamp e logo se tornou professor

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