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Sistema monitora a produtividade da cana-de-açúcar

Tecnologia desenvolvida na Unicamp vem sendo implementada em usinas da América Latina

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Pesquisadores da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp desenvolveram um sistema que, ao ser instalado em colhedoras de cana-de-açúcar, possibilita criar mapas de produtividade e visualizar a variabilidade espacial da produção. A tecnologia, cujo foco é a Agricultura de Precisão (AP), baseia-se em células de carga e se constitui no primeiro monitor de produtividade para cultura de cana-de-açúcar lançado comercialmente no mundo. O sistema foi licenciado pela Enalta, empresa que atua no mercado de automação agrícola, e é capaz de atualizar a massa de cana colhida em tempo real, uma vez que permite a tabulação de dados a cada cinco segundos.

“Conseguimos identificar áreas de maior e menor produtividade, além de fazer uma gestão do manejo para tentar melhorar a produtividade. Os mapas de produtividade são o princípio da agricultura de precisão”, afirma Cléber Manzoni, diretor da Enalta.  “Os mapas de produtividade são uma fonte de informação importante para os agricultores que desejam gerenciar suas propriedades, considerando a variabilidade natural da área, definir zonas de manejo ou ambientes de produção”, defende o professor Paulo Graziano, responsável pelo desenvolvimento do sistema.

Graziano conta que mapas de produtividade ainda não são amplamente utilizados no manejo da cana-de-açúcar no país. “Esta forma de gerenciamento das culturas ainda não é fortemente adotada pelos produtores de cana no Brasil, diferentemente do que ocorre na Colômbia, América Central ou Austrália”, compara o docente.

Foto: Perri
O professor Paulo Graziano, responsável pelo desenvolvimento do sistema

Justamente por isso, Manzoni revela que a tecnologia já está sendo implementada e utilizada por usinas de cana-de-açúcar localizadas em países da América Central e do Sul, onde há uma grande demanda por mecanismos que ajudem a identificar os locais de maior produtividade da cana dentro de um talhão por exemplo. “Quase 60% dos produtores de cana-de-açúcar da Colômbia já vêm utilizando o monitor de produtividade. A agricultura de precisão em cana, lá fora, tem maior demanda do que no Brasil, pois tratam-se de lugares que não conseguem aumentar a produção por extensão de área e que, por isso, precisam de garantia da produtividade agrícola naquele espaço destinado a isso.”, explica.

Ao contrário do cenário encontrado em outros países, no Brasil, há a tendência de aumentar a área de produção e não a produtividade em si. Por isso, para a tecnologia ganhar espaço no mercado nacional, Manzoni conta que a empresa já está programando melhorias para a tecnologia, no sentido de torná-la mais barata e competitiva. Ele frisa que, embora o Brasil seja o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, ainda há uma necessidade de melhorar o manejo da cultura para impulsionar a produtividade. “Produzimos quase 600 milhões de toneladas (dados referentes à safra 2016/2017), só que o nosso índice de produtividade é baixo, com uma média de, no máximo, 80 toneladas por hectare. Já em outros países, onde a produção se dá em territórios mais restritos, chega a 120 toneladas por hectare”, comenta.

O porta-voz da empresa licenciada ressalta o ineditismo do monitor desenvolvido nos laboratórios da Feagri, uma vez que há tecnologias de manejo de produção que utilizam métodos indiretos – tais como imagens via satélite, por exemplo –, mas que não alcançam o grau de precisão de um sistema onde toda a colheita é pesada e atualizada em questão de segundos. “A Enalta é uma empresa focada em cana-de-açúcar e, para este tipo de colheita, não havia no mercado um monitor de produtividade, ao contrário do que já existe, por exemplo, para agricultura de grãos”, aponta.

O coordenador de inovação da Enalta lembra ainda que a tecnologia, inicialmente, foi idealizada para colheita de batatas e adaptada para plantios de cana, de acordo com a demanda da empresa. Por isso, houve a necessidade de um trabalho em conjunto entre a Universidade e a empresa para uma adaptação às necessidades do mercado. Contudo, lembra que todo tipo de cultivo que envolve máquinas de colheita com esteiras pode utilizar a tecnologia, mediante uma adequação para a cultura desejada. 

Manzoni elogiou o suporte dado pela equipe de Parcerias da Agência de Inovação Inova Unicamp. “A Inova sempre nos acompanhou nos trâmites que envolveram a transferência de tecnologia e foi uma mediadora entre nós e a Feagri. A Inova foi uma grande facilitadora nesta parte mais burocrática”, avalia. O professor Graziano concorda com a avaliação de Manzoni. “O suporte da Inova é fundamental. Quando iniciamos o processo de patente, a Inova não existia. Acompanhamos a criação da Inova e pudemos observar o quanto o suporte dado por ela foi importante para o licenciamento e proteção da tecnologia”.

Além do professor Graziano, também participaram do desenvolvimento da tecnologia o professor Oscar Antonio Braunbeck e o então aluno de doutorado Domingos Guilherme Pelegrino Cerri.


Sobre a Enalta

Desde sua fundação, em 1999, desenvolve equipamentos e programas para gestão e otimização de todo processo operacional, soluções para automação parcial ou total das atividades e que oferecem dados precisos em tempo real para gestores, auxiliando no acompanhamento e tomada de decisões. É reconhecida como uma das principais empresas de automação agrícola, tendo destaque na implantação e gestão de processos operacionais no campo, em toda a América Latina.

 

Imagem de capa JU-online
Colheita de cana-de-açúcar na região de Ribeirão Preto | Foto: Antonio Scarpinetti

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