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Ondas de calor da menopausa são mais intensas em obesas, demonstra pesquisa

Ginecologista fez 749 entrevistas para fundamentar estudo publicado na "Menopause"

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Os fogachos, ondas de calor comuns no período da menopausa, são mais intensos nas mulheres obesas, aponta artigo publicado na revista Menopause, da Sociedade Norte-americana de Menopausa, uma das principais publicações sobre o tema. O artigo de autoria do pesquisador e ginecologista Sylvio Saccomani, e colaboradores, traz os resultados de sua dissertação de mestrado, orientada pela docente Lucia Costa-Paiva e defendida na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. O trabalho despertou interesse da mídia internacional e foi noticiado pela agência de notícias Reuters.

Foto: Perri
O ginecologista Sylvio Saccomani, autor da dissertação: “Conseguimos verificar que existe uma progressão na intensidade dos sintomas, de acordo com a variação do IMC”

O estudo avaliou os impactos das ondas de calor nas obesas, se havia repercussão nas atividades diárias como interrupção do trabalho, de lazer ou sexual “Verificamos que a mulher obesa não apenas tem mais queixas de ondas de calor, como isso traz uma piora na sua qualidade de vida, influenciando as atividades de lazer de trabalho e sexual”, afirma Saccomani. O tecido adiposo funcionaria como um isolante térmico e as mulheres obesas teriam mais dificuldade de perder calor, daí a sensação mais intensa nesse grupo.

O tema é controverso em certa medida porque também se considera no meio científico a hipótese de a obesidade “proteger” a mulher de alguns sintomas da menopausa, devido ao suposto aumento de hormônios femininos nas obesas. A tese é contestada pelos resultados publicados no artigo. “É mais um trabalho sugerindo que a teoria da piora das ondas de calor na obesidade é mais predominante hoje em dia”, realça a orientadora.

Para chegar aos dados foram feitas 749 entrevistas domiciliares na Região Metropolitana de Campinas, envolvendo 19 municípios. A quantidade de casas visitadas pelas entrevistadoras foi definida por estatísticas, levando-se em conta uma base demográfica, de acordo com setores censitários. Ficou definido que o número necessário para garantir a validação do estudo seria de 749 questionários respondidos por mulheres no período do climatério, na faixa entre 45 a 60 anos. Desse total, 206 eram obesas e 70% do número total relatou já ter sentido as ondas de calor.

Foto: Perri
A professora Lucia Costa-Paiva, orientadora da dissertação: “É mais um trabalho sugerindo que a teoria da piora das ondas de calor na obesidade é mais predominante hoje em dia”

“Conseguimos verificar que existe uma progressão na intensidade dos sintomas, de acordo com a variação do IMC. No sobrepeso, as queixas já vão piorando”, afirma o autor. O grupo de mulheres obesas também teve mais acentuados os problemas urinários e a secura vaginal. A intensidade das ondas de calor chegava a interromper atividades profissionais e sexuais bem mais que nas mulheres consideradas com peso adequado.

Os questionários, salienta Saccomani, foram elaborados de acordo com Escala de Avaliação da Menopausa (Menopause Rating Scale -MRS) validada pela comunidade científica. As mulheres, divididas pelo Índice de Massa Corpórea (IMC), responderam sobre a intensidade das ondas de calor e outros problemas associados ao climatério.

Lucia Costa-Paiva e Saccomani sugerem que os resultados do estudo podem ser aproveitados no consultório médico. “Os médicos precisam ficar atentos durante a menopausa e dar uma atenção a essa questão do peso, orientar suas pacientes em hábitos de vida para tentar diminuir não só o risco cardiovascular, mas também os sintomas da menopausa”, comenta a orientadora.

 

Imagem de capa JU-online
Lucia Costa-Paiva, orientadora da pesquisa, examina paciente no HC da Unicamp

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