Edição nº 596

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 12 de maio de 2014 a 18 de maio de 2014 – ANO 2014 – Nº 596

Telescópio


Melhor simulação da origem das galáxias

Illustris, uma simulação da evolução do universo, começando 12 milhões de anos após o Big Bang, é a primeira a conseguir reproduzir a mistura de diferentes tipos de galáxias observada na realidade, a distribuição das galáxias em aglomerados e o conteúdo de elementos químicos dentro das galáxias. O trabalho é descrito na edição da última semana da revista Nature.

O trabalho, de autoria de pesquisadores dos Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha, oferece também um modelo da interação entre a matéria comum e a chamada matéria escura que poderá ser usado para guiar as buscas por esse misterioso componente do universo.

Os autores notam, porém, que a simulação ainda apresenta problemas: por exemplo, ela revela um nascimento excessivamente rápido de pequenas galáxias, o que mostra a necessidade de modelos teóricos mais refinados para o processo de formação de estrelas.

 

Unindo o científico ao ambiental

Artigo publicado na edição de 9 de maio da revista Science pede um esforço maior para a integração das esferas de educação científica e educação ambiental, e sugere que o uso de ferramentas de tecnologia da informação pode ajudar nesse objetivo. Os autores, ligados a instituições dos EUA, Holanda, Reino Unido e Austrália, distinguem “educação científica” – o ensino de conhecimentos e métodos, principalmente para a formação de cientistas e engenheiros – de “educação ambiental” – que ensina valores e busca mudar comportamentos na população em geral – e notam que uma modalidade muitas vezes acaba operando como “parasita” da outra.

No mundo atual, porém, ambas precisam deixar de competir entre si e desenvolver uma “relação simbiótica”, escrevem, sugerindo que programas de “ciência cidadã”, em que pessoas comuns atuam ao lado de cientistas profissionais, podem oferecer a oportunidade necessária. O artigo afirma que as iniciativas de ciência cidadã frequentemente envolvem o uso de redes sociais e da internet para a coleta e disseminação de dados sobre mudanças no meio ambiente.

“A criação de sinergia entre a educação ambiental, a educação científica e a ciência cidadã baseada em tecnologia da informação e da comunicação oferece oportunidades para novas formas de educação” em que pessoas e organizações aparentemente sem relação entre si podem interagir de modo a produzir conhecimento e “tomar atitudes necessárias para tratar desafios socioecológicos”, acreditam os autores.

 

Tipo de agricultura define estilo da cultura, diz estudo

Estudos psicológicos vêm traçando algumas diferenças entre os modos ocidental e oriental de pensar – sendo o primeiro mais analítico e individualista e o segundo, mais holístico e coletivista. Há várias hipóteses sobre a causa dessa distinção, e agora um artigo publicado na edição de 9 de maio da revista Science oferece mais uma possibilidade: o tipo de agricultura tradicionalmente praticado em cada civilização – arroz no Oriente, trigo no Ocidente.

O trabalho, de autoria de pesquisadores chineses e americanos, comparou a mentalidade média de chineses do norte do país, onde predomina o plantio de trigo, e no sul, onde há mais culturas de arroz, e concluiu que os do norte são mais independentes e individualistas, enquanto que os do sul são mais interdependentes e coletivistas.

Tradicionalmente, o plantio de arroz requer uma grande coordenação entre os agricultores, para administrar os recursos hídricos e o uso de mão de obra na colheita, demandas que não existem na cultura do trigo, que permite uma ação mais individualizada. Os autores do trabalho argumentam que as mentalidades criadas dentro de cada abordagem acabam alimentando diferenças culturais mais amplas.

 

Esforço e dedicação explicam sucesso acadêmico de asiáticos

O sucesso acadêmico dos americanos de origem étnica asiática, em comparação com os americanos de origem europeia, é melhor explicado por questões culturais, como a ética de trabalho e a valorização do esforço pessoal, do que por supostas vantagens inatas, diz artigo publicado no periódico PNAS.

Ou autores, dois cientistas sociais sino-americanos, testaram as hipóteses de que a vantagem acadêmica dos asiáticos nos Estados Unidos seria causada por fatores socioeconômicos ou genéticos, mas não encontraram correlação forte nesses dois aspectos – crianças asiáticas não se saem melhor em testes gerais de inteligência do que crianças de outras etnias, por exemplo.

O artigo conclui que a principal explicação é cultural, especificamente na “crença de uma conexão entre esforço e êxito” e na tradição das comunidades de asiáticos expatriados, de oferecer apoio aos imigrantes recém-chegados, incluindo “informações vitais para navegar o sistema educacional” e “legitimação das crenças” sobre trabalho e sucesso.

 

‘Colecionadores de animais’ criam problema de saúde pública

Pesquisadores da Catalunha publicaram, no periódico Animal Welfare, o primeiro estudo europeu sobre o distúrbio mental que leva pessoas a guardar um grande número de animais – geralmente cães e gatos – em casa, mesmo sem ter condições de alimentá-los ou de manter um ambiente salubre. 

De acordo com a psiquiatra Paula Calvo, do Instituto de Pesquisa Hospital Del Mar e da Universidade Autônoma de Barcelona, o trabalho representa “o primeiro passo para o reconhecimento público desse distúrbio (...) que vem se tornando um problema sério de saúde pública”.

De acordo com nota divulgada pelo Hospital Del Mar, “atualmente, quando um caso é identificado, os animais são removidos, mas nenhuma atenção é dada ao portador do distúrbio. Essa pessoa não percebe que os animais estavam em más condições de saúde, e logo volta a colecioná-los. Muitas vezes, os animais são encontrados com sinais evidentes ou críticos de desnutrição, desidratação e infestação parasítica, doentes ou com reprodução descontrolada, tudo num espaço de muito pouca higiene”.

A análise catalã levou em conta casos reunidos por uma associação de proteção dos animais entre 2002 e 2011, além de questionários enviados a especialistas.

 

Bullying multiplica risco da presença de armas na escola

Estudo realizado nos Estados Unidos e apresentado na reunião anual das Sociedades Acadêmicas Pediátricas, realizada no Canadá, indica que estudantes do ensino médio que são vítimas de atos repetidos de bullying têm até 31 vezes mais chance de passar a portar armas na escola. Os dados foram levantados a partir de uma pesquisa com mais de 15 mil estudantes conduzida pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) do governo federal americano.

Os principais fatores de risco associados à decisão do jovem de ir armado à escola são: perder aulas por se sentir inseguro no ambiente escolar ou no caminho para a escola; ter sofrido roubo ou dando de propriedade no ambiente escolar; ter sido ameaçado ou ferido com uma arma; ter se envolvido numa briga. Estudantes submetidos a um fator de risco tinham 28% de chance de levar arma à escola; já aqueles expostos a três fatores tinham 62% de chance.

 

Nunca subestime os Neandertais 

O homem de Neandertal não era inferior, em termos tecnológicos ou de estratégias de sobrevivência, aos Homo sapiens que os substituíram no domínio da Europa há cerca de 40 mil anos e que, possivelmente, os levaram à extinção, diz estudo publicado no periódico PLoS ONE.

“Humanos modernos são comumente vistos como superiores em uma ampla gama de domínios”, escrevem os autores do trabalho, vinculados à Universidade do Colorado em Boulder e à Universidade de Leiden, na Holanda. O artigo prossegue: “Esta revisão sistemática do registro arqueológico dos neandertais e de seus contemporâneos humanos modernos não encontrou apoio para essas interpretações”.

Em seu texto, os autores apontam vários “mitos” sobre os neandertais que, segundo eles, caíram ou estão sendo duramente questionados, à medida que o registro arqueológico vem sendo estudado, incluindo de que eles não sabiam caçar; de que as armas que usavam para caçar eram menos eficientes que a dos humanos anatomicamente modernos da mesma época; de que eram incapazes de inovar; de que eram menos inteligentes.

Os autores sugerem que a extinção dos neandertais pode ter sido causada pela assimilação de suas populações no seio da comunidade dos humanos anatomicamente modernos, com o desaparecimento das características físicas mais marcantes do grupo por meio do acasalamento, e não num conflito com uma população “superior”.

 

Outro combustível, outra poluição

A adoção em massa de carros flex pelos motoristas de São Paulo, e a queda abrupta no uso de etanol nesses veículos, entre 2009 e 2011, levou a poluição por ozônio na cidade a cair em 20%, de acordo com estudo publicado no periódico Nature Geoscience. Em contrapartida, a presença de outros dois importantes poluentes – óxido nítrico e monóxido de carbono – aumentou em 26% e 18%, respectivamente. Os autores notam que “embora o uso de gasolina pareça reduzir os níveis de ozônio na região metropolitana de São Paulo, estratégias para reduzir a poluição por ozônio exigem conhecimento da química local e a consideração de outros poluentes”.